...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

a epopéia da reação alérgica numa segunda de manhã

a minha história de hoje começa assim... bem, na verdade ela começa antes de hoje, ela começa com eu voltando 4:50 da manhã pra casa tendo latente em mente que acordaria as 8 pra encontrar minha futura chefa no espaço onde vou trabalhar.
bom, 5 da manhã, 5:30 da manhã, nada do sono vir, eu tava inquieta. por uma hora eu até cheguei a cochilar, mas ainda assim um sono muito superficial, totalmente condicionado a dormir o mínimo.
7 hrs decidi levantar, hj não cheguei nem a sonhar pra ter idéia do quão leve não foi o cochilo.
bem, tudo bem então. vou viajar amanhã terça-feira e até então não tinha nada arrumado, comecei a agrupar os vestidos, as coisas de banho e tudo o mais... quando dá 8 hrs eu ponho os pães no forno e vou tomar banho.

quem me viu nos últimos 2 dias sabe que eu estou TOSTADA de sol, e minha pele está anormalmente sensível (as ditas pessoas mal podiam me encostar!). qdo saí do banho minhagente, fui lá toda prosa colocar o hidratante da victoria's secret que parece hidratar a pele bem mais que os outros que rolam no meu banheiro...
então tá, quando passou uns 5 minutos meu peito começou a ARDER, ARDER, e COÇAREARDERECOÇAR, como se uma abelha ou uma vespa tivesse me picado bem no meio dos peito só de sacanage. nossa, até eu mobilizar minha mãe e meu pai pra ir pro hospital, minha pele já tava em chaaaamas, e eu tava esganiçada chorando e gritando e querendo arrancar minha pele fora e me coçando, enfim, um verdadeiro caos dermato-psicológico...

mas isso aqui, eu adianto agora, é uma história sobre estar irritado, ou desconfortável, ou ranheta. ou qualquer coisa assim...
então o leitor deve imaginar que não é nem o começo! e imaginou certo se foi o caso, pq quando eu chego no Pronto Socorro mais vazio e underground de botafogo, tem 10 (DEZ) pessoas na frente. como esse era pra ser o hospital mais desconhecido, supus que o Copa D'Or e outros estariam ainda mais cheios (até pq findeano é danado pra dar merda!), tive que esperar né...

só que daí tem aquela história que os velhos tem prioridade, e nessas umas 4 senhoras em momentos diferentes entraram na frente de todos. nossa que raiva que dá! a velhinha toda sorridente, devia tá com uma dorzinha de cabeça, um enjôo aqui, uma nálsea suave, devia ter sonhado que estava grávida ou algo assim, e passou a frente de toooooda a sucursal de acidentados que mal cabiam em si, e dentro de suas dores, comportados mas todos expressando um mesmo inconformismo com aquelas senhoras pseudoadoentadas passando na frente.

só que reclamar disso perto do meu pai, dos velhos intocáveis (e oportunistas), é assinar um contrato pra ouvir A Voz da Verdade falando em alto e claro, defensora dos neurastênicos e dos reumáticos! sobre como o fato de eles serem velhos, e de a lei protegê-los encerra qualquer tipo de argumentação. e é claro, que sendo quem sou, eu ia ter que dar um discursinho pra pontuar aquela situação. fiquei reclamando que as leis são estúpidas porque são incondicionais e irrevogáveis, e não avaliam casos específicos, que esse é o problema da burocracia, que ela (e as leis tbm) são sempre caducas, e rígidas e descabidas! enfim... já tava puta! sei que pra aliviar o clima minha mãe resolveu fazer uma longa narrativa sobre o episódio do Law & Order de ontem de madrugada que a mulher matou o marido com 50 tiros nas costas, e que ele estuprava ela desde os 15 anos da moça, e td essa coisa que vc É CLARO queria ouvir detalhadamente enquanto espera a terceira velhinha cínicamente satisfeita passar na sua frente na sala de espera.

sabe quando vc dentro de si busca todas as orientações meditativas que o mundo te deu até então, vc escolhe conscientemente parar de absorver o blablablá ao seu redor numa tentativa desesperada de encontrar alguma paz de espírito? mas que ao mesmo tempo que vc se concentra nisso percebe que não está funcionando porque quanto mais vc tenta respirar, hmmm, aaaaah, hmmmm, aaaah, mais vc tem vontade de socar todo mundo a sua volta pq PORRA assim não dá, num tem paz nenhuma naquele lugar, nem pra fazer um pranayamazinho ali, em pé mesmo, eu me coçando toda, e ainda ouvindo agora piadas cabeludas sobre uma bicha insaciável na ilha deserta que achou uma lâmpada mágica e pediu pra ter uma rola gigante.

eu só queria ouvir meu nome ser chamado, assim, só isso. e "só isso" me levou 1h30, quando eu fui falar com o médico já tava com coceira no corpo inteiro, e com bolinhas brancas de alergia na pele.
aaah, esqueci de dizer que quando minha compressa de gelo (que tava aliviando a ardência insana no peito) ficou quente, minha mãe me comprou uma lata de coca-cola gelada pra ficar passando no peito por baixo da blusa. e todo mundo olhando, claro! enfim, isso foi só pra dar um zoom nessa parte vergonhosa da experiência.

tudo bem, essa etapa terminou. fui consultada, o médico era simpático, resolveu tudo com simplicidade. ponto.

ato 2.

na escada de entrada da Policlínica tinha uma senhora sentada com um poodle horroroso no colo, mas quem me conhece sabe que eu adoro bichos, principalmente os esquisitos (talvez por algum tipo de identificação). fiquei ali falando com a Pérola (a poodle com colar de pérolas), e depois desci.
primeiro passo fora da calçada o taxista do ponto ali em frente quase ranca o pé da minha mãe fora, assim, nada mais absurdo do que na frente de um Hospital né, mas tudo bem. sinal fecha. na segunda pista da Mão Inglesa vem um alucinado de rabo em pé numa mercedes vendo eu e meus pais no meio da rua, ele vai lá e queima o sinal a despeito dos gestos pouco cortezes que meu pai fez contra o vidro do carro.

e o mais engraçado é que quanto mais você se irrita mais o espetáculo do absurdo se mostra. a raiva é como um circuito fechado que se auto-gere, quanto mais irritado você fica, mais coisas inumanamente irritantes acontecem. é fato!

chego em casa ainda tenho que voltar ao calor infernal da rua comprar os remédios com o peito todo me coçando e uma compressa de gelo embaixo da blusa. claro que tinha que ser meio-dia né a hora que eu saí de casa pra fazer isso... eu esqueci de olhar o relógio e previsivelmente, o pior aconteceu.
a visconde de caravelas abarrotaaada, real grandeza idem. aqueles grupos de 20 superamigos do trabalho, andando quase de mão dada numa rua minúscula. adoro!
e as mulheres, que geralmente são 3x mais desligadas e prezam muito por sua fofocada da hora do intervalo, mal notam que existem outros seres que tentam gentilmente passar pela corrente-da-amizade na calçada.
acho que a única sorte que eu dei hoje foi encontrar o Spoleto aberto e sem fila.
em compensação minha salada tava mirrada e ao escrever esse texto gigantesco já preciso de mais energia do que consumi.

vou me matar lá na sala e já volto.

domingo, 27 de dezembro de 2009

auto-bibliografia sinestésica

eu sou feito a mata que vemos
queimar quieta
pela janela,
a mata que é só o sopro
que inflama ela
sou o ar abafado aqui de dentro
e a brisa acalorada lá de fora,
a queimada que infla os corpos
e alimenta a alma
a cama estala.

eu sou feito essa mata que arde
com calma
essa massa,
sou feito da sede que lambe os
móveis da casa
a brisa áspera que
roça os cômodos
e depois volta
pro nosso quarto,
de onde vem a bossa.


eu sou feito a mata
que sucumbe calada
feito a Terra que sacode,
mas não maltrata quem passa
eu sou a mata que não ri,
só revela a graça.

sábado, 26 de dezembro de 2009

ipanema

: um monte de homem crescido tentando ser macho
e um velho
magro, abatido
dormindo em cima de um capacho.

fulano atualizou Quem Sou Eu (Quem É Ele)

meu auto-conhecimento é uma piada
que eu sirvo em pratos limpos de prata
para engolir.
junto, bebo um monte de mentiras-em-lata
que servem, afinal,
para fingir;
meu auto-conhecimento
acontece para eu medir, também
se fiz evoluir!
e se o gosto de mim por mim
foi um pouquinho mais além...



(achei esse texticulo de bobeira aqui... data de novembro, a pospósito)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

fim do ano e reclamações metafísicas

o fim do ano parece abrir um portal pra que entre todo tipo de arrependimento fútil. às vezes nem tem a ver com suas "escolhas erradas", ou as vezes tem sim a ver, mas eu sempre penso que se arrepender por essas coisas é quase sempre bobagem... pena também que pensar que é bobagem não faz o sentimento parecer mais tosco, ele é bem sólido na verdade.
queria ter nascido numa familia maior, com gente da minha idade. todas as festas estive rodeada de adultos, e observando-os e interagindo com eles em grande medida. algumas horas os achava mais tristemente previsíveis do que os acho hoje! outras vezes, simplesmente não entendia suas dissimulações, e a aparência de importância que revestiam alguns assuntos - do tipo, quando perguntamos aos nossos pais algo que eles considerem chocante pra ouvir de uma criança, eles se reservam se fecham e pensam pensam pensam muito pra dar uma resposta boba como quando você for mais velha eu te explico...
desde criança também vejo os visistantes, amigos do meu pai, de minha mãe, das seguintes namoradas e namorados dos dois, meus próprios coleguinhas, indo e vindo, e ninguém permanecendo, ninguém permanece.
sempre estive imersa no meu mundo de fantasias e de grandes histórias sobre coisas pequeninas, sobre uma tal semente, ou uma flor engraçada, as longas conversas com o Pequeno Polegar... sempre carreguei somente a mim mesma em todos os lugares, sempre tive a certeza melancólica que quase todos os momentos cruciais de nossa vida sempre estaremos sozinhos. mas voltando aos desejos bobos... queria não ter nascido tão cruamente racional e tão inumanamente sensível, e que tenha que viver pra conciliar esse paradoxo inestinguível. minha vida é estar sobre uma carruagem, domando cavalos arredios e independentes, cada qual desanfreado atrás de seu próprio caminho, em direções e intenções opostas. queria não ser tão ansiosa, e conseguir firmar meus pés sobre o presente agora. essa intranquilidade, esse tédio, consigo me sentir quando tinha 14/ 15 anos, o tanto que não me senti assim naquela época... vivo uma tentativa frustrada de manter o equilíbrio, tendo que estar sempre conciliando lados tão largos, e tão obtusos dentro de mim. sei que todo homem, há de viver suas dificuldades específicas, mas sei que me canso, há mto tempo me canso, quando volto a mim me sinto com 60 anos, rastejados, e quietos, uma fera falsamente amansada pela cultura, por dentro muita mágica e sentimento lunar, um mundo inteiro trancado dentro de sua racionalidade estanque, sem gravidade. tudo ferve por dentro, e por fora só o marasmo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

para um puta amigo (para meu amigo-puta tbm serve)

uma resposta ao texto "reencontro" do antoniô *


apesar de perplexa essa amizade, nunca poderia ser previsível, nem ao menos poderíamos chamar de precoce - como se isso fosse bom... ela, como um organismo senciente independente, sabe melhor que nós, sobre o seu próprio tempo.
desde que brotou tem cara de fruto maduro, primavera latente em si mesma, como se sempre assim tivesse sido, e o que quer que estivesse ido antes, agora já não fazia mais sentido, e era logo assim substituído e sobreposto com uma nova cara, uma nova proposta. como as ondas, perenes
e do vento, a inconstância.
às vezes eu tinha a impressão que apesar de ele ser a pessoa que ela também mais conhecia no mundo, sempre restava algo incógnito, sempre houve uma espécie de respeito mútuo que ambos não conseguiam nem queriam transpassar. sabiam de cor o espaço do outro, que não devia ser ultrapassado - sob a ameaça de turbulentas e ácidas e falastronas discussões gritadas posteriores.
eram como que o cais um do outro, só que sem tanto tédio, nem tão firme nem tão certo quanto o porto, mas era onde sabiam que podiam amarrar seus barcos. de alguma forma, mesmo na ressaca do mar (ou do bar), mesmo na arrebentação, na distância, havia uma comunicação entre seus espíritos que nem mesmo os amantes haveriam crido! há ainda também, uma sintonia entre suas filosofias (tão mutáveis e ao mesmo tempo tão eternas em cada forma peculiar de serem sentidas), em seus momentos... por isso sempre sabiam cuidar da ferida um do outro, e também sempre podiam acrescer, somar, sem jamais se consumirem até o final.


* mudei a tônica pq agora esse cuzão ta na frança

alquimia na paróquia

confesso-me e confesso que
nem sei
dos pecados que cometi,
quantos deles não foram, em pensamento
que consumi!

no confessionário, ou
encarando o teto
do meu quarto
em um vislumbre deslumbrado,
eu lembro:
nós dois deitados,
eu em silêncio
amplificado,
pensando alto
se não peco,
e nego o ato
não seria também um tanto
blasfêmico
o fato
de lhe ter negado
contato?

mi cuerpo quiere volar derecho a tu cuerpo
sem escalas, sem freio
na nossa igreja, a lei é essa
que faça sexo
mas não faça feio!



aos padres e magos, aos homens! aos grandes e verdadeiros alquimistas do mundo cotidihumano, aos maiores mágicos e domadores, que conseguem manter seus puppies selvagens trancados E !satisfeitos! dentro de seus cativeiros privados, sem que estes espécimes desejem nada além de serem cotidianamente alimentados e bajulados, ao final da semana.


(02/Novembro/2009)

mensagem do mundo onírico

nadar nadar nadar
sucumbir
à beira da praia.
acumular tarefas responsabilidades e papéis pra interpretar e introverter pra depois passar correndo por isso tudo abanando um lenço velho cor de rosa, que diz tão somente, tão óbvio, que não volto cedo pra esse mar de projeções vacantes, culto da personalidade
eu abandono,
eu não volto
e permaneço descontente.
e não vejo sentido em minha jornada pra fora disso que convencionou-se minha vida. minha vida, uma sensação sempre estrangeira, de que se completa e se esvazia, se esgota, a cada porto, chegada, saída
a cada pessoa que entra, e que some em minha memória, buraco-negro de mim, pronde vão todos os caboclos, todas as teorias, as práticas, o desejo de se consumar a todos e tudo no meu espirito aqui-e-agora, eu não sei esperar, e por isso eu corro e saio voando, batendo as minhas asas feitas de fios de pensamentos, feitas de neuronios e neuroses, e penas de pássaro imigrante, eu sou a mistura de tudo o que eu vejo de lindo, e tudo que não posso assimilar de tão grande, recipiente transbordando de água, água salgada água doce, meu canal é incipiente passam fios de sal, fios de açucar um por vez. a única coisa é certa ou sou eu que fujo da água, ou a água foge de mim, das duas formas permaneço eu,
esgotada, intensa, e pra sempre sem nada nas mãos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Que pessoa, Pessoa...!

"Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração
e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e
pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e
montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo
árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores
e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora."


na íntegra: http://www.pessoa.art.br/?p=487

sábado, 28 de novembro de 2009

Se você não se divertiu a noite, não descabelou ninguém, nem bebeu, foi contra a vontade a um lugar extremamente mal frequentado, esbarrou-sem-querer com os tipos mais deprimentes da famigerada Night Carioca, e acabou a noite no podrão do Chico na Praia de Botafogo, bem... você ainda pode fazer um apelo ao mundo no seu bloguinho:

Nunca saia à tira-colo. Eu disse NUNCA.

Eu acho que isso já fazia parte do meu código de Como Sobreviver à Vida Social (Sem Traumas) antes, mas por algum motivo obscuro, acabei esquecendo dele antes de botar a cara na rua.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Congênito, Luiz Melodia

Se a gente falasse menos
Talvez compreendesse mais
Teatro, boate, cinema
Qualquer prazer não satisfaz
Palavra, figura de espanto
Quanto na terra tento descansar...

Mas o tudo que se tem
Não representa nada
Tá na cara
Que o cara tem seu automóvel
E tudo que se tem
Não representa tudo

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Considerações pessoais sobre Ego e Auto-importância

"Ele é um exemplo típico de excesso de auto-importância. Lá pelas tantas o peso se tornou demasiado e ele teve que pagar o preço extremo."
(Castañeda sobre Timothy Leary)


O peso de ser algo de domínio público (não necessariamente uma celebridade), é que as pessoas passam a ter controle sobre a (sua) imagem que é projetada no âmbito social. Uma vez que crêem "conhecê-la", e que crêem saber o que esperar, passam a formular espectativas, e sem perceber acabam cobrando determinadas posturas - além de muitas vezes serem incapazes de reconhecer alguma possível nova característica, de tão presos que estão nesse protótipo-de-nós criado por eles.
Em resumo, fantasiam sobre quem somos, interagem com essa fantasia, e em caso de má conduta, enviam a multa para nossa casa.

É possível que se um dia você agir mal com alguém muito querido em seu meio, o suficiente pra que os indivíduos desse meio se sentissem moralmente ofendidos com a sua ação, não espantaria se nunca mais voltassem a te ver como antes. Estariam então, sempre desconfiados da honestidade e da verdade do seu proceder, inferindo à convivência de "vocês", pessoas hipotéticas, um tom de incerteza e descredibilidade.

Uma vez solidificada uma imagem criada sobre uma pessoa, essa pessoa, ou esse personagem, vira como que um sistema bancário, onde as pessoas creditam ou debitam energia (confiam, ou cobram, respectivamente) de acordo com o que acreditam ser "justo", por um esquizofrênico (e moral) senso de apreciação.



"Ele dizia que "cargase a uno mismo" (carregar-se a si mesmo) conduz a pessoa a um senso de "importância personal" que combinados não permitem "acciones" por parte da pessoa. Quanto mais peso as pessoas acumulam, mais importantes elas se sentem, e menos ações elas executam."



Quanto maior for a "quantidade" e a intensidade das características que acrescemos ao que chamamos de "eu", maior a condicionalidade da liberdade dos nossos atos, teríamos de ser "menos nós"! O conforto que o ego nos oferece com "personalidade", é a proposta inaceitável de sermos grandes para os outros e seremos sempre menores do que somos dentro da íntima coesão de nossos reais sentimentos, sonhos, dentro da nossa brincadeira com nós mesmos. Os outros não podem saber das fantásticas conversas sozinhos que travamos em frente ao espelho, os outros não sabem as dádivas dentro de nós. E mesmo assim, insistimos em nos "personalizar", como costumizamos uma bolsa, ou costuramos uma idéia que queiramos vender...
Em um dia em que eu não me sinta tão bem-humorada, digamos assim, ou fragilizada por qualquer motivo, muito me incomoda sair com os amigos, pois não me sinto suprindo as espectativas deles sobre mim (é claro que nesse caso a "culpa" é totalmente minha, afinal, "não seria necessário" cumprir com essas projeções, mas eu estaria desejando cumpri-las porque ganharia em troca a ração de me sentir socialmente aceita). Isso é uma escolha. É melhor que ela seja ao menos consciente.
E quanto maior a minha própria expectativa sobre uma performance social a ser alcançada, menos livremente eu ajo, tendo que me ater somente ao "engraçadinho", "contundente", ou "inovador". E menor também a chance de ser qualquer um desses adjetivos, pois em situação de auto-cobrança excessiva nos saímos inda mais débeis porque não conseguimos ser tão grandes quanto gostaríamos de parecer.

Quando eu falo sobre "desconstrução do ego", ou qualquer expressão que o valha, é porque eu vejo o quanto ele nos mantém prisioneiros de um modo extremamente particular (e limitador) de ver as situações da nossa vida. Ao invés de nos proteger, ele nos intimida, e com "suas" reinivindicações, nos faz reféns dos nossos medos (ou pior, do bloqueio desses medos, que gera verdadeiros Enigmas psicólogicos, desencadeia até sintomas "patológicos" - como sofrer sem saber o motivo, por exemplo - que destilam nosso controle e entendimento sobre nós mesmos). Estão sinceramente enganados os que acreditam que ele nos protege (ele tampouco nos fortalece). Ele, no máximo, cria uma imagem fechada, sólida, de nós mesmos, joga o que "Não interessa" para escanteio (prum "lugar" onde vão se elaborar nossos traumas, nossas paranóias, nossos sentimentos considerados obtusos, etc), e nos faz crer que nós somos Fulano, e que o que nos identifica é um jeito peculiar da fala, ou os programas aparentemente intelectuais que fazemos; trocando em miúdos, tudo o quê para nós nos tornaria únicos, parte do julgamento alheio sobre nós, parte daquilo que os demais consideram bom ou ruim, - sendo assim um conceito totalmente vago, variável e incerto.
Don Juan chamou esse modo específico de nos portar em sociedade de "Modo predador", pois ele conta com o pressuposto de que algo/alguém está tentando nos denegrir, ofender nossa integridade, e que precisamos nos reafirmar perante tal ameaça. Ele nos mantém num sistema simplista (doente?) de convivência, baseado no medo, na competição, e ainda submersos em uma nuvem escura de paranóia e representações.
Acho que existem formas menos miseráveis de se viver, e isso é o que posso chamar sem medo de A minha Verdadeira Busca.

domingo, 22 de novembro de 2009

poema de muito amor para um muito amado senhor*

me ama, rei
e quando me ama
me desamarra dos seus pés, de junto à cama
e me derrama
sobre os lençóis que eu mesma lavei

até que me ames de volta
até que eu te tomes, em troca,
o teu título descabido de rei
e o substitua por nomes outros de maior importância.


quando me ama rei,
não me reclama
e venha juntar seu império
à minha vizinhança,
ao meu povo escuro e plebeu
que não te assuste a minha expressão tacanha
de quem não conhece nome de prato
nem decorou como é a palavra "cardápio"
em dicionário europeu
o menu aqui é todo ao modo sertanejo
"a la modê", como dizem os seus,
esse é o alimento quase certo na casa:
arroz, feijão, um bucado de farinha, e óleo de dendê


me ama rei
na minha inconsertável falta de elegantês
ordena sim,
a tua vontade alinhar com a minha,
sou sua, é verdade,
mas casar, só se for de mentirinha.




* título adaptado de um livro da Hilda.

sábado, 21 de novembro de 2009

zen-budismo para cabeças-quentes

quando você olha pra muralha
e acredita que ela está
inabalavelmente lá,
aproveita e pensa
que isso
também passará.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

cansei de viver para mim

sinto que cedo ao menor estímulo que me prestem, vejo um sorriso, vejo um aceno, e me aprumo vou à flor de mim mesma, me exalo pelos poros. quero perfumar o jardim, sussurrar poemas ao pé do ouvido dos amantes, sem o peso de fazer sentido, apenas com o intento de se ser, sentindo.
não preciso de quase nada para me revelar, tenho uma tendência a cair de joelhos, e tropeçar sobre meus próprios cadarços-emocionais, me enovelo com facilidade se me dão corda. sou péssima sem uma platéia.palhaça aposentada. sinto que me adorna uma certa maturidade senil, já perdi o brilho da pele, e o vigor do meu corpo, sou fraca, suscetível aos abismos. já não consigo nem quero me enfeitar para a mim, quero fazer dos outros as vítimas do meu olhar cheio de sombra e de pó de arroz. a maturidade, ao contrário do que dizem por aí, não é caduca e rígida, ela já se cansou desses jogos mundanos de representações, cansou dos papéis, burned the plot, ela quer ser uma coisa outra além de personagem, ela quer fugir do roteiro e arrastar as letras impressas na folha como que bola de ferro atrás de si, até que se tenham ido todas palavras. a maturidade quer desconstruir. ela não quer mais ser alguém. ela só quer algo que não seja constrangedoramente humano.

domingo, 15 de novembro de 2009

equívocos lingüísticos - the pursuit of happiness

é inenarrével o prazer que um ser humano no mundo moderno pode alcançar o sublime (meditando?/ respirando? NOT) simplesmente escrevendo frases com concordâncias absurdas. é tão simples e tão funcional que a gente até duvida!
veja bem, a colocação "adorei essas notíça" é suficiente pra iniciar um sutil formigamento no corpo, uma inquietação, um respiro pro coração extressado do dia-a-dia.
errar é tão gostoso, tão subversivo! é como inventar palavras, ou significados, e brasões, e quadros dentro da mente da gente. é o que nos move desde sempre. erramos, e quanto mais erramos, menos queremos fazer o certo. acho que ficamos viciados em ser os mauzinhos, errar consciente é o nosso ato máximo do desacato e do desprezo. afinal estamos todos iguais na condição de expulsos do paraíso e propriamente emerdados por Deus (isso quer dizer, submersos na merda Divina um a um) , excetuando-se a galera da África do Sul é claro, que encontrava-se geograficamente bem mais próxima de Seu Santíssimo rêgo.
para salvar esse mundo da total miséria e avacalhação, o mínimo que podemos fazer é dar a ele uma cara de piada inacabada, um Grand Finale realmente grande e digno como todos os grandes acabamentos. e é admirável mesmo que sejamos capaz de nos inflar de graça, ao invés de implodir no drama. afinal, poderia ser pior, hoje poderia ser domingo e você estar na casa da tia avó da senhora sua mãe com toda a parentada de graus (e habitats) mais obscuros, OU, curtindo o Faustão no SEU quarto, e tendo que reparar, tediosamente, que o Faustão preenche os quatro quadrantes da tela com a sua gorda falta do quê falar.
mas quanto aos erros, e à Graça, de quem são filhos, costumam dar sinais de seus efeitos em casos do tipo "as bicha se jogão", ou "aiii mordi minha mãe sem qrer", você se pergunta se leu aquilo mesmo. em seguida, conclui que fatalmente foi aquilo o que leu, e com pompa de herói, ao invés de se deprimir, se debater, ou gritar pela sua mãe, opta por encarar a coisa como um resgate kármico, um treino super saudável (e essencial para o homem de hoje!) que não deixa nosso famigerado coração cheio de amargura nos vasos. o humor é o próprio ato da transmutação. principalmente o humor negro (ele poderia ser de outra cor se a Vida nos liberasse os pincéis, mas digamos que Ela chegou primeiro e que não estava lá muito para solidariedades)... além de transformador, ver graça na pobreza de espírito, na falta de léxico ou na "distração sintática" do seu Orientador de Tese, é um ato de alquimia! você dá chance ao insólito de se travestir de mulher, e ainda fora da época de carnaval.
essa coceira que a gente sente no cérebro quando lê ou ouve algo inumanamente bossal, isso é o humor operando catarata de olhos fechados em nós... é nosso dever saber reconhecer os milagres quando nos deparamos com um.
e lembre-se sempre: se a vida te deu limões, nem pense em fazer uma limonada!



ps: os erros ortográficos no texto são recursos estéticos, ok, ngm se meta na minha lambança textual.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Solidariediet da Light

- Qual é, taxista? tá escolhendo passageiro só porque num tem taxi no rio? - batia nervoso, a mão contra a cabeceira do banco carona, tantas vezes quanto verificava fazer efeito.
O velho senhor motorista encolhia-se entre seus ombros ossudos sob a camisa social, gestipulava e falava muitíssimo baixo, não pude ouvir o que dizia.
Na Rio Branco, Preto. um negrume. As silhuetas só distingüiam-se da escuridão pelos faróis dos carros - e somente da cintura pra baixo; da cintura pra cima só as luzes dos celulares. A impressão que se tinha era a de que não restava mais nada. que nenhum dos edifícios do centro existiam mais. O que existia e se desvelava era uma profunda falta de orientação, não viam-se os buracos na rua, os pitocos da calçada, o espaço era preenchido por aterradoras e indefinidas dimensões, não se sabia até onde podia-se andar, sem bater, nem cair, ou tropeçar, sem tatear com os pés. Nada.
Nenhum semáforo, nenhum letreiro luminoso. As pessoas sacodem seus indicadores inquietos contra a indiferença dos automóveis.
Quando a situação é dramática, cada parte, cada pequeno pedaço do quadro comunica a configuração geral. Eu olhava pros dedos em riste, e eles demonstravam a triste falta de autoridade e de importância com que se regavam as pessoas. Era estranho como elas pareciam plenamente dispostas a se jogar embaixo das rodas dos carros, desesperadas.
Taxis cheios. Ônibus lotados.

Quando saí da porta da empresa tinha me convencido a ir pra casa de metrô, antes do apagão. Mas quando botei o pé na calçada me ocorreu que meu estômago estava latejando dolorido, ácido, como se tivesse tomado um porre de uísque barato e ainda de barriga vazia. Fui à Praça Mauá a procura da barraquinha da Fátima, comer um salcichão. Sentei, pedi, e pronto. nada. Foi o que me salvou, sabe, foi Algo a mais! eu podia perfeitamente estar presa no metrô!
Um choque, uma sensação de pânico me lambeu o corpo, e esse choque por ironia se assemelhava muito a um choque elétrico. (E o resto do país às escuras...) De repente me senti lacrada nos vagões como imaginava as pessoas no metrô e nos trens, sem ar.

Fui voltando aos poucos, a prestar atenção nas conversas a minha volta, numa das maiores avenidas do Rio de Janeiro. A luz só volta amanhã meus querido, não tem nadinha funcionando na cidade, dizia uma moça de voz clara e notavelmente irritada. Bateu o flip do celular com tanta força que temi pelo seu visor. Me senti bastante cuidadosa (ou pão-dura) comparado o meu trato com o celular com o da gordinha do meu lado, e olha que minha condição de comprar um outro aparelho era bem mais contundente que a dela.
Me voltei para observar as pessoas, e suas expressões eram tão somente a denúncia esganiçada do medo. Nenhuma comunicação com o resto do mundo, estavam todos isolados nas regiões em que se encontravam. As empresas de celular, como todas as outras, totalmente às escuras, enquanto os trabalhadores provavelmente suam seu suor mais carregado de exaustão para descobrir o que fazer com essa bomba que recaíra sobre suas consciências. Era a maior crise presenciada por mim desde a cesária. Os apagões do FHC ficaram na sola depois dessa, pensei com certo nível de espanto.
- O negócio é que uma usina da Light na fronteira com o Paraguai EXPLODIU - uma voz firme destoava do resto, pela sua franca tranquilidade. Falava enfaticamente e apesar disso, dizia como quem conta uma fofoca vinda de fontes obscuras. - Metade do Brasil tá às cegas, dá pra imaginar? - retrucou uma voz envelhecida, amarelada, e bem mais rouca que a primeira.

Perto de onde eu tava havia um grupo barulhento de pessoas, muitos timbres e tons diferentes disputavam os ouvidos mais próximos. Era algo sobre formar grupos que estavam falando. Cheguei mais perto e conforme me aproximava, as vozes foram se eqüalizando, consegui então entender por alto, que pretendiam formar frentes para encher os taxis, e negociar com os motoristas um preço acessível, alguns acrescentavam, alegando não ter mais que 2,80 no bolso. De repente, um anexo do agrupamento onde eu me infiltrara, gritou o nome do meu bairro. Corri pra perto e acabei me juntando a um grupo de 3 homens e mais uma moça. A moça parecia ter a mesma condição financeira que eu, enquanto os rapazes eram claramente mais pobres. Sem nem pensar entramos no primeiro taxi que Parou - aparentemente por benevolência divina! - e logo em seguida me ocorreu o quão incauta eu podia estar sendo. Não conhecia aqueles homens, nem o motorista, e a paranóia da cidade já havia me impregnado de tal maneira que me causou estranheza esse mecanismo de auto-proteção não ter disparado ao ver os sujeitos.

A experiência que todos viviam no Rio, e nos demais 7 estados do Brasil, tocava a todos de diversas maneiras. Pensávamos, sentíamos como um só povo, lesado. Por algumas horas, a impressão era de que todos haviam recuperado seus sensos de unicidade, e consciência comum, que fora totalmente arrancado de nós quando surgiu primeiro a idéia de governança. Esse sentimento era Algo que nem os mais ousados projetos presidenciais conseguiram desenvolver nos cidadãos, sob sua autarquia.
Recomendava-se no jornal que saíssemos em grupos, fiquei sabendo pelo taxista. Nos sinais, civis se prontificaram a sinalizar o tráfego. O sacrifício era total e consciente, todos trabalhavam - de acordo com suas disponibilidades - em pról da segurança e do transporte de todos. Naquela noite, pela primeira vez no país, não houve sequer uma morte por acidentes de trânsito.

Quando chegamos na Rocinha, para a surpresa geral, a comunidade em que morava o mais jovem do taxi, Jamilton, estava brilhando, acesa, com todo o vigor de sua gente.
O caos horizontaliza as pessoas, me surgiu na mente a frase pronta... desprevilegia os que nasceram de cú pra lua, os põe em pé de igualdade com os fodidos outros, tantos, com aqueles que limpam seus banheiros (suas privadas), com aqueles que fabricam os O.B.'s das donas de casa, com os temidos marginais, os excomungados bandidos. Cai por tabelas a sensação meritocrática feudal da Nobreza, e Deus por fim revela que não se alinha muito com a idéia de que os nascidos nos baixos estamentos o tenham feito em função de Seu excêntrico senso de justiça, afinal, apesar da Zona Sul estar no breu, a favela continuava brilhando.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

um trecho-texto pós-utópico

reações proporcionais são farsas!
como podes tomar como grandioso, imponente, o que digo com grandiloqüência, estando latente no meu ego o pulsar fálico da verdade, como podes tu chamar isso de promessa? como podem levar a sério alguém que se sente e por aquele momento SABE-se detentor de algum breve suspiro do Real?
falamos grande porque não sabemos de nada, porque ignoramos, porque somos em verdade muito pequenos, porque nós e nossos paradigmas nunca serão suficientes pra expurgar o oco compartilhado da existência. fazemos discursos cheios de pompa porque nossas pernas tremem quando questionamos a credibilidade (e a finalidade) da nossa forma de pensar. e em providencial atitude de construir descartáveis Torres, - arranhacéus tão longelíneos que espreguiçam-se lá longe no horizonte e quase que sem saber tentam arranhar, apreender os céus em suas garras afiadas de certezas, para obter um pouco da clareza que se derrama do estado de Deva! - queremos nem que sejam as nuvens, para matéria em nossa vaguidão, nem que seja o vento, a Bússola para o nosso andar a esmo...
e ainda assim insistes em negar a vacuidade dos nossos atos?
se digo que amo, se te transcrevo versos enxarcados ébrios, não vai aceitá-los por que são deveras sérios?
não existe seriedade nem mesmo na esfera racional, reduto da impecabilidade e da mentira. como pode o sentir caber dentro da proporcionalidade injustificável? sentir é exagerado, o Eu é um dramático, coitado, que não entendeu que viver não é digno de estatutos.
viver é tão indigno quanto mendigar.
todos se levam tão em conta, pensam suas frases e gestos com tanta importância e perícia, se dedicam tanto a escultura de suas imagens que já não sabem mais se são o que suas mãos produzem, ou se são ao contrário, o barro inerte e mofado, esperando amorfo para ser moldado?

o Ser é uma fraude.

domingo, 25 de outubro de 2009

call the techs!

falta um pulso para o meu relógio,
falta um fuso nesse meu horário!





alguém me concerta? :C

terça-feira, 20 de outubro de 2009

a janela da Alma

é muito mais interessante uma mulher que está à janela
uma mulher que se entrega à contemplação vadia do mundo.
é alguém que se presta ao dever mais ardiloso e profundo
que é anotar em mente as intermitências e lambanças ocultas do cotidiano
e soletrá-los em seu modo de ser:
suas letras (e palavras, por conseguinte) são tão estrangeiras e imprecisas quanto a moça em sua janela
com cara de lua...
tão tolas e gratuitas quanto
seu entardecer empoleirado junto à sacada

há de se prezar muito mais uma mulher que se encontra na janela.
inclinado o corpo pra fora, esse corpo diz que deseja ver mais do que apenas o seu módico quadrado,
esse corpo gosta de verdade é de histórias fantásticas
de Marias e Monstros, que o povo vem para fofocar
lá de fora

uma mulher na janela valoriza muito as cenas que lhe distraem os olhos
as que tateiam pelos ouvidos despudoradas, e entram pelas narinas;
as coisas que permeiam seus poros, seu poema, sua espinha.
se não não estaria ela ali,
estaria na cozinha
ouvindo a rádio gospel
especulando sobre a banda da missa
- ou talvez sobre o estado civil de seu baixista.

uma mulher na janela agradece a Não Sabe Deus quem
pela sua faculdade inata de
se sentar ao para-peito da janela
pelo bem que sentar junto dela faz ao ego dos beija-flores:
Alma agradece, muito sincera, pelos momentos em que tece tratados em prosa poética sobre as tardes que se encerram em sua cadeira desconfortável
e os joãos-de-barro gorjeiam... Alma anoitece
toda satisfeita!

lembrar: uma mulher na janela é sempre sinal de bons presságios.

tímida loquacidade

e o dicionário que eu tinha em mente
na situação
criou pernas (além de idéias)
e se escondeu atrás de meus calcanhares
: eu nada disse, então

a fala quando calada, comedida
diz mais sobre a selvageria
que a própria tragédia anunciada
a resignação à fôrma é, certamente
a forma de perversão
mais fetichizada.

eva e adão (contemporâneos)

eu: saio nas ruas
e só flerto com cachorros
pouco me interessam
seus donos
(e telefones)

saio apenas com os cachorros,
e pouco flerto
com seus nomes



você: que bom,
eu também não ligo!
ando nas curvas,
nos desvios
só flerto com as cadelas!
:nenhum compromisso com seus cios

e mais! só ligo para elas
quando é domingo:
é que domingo, dia santo, dia querido
é justo o dia
de se ter
o chamado atendido.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

pedro serejo diz:

ta
eu n vo toma banho nao
tomei antes de dormir



☼ भक्ति ☼ complexo de vira-lata diz:

hahaha tu não foi né seu porco
dps fica me cobrando



☼ भक्ति ☼ complexo de vira-lata diz:

vo tomar um agora



pedro serejo diz:

n to te cobrando nada
hah



☼ भक्ति ☼ complexo de vira-lata diz:

sei sei
eu vou soh pq QRO VC FELIZ AO MEU LADO
uh BABY



pedro serejo diz:

quando vc esta cherosa eu sou um homem melhor


☼ भक्ति ☼ complexo de vira-lata diz:

HUHAUHAUAHUAH
por tras de todo homem melhor
tem uma mulher se querendo

terça-feira, 13 de outubro de 2009

eu sei exatamente como vou te perder
qualquer dia desses
você vai ver
vai ser
entre meus copos vazios e os cinzeiros transbordantes, entre
o pensamento verborrágico e a fala excessivamente louca
elástica,
que eu vou te perder.

vou perder você como perco meus brincos
(e suas tarrachas)
vou perder como quem perde a hora
e nem percebe
que perdeu
a aula.

vou te perder pq meu corpo abraça o mundo,
e não abraça só o seu
e a cada dia que nasce
é um amante que anoitece em meu esquecimento
profundo
- eu vou te perder
na verdade
pq a minha paixão é demasiado democrática e acomoda a todos
em seus domínios obtusos.

vou perder você no meio das minhas sinapses histéricas
só pq faço da vida poesia
e você não entende nada
dessas minhas epifanias.

você nem vai querer saber de mim
nem terá notado
o lugar no carro, vago
que eu fui! já saí daí desse teu lado,
me ausentei, troquei de time, de camisa
e já bati em retirada.

eu quero todos os jogos, as seleções,
todos os placares
quero me acrescer ao mundo
e somar e inflar
pra um dia sim,
expandir e me esticar
e realmente me desdobrar
e tanto,
e tanto! que terei me desfeito como fumaça nos horizontes da Guanabara
e misturado meu canto ao cantar das alvoradas
vou ser o vento que poleniza as flores,
o ar que todos respiram,
a inspiração que chove das madrugadas.

vou virar um ponto no céu,
poesia que assalta uma idéia
& idéia que formiga na ponta da língua
poeira cósmica
serei o rufar dos tambores dentro dos peitos
e o tímido cansaço dos trabalhadores ao fim do dia.

no meu rosto de sol eu pintarei a sombra
e na minha pele de lua imprimirei
a Luz.



observações posteriores:
esse não é um poema sobre perda. não é sobre alguém. é um poema sobre a vontade de viver, e de permanecer, e sobre o ímpeto de preencher o planeta com meu viço, sobre a volta ao útero, e sobre mim tbm hihih

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

uma parte de um texto que vale a pena na íntegra

A transfiguração pela poesia, do Vinicius de Moraes.



"...Pois na luta onde todos foram soldados - a minoria nos campos de batalha, a maioria nas solidões do próprio eu, lutando a favor da liberdade e contra ela, a favor da vida e contra ela - os sobreviventes, de corpo e espírito, e os que aguardaram em lágrimas a sua chegada imprevisível, hão de se estreitar num abraço tão apertado que nem a morte os poderá separar. E o pranto que chorarem juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal-entendido.
(...)
Sofre ainda o mundo de tirania e de opressão, da riqueza de alguns para a miséria de muitos, da arrogância de certos para a humilhação de quase todos. Sofre o mundo da transformação dos pés em borracha, das pernas em couro, do corpo em pano e da cabeça em aço. Sofre o mundo da transformação das mãos em instrumentos de castigo e em símbolos
De força. Sofre o mundo da transformação da pá em fuzil, do arado em tanque de guerra, da imagem do semeador que semeia na do autômato com seu lança-chamas, de cuja sementeira brotam solidões.
A esse mundo, só a poesia poderá salvar, e a humildade diante da sua voz. Parece tão vago, tão gratuito, e no entanto eu o sinto de maneira tão fatal! Não se trata de desencantá-la, porque creio na sua aparição espontânea, inevitável. Surgirá de vozes jovens fazendo ciranda em torno de um mundo caduco; de vozes de homens simples, operários, artistas, lavradores, marítimos, brancos e negros, cantando o seu labor de edificar, criar, plantar, navegar um novo mundo; de vozes de mães, esposas, amantes e filhas, procriando, lidando, fazendo amor, drama, perdão. E contra essas vozes não prevalecerão as vozes ásperas de mando dos senhores nem as vozes soberbas das elites. Porque a poesia ácida lhes terá corroído as roupas. E o povo então poderá cantar seus próprios cantos, porque os poetas serão em maior número e a poesia há de velar."

terça-feira, 6 de outubro de 2009

paranóia global

com o planetinha em estado de calamidade pública, o presidente das Nações Unidas decide tomar medidas drásticas.


no Brasil:
(fiscal da saude e meio ambiente no banheiro do restaurante)
- ei, colega, essa quantidade de papel aí da pra enxugar trêr buceta dessa! ó o disperdiço! ó o aquecimento grobal se manifestano!
ma que sacanagem...

a vontade de potência¹ e a realização²

pincelando de leve a lei do eterno retorno.

¹ isso não é uma reflexão sobre a "vontade de potência" descrita por nietzsche.
² título de redação do ensino médio. eu sei que sou ruim nisso. meu professor de redação já dizia...


as pessoas, apesar de se contradizerem o tempo todo, geralmente costumam concordar quando alguém afirma que, sem dúvidas, o poder é o que todos buscam na vida, sendo portanto, o encontro das águas entre os racionalistas e os religiosos, os políticos e os cidadãos comuns, os monges e os matemáticos e mesmo entre os povos que não são "antitéticos"; concordam que é a vontade de poder que, semanticamente, une essa gente tão diversa sob seu governo.
alguns, mais estratégicos que outros, chegam a apontar o caminho pra essa busca. estão nessa categoria os grandes "empreendedores" desse mundinho, que vendem de seu próprio repertório as grandes tiradas para você, pobre ser humano frustrado que ainda não se amplificou. são esses os grandes Profetas, os roteiristas de novela, escritores de auto-ajuda, diretores de arte, os bons e informais comerciantes de Alcântara, entre outros...
é engraçado porque mais uma vez me levanto pra dizer que foi mal, mas eu discordo dessa afirmação, quando eu vejo na minha vida uma busca mais específica que a busca pelo poder.
pra mim funciona assim... a potência costuma deixar as coisas inertes ao invés de movimentá-las. e quando é múltipla, confunde o espírito - que deseja algo, mas que não sabe por onde ir. a busca por poder depende dos caminhos, se assenta sobre os meios disponíveis pra obtê-lo; enquanto pra mim, a busca visceral existe em função da realização. um sentimento trôpego que experimenta vários caminhos, emergindo a cada um deles.
a realização são as mãos do poder. é a possibilidade consumada, alcançada, já saída de seu estado inerte; semente florescida. a realização é a possibilidade contente, é a certeza da colheita.
enquanto o poder é o mestre oculto das expectativas, o articulador ardiloso que deseja desesperadamente um grande plano!

o poder me cansa. o poder, as possibilidades, destacam ainda mais a diversidade exótica nos direcionamentos que tomam as paixões que me acometem, e que acometem toda alma que é viva, livre. para a alma que enxerga a verdade e o apêlo de tudo, de todos os caminhos, de todas as pessoas, de todas as plantas...!, o poder é a febre do mundo.
- arde nas mãos de quem o têm! ele arde de responsabilidade e sonho e se amplifica tanto, às vezes, que nos perdemos na imensidão de seu tamanho. como me mexer sabendo de todo o peso que me mexer tem? como fazer um gesto sabendo que tantos outros seriam possíveis, e seriam lindos se existissem, além?
a verdade é que me sinto pequena perto do tanto que posso. a minha alma vai inflar de potência, e se contorcer devagarinho devagarinho, até o final da prosa (ou da vida) por não saber em qual desses montes mora a complitude prometida.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

curricullum vitae

versada em reclamações de teor sádico, ballet clássico, textos profundos sobre nada, pHD em jornalismo de notícias inventadas, eterna na arte de encher lingüiça - como todo bom artista -, competente em áreas específicas da vida: beber cerveja, ouvir música, e bater perna na lapa. um pouco chapada de pró-seco faz um ótimo clown. interada de fofocas inúteis e novidades desimportantes da internet (e da política), repórter de Tudo o Que você Queria Saber Sobre o Mundo (mas não fazia a mais vaga idéia disso), passa seu tempo fazendo o melhor que pode de saia justa e salto-alto: atrasando, catando cavaco na rua, e eventualmente deixando os amigos com vergonha alheia.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

No Divã (Esquete)

Analista e paciente. Cadeiras de frente uma pra outra.
Paciente fala sem pausas ou vírgulas.
Fala, fala, fala...
O analista aperta o nariz do paciente e gira para a esquerda.
O paciente retrocede em seus pensamentos, repete sua última frase, e chega à uma conclusão brilhante!
Abraça entusiasticamente o analista, agradecendo sem parar.
Obrigado, doutor! Muito obrigado! Como vivi até então sem saber disso!? E isso... TUDO! é graças ao senhor!
O paciente beija seguidas vezes a mão do analista.
Obrigado viu, valeuzão!
O paciente bate a porta do consultório num suspiro, e o analista continua mórbidamente parado.



por Luiza e Serejo

compreensão à meia-luz

quando olho você dormindo
homem grande, preenchendo a cama
homem perfeito
feito de sonho e de sombra
entendo a idéia sagrada
de Deus.








(um à parte de minha parte: feito de barro uma ova! o homem foi feito é de Luz!)

a rua virou um rio

manobra a nado,
do Largo do Machado
ficou só o Lago

cicloativismo de final de semana

sobre duas rodas
dou a volta ao mundo
ou pelo menos na orla

zelando pela própria imagem


"eu faço música sobre relacionamentos.
e se você reparar "DADO pra você" tem um duplo sentido."

(dado dolabella)

hai kai

obra no andar de cima
manhã de cão e de furadeira

Trânsito

engarrafamento:
no horário-de-pico
a gente injeta

Tirania

Meu trato com as formigas é um barato:
EU SOU O ESTADO
Alimento depois mato.

metatemporal

amanheço nublada.
pré-vejo chover muita água, eu digo,
uma chuva de verão nos braços da primavera aguada,
verter minha água, meus pingos pesados
sobre os guarda-chuvas, os rostos
e sobre ar-condicionados

são 3 da tarde
e eu já bati em retirada
em direção às nove horas,
que é o horário onde minha nuvem mora
parada

e como todo homem que chove
se precipita,
como todo poeta que sofre
o sofrimento lapida
em versos
não estou nunca aqui, presente

é que a chuva que aumenta
só aumenta meu desespero corrente
e ao final
da poesia
- o temporal -
(essa sim!
filha de seu tempo),
encontro-me fina(l)mente
desperto
: a nuvem esvaziada
e o pensamento completo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

milágrimas

a cada mil lágrimas sai um milagre.

(itamar assunção)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

dança das horas

0. o ato antes do primeiro

antes
desprovida,
agora ao dispor
Vida
deporias contra a minha.




I. ato primeiro

arredia.
arreda a rédia
e empurra
o segredo SECRETO da minha,
nossa festa
de volta pra sela.

o que eu quero dela
é que ela seda!
e que queira
e me entenda:
quero dela,
apenas o que sou eu.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"a nalzea"

aquilo que me leva a não encarar meus abismos, e a não cumprir com meus compromissos, contêm a mesma substância: o não querer.
nada.
nem que seja de graça, nem que não custe nada,
falar, assistir ou buscar.
não quero dizer não, nem me impor, muito menos "dar um jeito". meu desejo, e minha prática, tem sido abandonar tudo mal-feito, e depois disso, nem alçar um segundo olhar, abandonar e só.
e deixar pra lá.
espero algo do meu entorno que nunca, nunca vem. e eu não espero dentro de mim, nem espero junto a alguém, espero lá fora, desertora, estrangeira, e tolamente desperdiçada.
dentro, o sujeito contraposto ao seu meio, repousa um vácuo quente e úmido, de sentimento fermentado (de puro desgosto aguado!) acabo que deixo um monte ao acaso, sem ter o mínimo de cuidado - principalmente com o que falo -, e escuto as outras falas tagarelas, verdadeiras epopéias narradas, e no fundo uma certeza seca de que todos tem tanto nada a comunicar quanto eu.

do tédio ao desespero (em duas doses)

corro os olhos desinteressados pelas vitrines, me sinto como se estivesse em são paulo, olhando vazio para o vazio que é refratado nas calçadas. não desejo comprar, nem comer, e passar nessa rua me dá sempre a impressão de estar imersa em um querer abstrato de coisa ainda não inventada.
penso em comer sem querer nem pensar em comida, me pego olhando longamente para dois caras de mochila, de costas para a avenida, em quem nada havia para se reparar. percebo traços da vida enquanto ando, presto atenção em suas veias e vielas que não despertam em mim nenhuma estima; e é dessa falta de interesse que se desvela meu distanciamento - este, do qual falo desde que as palavras me foram apresentadas...
esse tédio que eu sinto, vem de mim, do meu cansaço sem razão, ou o que eu sinto exala do imobiliário dessa cidade, desses tantos espelhos espalhados pra tudo que é lado? não sei pra quê tantos espelhos, tanto vidro transparente pra um monte de gente que não agüenta se ver por dentro. até meus olhos, convenientemente polarizados, andam vestindo-se de fumê pelo simples fato de não querer ver, o que todas essas lojas se esfregam para mostrar. até minha boca que vive a articular, se cala ao sentir o nada, dolorido e complascente, a se retratar.
não sei se é de hoje que sei-me desse jeito, mas caminho sozinho ouvindo as vozes nas ruas escoar feito esgoto para os bueiros, pelos becos
e cruzamentos engarrafados, na minha neuroquímica.
decido, sento no bar.
peço um gim duplo, e recomendo ao garçom, antes que me venha à cobrar, que hoje só quero saber de esquecer, e que nem fale comigo se for para lembrar!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

estatutos

declaro
a poesia um modo de vida
concreto.

a viabilidade de uma frase:
em ficção ou
em verdade

declaro justo
e legítimo
o direito de nos amplificármos
e o direito de amar quem somos.

declaro válida
uma vida não analisada,
declaro também linda
uma vida que seja tímida!
de quem pede licença
pra existir.

esclareço que também é permitida
uma vida vendida
a fiado,
não tem problema,
não tem nada de errado,
declaro o direito inclusive
de não nos sentirmos inteiros
volta e meio
ou de não acordármos cedo
de tanto em tanto.

declaro plausível
a proferição de mentiras coloridas,
de amigos itinerantes
e de caminhar sozinho.

é liberada a existência
de pessoas estranhas
e de conversas imorais.

é permitido também
amanhecer na lapa
em plena quarta-feira
e ir demanhãzinha pro trabalho .

fica decretado
o direito inalienável
vitalício
de sermos quem quisermos ser
andando,
ou até mesmo parado.



emenda: todos têm o direito intransferível
de reinventar o seu próprio cenário.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

tenho medo que não reste de mim mais que
o nome
que reste em mim
apenas a fome
e mais um punhado de reflexões estéreis

tenho medo que o enredo não veja mais
que apenas tédio
medo de que se vão os sonhos,
de que não reste mais que o sono
que não reste mais
que bocejo.

endagações esmaecidas de domingo

fico me perguntando quanto tempo somos capazes de viver em movimento pendular, entre achar que alguém merece o mundo, e achar que ninguém no mundo te merece; entre se perder nos mistérios de quem a gente gosta, e perder o que a gente gosta nesses mistérios...
por que tudo invariavelmente acaba em silêncio e tédio? não somos tão vastos? o que será que me corrompe a visão, vez em quando? que não vejo em nós essa nobreza de ser incompleto, essa grandeza de nos refazermos e reinventarmos? onde está a beleza da nossa limitação?
aonde eu perdi o glamour do fracasso que eu não consigo achar?
eu às vezes só vejo uma montanha de equívocos e confusões, e tentativas desesperadas (não belas, só honestamente descontroladas) de fingirmos que somos serenos e seguros.
a vida é uma tentativa fracassada de produzir sentido, estando mergulhado na falta dele.

cadê o mundo colorido prometido pela nova era dentro de mim?
acabou o inverno e cadê minha fantasia de primavera?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

mente quem diz que a lua é velha*




plena como a lua cheia, hoje ninguém vai me tirar do prumo!
tenho atrás de mim a certeza do sol
e o rei de ouros sobre meu rumo!
também não há dúvidas, nem sombra, e nem há curvas!
hoje
há só o sol (que aquece as costas) e anuncia
o começo de renovadas lutas!

Jaya mãe Lua!



* "mente quem diz que a lua é velha
a lua, quando ela roda, é nova
crescente ou meia
a Lua!
é cheia!
e quando ela roda, minguante e meia
depois é lua nova(mente)
quem diz que a lua é velha!"

domingo, 30 de agosto de 2009

direto da fornalha (em chamas) da madrugada

não sei como preencher esse estado de espírito escroto, descontente, onde sempre falta algo
estando tudo o que é necessário presente. não entendo como a complitude pode ser defacto, defecta e tão, tão randômica...
não qro escrever coisas tristes, quero só escrever coisas de verdade (coisas que começam ou terminam com "não"), das verdade que a gente sintam, na escala de 10 à 1.
são verdades excêntricas as que me assaltam agora, quase 5 da madrugada, a essa hora, e que talvez amanhã já se tenham ido, já tenham ido embora...
dizem as línguas portuguesas que "embora" é um jeito (des)contraído de dizer "em boa hora", por mais que pelo o que sei da vida, ir embora de onde estamos bem nunca é ir de bom grado. eu não queria ter vindo embora do coração do meu Cerrado, se os Normacultores da nossa amada língua me permitem essa colocação um tanto contraregrada, afinal eu pessoalmente nunca fiz na minha vida, das normas, uma entidade a ser louvada. a minha existência, ao contrário, é largada, e meu itinerário é Tudo - e também um pouco vago.
quando eu digo a vocês, todos, Normacultores e Semeadores dos mais variados, que eu não gostaria de ter voltado
é que esse lugar aqui onde eu vivo, agora eu sei! melhor que se apenas tivesse ouvido (de um Preto Velho, quem sabe...), que meu lugar não é no Rio.
talvez seja isso, agora eu digo
em voz muitíssimo alta, pra (a) mim mesma ouvir, pra que todas as microcélulas e moléculas inteligentes do meu corpocosmos possa introverter, gentilmente, que
o meu lugar não é aqui.
e eu não sei onde o meu lugar é.
só sinto que não caibo, cada vez encaixo menos nesse molde-de-modelar-caminhos-amenos, cada vez desejo com mais força não-estar aqui, ou estar-aqui, com mais força. não-estar soterrada de informações que confundem o meu espírito que in natura é super tranqüilo... sei que me dói sentir que não tenho forças pra pôr cores nesse mundo tão lívido, mas me falta alguma competência, uma inspiração, me sobra muita vaidade (enrustida), e meu não-caber se transforma logo num discurso medíocre de verdade mentida, e esse discurso diz que eu não preciso viver na cidade, que posso tranquilamente viver escondida, no meu mundo,
dentro de um sofá velho de veludo vermelho-sangue, inundo de curiosidades desimportantes, dentro deste que é verdadeiramente o MEU mundo.
o que chamo meu Lugar (por auto-piedade ou por orgulho!) é no braço desse sofá, dentro do furo,
é dentro do cigarro - é o tabaco -,
é o buraco, bem na borda do cinzeiro, o meu Lugar é algo entre o rodapé e a porta, é quieto, é inteiro, e ferve com seu jeito sossegado;
é algo que eu preciso achar: não só agora que estou no Rio, preciso buscar, sim, em Tudo o que for lugar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

o estado bruto das coisas e o estranho tablado do acaso

no ponto,
o espanto,
o atraso
do ônibus
arrepia
a espinha dolorida,
desejosa de movimento
desamarrota
o corpo
que aloja
esse frio
que não é de fora
e sim de dentro

não tem ciroula,
cachecol ou lenço
que possa dá jeito, moço
entende que
corre um rio congelado
bem aqui dentro
aqui
no meu peito
logo ao centro
muita história
rola
com essas águas,
camarada
muita lama atola
nessas águas paradas

o corpo alado, bélico
os punhos armados de vontade,
[porém de luvas
contra
o fogo
cerrado
épico
das possibilidades
ainda obscuras

no todo,
espera e comedimento
nunca fizeram parte
do meu jogo,
não me dizem respeito,
não vejo
que exercem
a sua arte
com efeito
sobre o meu corpo esquivo
de trapezista.
se eu resolvo agora,
e solto a trave
soltar
ainda significa
que estou vivo.

viver é o preencher intrépido
entre se encontrar vazio
e se tornar completo.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

para felipe de taubaté (de ubatuba, ou de uberlândia)

eu e você
somos equívocos astrológicos.
o Astral Cósmico
jurava!
que nosso encontro não seria algo assim,
tão,
TÃO mágico.




elohim diz:
impressora¹
imprima meus feelings

☼ Ágape @ verbo-fagia diz:
hahahah
cuma?
tah faltando o cartucho de cores

elohim diz:
como assim menina
vejo cores
em cada fio de cabelo enrolado seu
aspirais multicoloridos

☼ Ágape @ verbo-fagia diz:
nhó, q lindo (tentei poetar e não deu)
mas vc tem um puta olho!
pena q nao viu os piolhos
do circo q eh o cabelo meu
[TCHAN!
hahahaha
estou com piolhos, irmao =(
isso eh serio




¹ Ágape = HP = impressora

"tentando parar"

fumar
e prozear
o cigarro acaba antes
da prosa começar

cidade infértil

me vejo construindo pouco
desejo tanto preencher o oco
que nada faço, ou faço torto

a vida nos grandes centros me abafa
a vida nos grandes centros é sofisticada
e a minha pequena vida não conhece as grandes marcas

fico parada, tentando entender o que acontece
quando a roda da vida me esquece
eu: contemplando uma história já feita
uma peça que precede Bertolt Brecht
onde ainda se sustenta uma quarta parede
eu: implorando por um "enverede!"
cada vez mais ever ready
mas ninguém me chama, ninguém percebe
precisam correr para a faixa
antes que o sinal feche.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

credo quia absurdum

Anotações sobre "A Chave dos Grandes Mistérios"*

a fé não vem da luz, a fé vêm da percepção do vazio, da incomplitude e da escuridão.

creio, porque é absurdo.
se não fosse absurdo ou pelo menos nebuloso; se fosse claro e palpável, não creríamos, saberíamos pois. o saber é encargo da ciência, nunca da fé.







* Grimório escrito por Eliphas Levi, de acordo com Henoch, Abraão, Hermes Trismegisto e Salomão.

Espero que dê pra entender, embora seja algo mais para eu registrar do que qualquer outra coisa.

domingo, 7 de junho de 2009

Sob a Aurora Boreal


ela virou pra ele,
e lhe disse, e lhe desejou sorte em seus caminhos...
sua expressão fluida transformou-se em sóbrio descontentamento que,

se ele bem a conhecia,
e a conhecia muito bem,
aquilo havia de ser prenúncio sobre um nova avalanche...
e então ela veio:

- mais luz ainda nos teus (des)caminhos,
ela se corrigiu
e pigarreou,
nos deixe [deixe a nós!]
pelo menos um feixe:
um feixe, só,
na memória
nus-dêz:
nós
(dez)
nudos
nos 10 primeiros minutos
do segundo tempo,
VAMO VIRÁ,MENGO!
sujos e turvos - porém cheios de glória!
feito confetes
empurrados com desprezo
pra debaixo do tapete,
ao final da época de Carnaval
(ou de Campeonato!)

= como se o tempo nos tivesse esquecido,
ou ultrapassado, e, agora, não faz mais mal !

quero me lembrar de nós
pelas frestas, através das quinas
nossas almas biomecânicas
bailarinas
encantadas
em movimento&espontaneidade
profanos e inundos
de um sentimento qualquer
que seja impuro
- já caídos em desuso -
ao assistir o espetáculo grandioso
Um segundo antes
do Fim do Mundo...

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Sobre a Consciência da Morte

SOU,
o homem enxerga o abismo que a auto-consciência lhe deixou,
nu em frente ao espelho, as estradas turvas
que a natureza confeccionou,
entende a dicotomia que Deus
à existência condenou
saber que a vida é a promessa da cova,
aberta e exposta,
ao sol que já pousou;
que viver é lavrar o solo infértil
esquecendo o destino que já o lavrou.

SOUL, a alma mesmo,
de homem-bicho que se sente inteiro,
a buscar o motivo (escondido)
de se viver a vida a esmo.

viver é preencher o intervalo intrépido
entre despertar e esmaecer, completo.



Retomando o assunto do post "a espera", e relembrando um comentário do Zi sobre a própria espera, que diz:
A consciência vem de esperar. Já viu algum animal esperando? Esperamos pelo tempo e o tempo dá-nos a morte.

sábado, 23 de maio de 2009

lo.qua.ci.da.de metafísica

- tipo deixar a hr de estudar chegar e esquecer de avisar
então vc tem que sair subitamente
ou um amigo que chega em (nossa ) casa e só nos mechemos pra frear a conversa subitamente na hr q ele chega
os estudos estão lá esperando e o amigo tá quase cansando de nós
pq nós ficamos aqui o tempo que as pessoas somam durante uma semana de conversa...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

viagem da bo(ss)a

antôniO_ diz:
*eh
*irado
*cara
*vo jantar sussanamente


*Ágape * diz:

*vai com amor

* Ágape * diz:
*"O ágape recebeu um uso mais largo pelos escritores Cristãos mais antigos como a palavra que denotou especificamente o amor Cristão ou a caridade (I Coríntios 13:8), ou mesmo Deus ele mesmo (I João, 4:8, agape do ein de Theos do, Deus é amor)."
*eu até consigo entender q o ágape possa ser compreendido tbm em termos de caridade, mas dizer q o amor incondicional corresponde a caridade, pqp, bem idioticamente simplista, bem carinha do cristianismo mesmo
*catolicismo, especificamente
*mto foda tbm o q jesus diz sobre quais sao seus mandamentos fundamentais
*absolutamente simples e compreensiveis, realmente consigo enxerga-los como sendo algo inerente a natureza divina
*q eh 1) amar no sentido do amor incondicional, deslumbrado, o amor entre iguais, como tbm o amor incondicional que compreende e acolhe o diferente, e o amor-próprio... na passagem diz literalmente em outros versos (sao soh palavras dentro de seu jogo sintatico, right?): "Amai (ágape) ao senhor vosso Deus com todo vosso coração e com toda vossa alma e com toda vossa mente”
*e 2) o classico amar ao proximo como a nos mesmos... q, sei la pq, por uma questao q me parece quase didatica, separaram em 2 mandamentos
*mas o 2o me parece parte do 1o... mas mtos fanaticos religiosos soh consideram o amar a deus com todas as visceras, sem a compreensao clara de q idolatrar a deus e todos os seus feitos prodigiosos, significa nos levantar, e sermos nós tbm nossos deuses, seres potentes, amarmos tbm a nós mesmos e à todos q compartilham a benção da vida.
ando mto profetica ultimamente, mas acho q vc consegue abstrair os nomes
*essas subitas compreensoes do q todas as religioes buscavam falar (caindo sempre no mesmo engano da linguagem excessivamente elaborada, q passa a exprimir a sombra da sombra de um protótipo de significado q soh poderá ser enxergado sob luz plena, nunca sob penumbras q acabam ocultando-o - o significado. ---meu deus a viagem tah profunda hj, fudeu)me deixa sem palavras. parece q eu sou uma criança e descobri um monte de doces q completam meu mundinho existencial infantil
*chego quase a me divertir com o pensamento de q talvez se eu nao tivesse relativizado tds as verdades q me foram apresentadas ateh agora, se não fosse mto dada a abstração, possivelmente nunca conseguiria compreender esse laço entre os intentos por trás da prática ou da expressão dogmática
*das religioes
*sempre ficaria vislumbrada ao começo, descobrindo coisas q fazem sentido na teoria, e logo profundamente desapontada a cada final de estudo... pq eu teria incutido nelas (crenças religiosas) um cargo mto precioso q eh o da verdade, e a verdade sensível nunca caberá dentro de dogmas universais e frases imperativas. a verdade eh a abstração máxima das coisas, é a essência última delas, sem máscaras ou nominações
*e a isso eu tbm tenho chamado de deus, ou percebido como "o q de deus há nas coisas"... odeio ficar repetindo "coisas", mas acho q a palavra crua serve melhor nesses casos
*PQP pode me bater depois desse monologo
*mentira nao pode não pq eu tbm te aturo
*UST

domingo, 10 de maio de 2009

Sobre o brilho e as dores do Mundo

eu fico boba quando eu vejo a relação da minha mãe com a minha gata (e vice-versa)... quando elas se olham, alguma coisa acontece, há alguma partícula que as duas dividem que faísca em seus corpos quando se reconhecem os olhos. o mágico mesmo é que enquanto trocam esses olhares, parecem estar preenchidas de um sentimento que somente elas compartilham, e do qual o resto do mundo não participa e não está nem ciente de que existe, que dois seres diferentes podem comungar o mesmo mantra... quando elas se olham é tão sincero, que quase dói lá no fundo a certeza de que não há honestidade maior do que a que compartilhamos com esses seres, tão diferentes de nós. e não digo somente dos gatos, digo de todos os animais que nos olham fundo, através de nossas carcaças perecíveis, sem a menor consciência de estarem nos despindo, e com a súbita inocência de criança que só sabe ler o sensível, só sabe ler o óbvio. pq sim, é preciso entender que nossa linguagem é por demais complicada pra que possamos dizer, ou ser algo que não seja dubio, ou paradoxal. somos bichos imensos e imponentes, resignados ao sapato apertado da métrica, isso nos faz espécimes complicadíssimas... e os nossos companheirinhos não vêem isso, eles não nos julgam. e é por isso que penso haver entre nós e os demais animais do Reino, uma espécie de equilíbrio, pois quando nos relacionamos com eles, voltamos em pequena medida a falar a língua de deus *, a língua que não está nas impressões recentes da bíblia, a língua que o nosso povo esqueceu... e isso nos trás um pouco de volta pra perto do que realmente somos, quando ficamos encantados com o quanto de amor podem nos dar esses conterrâneos de peculiar fisiologia...
quando vejo a Bel e a minha mãe se olhando, eu penso em tudo isso. e mais ainda em uma passagem do clássico do Milan Kundera (A Insustentável..) que falava mais ou menos que o verdadeiro grau de bondade do homem, só poderá ser medido no seu relacionamento com os que não demonstram força, ou indicam perigo: os demais seres vivos... nunca poderá ser dito bom um homem que ajuda somente àqueles dos quais sabe que irá tirar algum proveito mais tarde. não existe bondade com quem você mede forças. seja um affair, uma ex do seu atual, ou whatever... dificilmente haverá bondade pura entre os homens, com seus desejos e intentos tão sofisticados... a bondade é gratuita, aparece sem preço de custo, ou juros! e há em nós, uma grande gama de interesses, ao qual o mundo está subjulgado em nossas sinapses, e assim fica difícil, realmente, nos doar a qualquer outro... e do jeito que as coisas andam, se olharmos, como Milan o fêz, para o mundo em que nascemos e o mundo que estamos deixando, tão porco, tão podre, tão violento, é impossível evitar o sentimento de que algo saiu errado...
das árvores que colheríamos o alimento, fizemos tábua para nossos móveis, e papiro pras nossas assinaturas; dos animais que fertilizariam esse solo, ou daria-nos leite, ou ovos eventualmente, tiramos logo a carne, a pele, o osso, o tutano pra fazer creme de cabelo, até que aquilo não pareça com algo que um dia teve vida... e é assim que eu imagino a Terra, momentos antes de as deixarmos, seca, pelada - ficou que só os galhos, coitada - rachada feito o solo do meu sertão... tanta gente viveu nesse mundo, e lutou, e deu a vida a essa luta, pra que deixássemos a nossa casa assim, marcada pra morrer; pra que deixássemos a vida com medo do que pensar da vida que deixamos pras crianças viver... eu me envergonho, me enveneno, até, desta verdade, honestamente. e essa vergonha cresce a cada dia, meu tamanho meu corpo físico lúdico gasoso, meu mundo, meu Universo Inteiro se reduz a cada dia... todo dia acordo um pouco menor, um pouco mais curvada, com mais rugas... e me sinto cansada... e fico pensando até quando... até quando, meu deus, eu vou acordar com o peso do mundo desmoronando sobre as minhas emoções... é possível envelhecer com isso guardado?
eu quero viver pra ouvir o ronron dos gatinhos, e a mágica composição do canto dos passarinhos, e ver o sol nascer, e morrer, todo dia, sem pensar que a minha espécie está destruindo tudo aquilo que eu amo...



* por favor, queiram entender aqui que "de deus" não se trata SER BOM, MORALMENTE VIGOROSO, ou DOGMATICAMENTE ACEITÁVEL, me refiro simplisticamente ao que é da Natureza, não me importam muito os nomes...




Lui diz:
*dps te mando o link se quiser
*mas eh mais um dakeles textos reclamando da vida
Dani diz:
*mande
Lui diz:
*eu preciso dessa terapia, eu acho... pra continuar vivendo. pra nao ter q cuspir tds essas coisas na cara das pessoas
*pela minha paz de espírito talvez...

domingo, 3 de maio de 2009

a espera

espero. convido minha sensibilidade a perceber um porvir. a espera é muito insegura, entende, depende da confirmação de que de fato, algo está por vir...
- eu espero que estejam todos bem, espero que entendam...
a espera é encarar abismos, você sente, não sente? prenúncios de um chão conhecido contra o qual acredita que irá se chocar, lá na frente?...
a espera é, ao mesmo tempo, a constatação da falhabilidade dos projetos, dos métodos. você espera, com a visceral certeza de que é impossível de ser alcançado. e por ser inalcançável, você espera.
caindo, caindo, cada vez mais fundo na experiência de se estar caindo, caindo... a espera também é queda. a espera também é perder as referências. aguardamos, reticências, vazios de nós mesmos, inundados na metalinguagem. a espera é metalingüística, eu digo. só se acham as tais referências dentro dela mesma.. em um instante ela simplesmente existe, no instante seguinte é a revisão, a releitura de sua condição de espera. estou consciente da consciência. estou esperando, e conheço a profunda sensação de se saber à espera. não há indícios do objeto esperado, e no entanto seguimos buscando e crendo que talvez não hoje, ou agora, ou na próxima esquina, mas seremos plenos, em algum momento, em algum dia de nossas vidas.

~

acho que cabe aqui um pedaço de algo que escrevi há algum tempo, sobre a espectativa, esperança, ou espera - como quisermos chamar.

mas ainda jaz um mal na caixa de pandora,
e as pessoas sabem. não sabem que sabem, muito embora.
mas sentem no peito que algo coça e incomoda,
percebem também, que esse peito já não comporta
o que nós, humanos, guardamos sem saber da nossa hora
sob o risco do padecer de nossos sonhos.
- a espectativa, mil demônios,
trata de nos manter insones, crédulos
à espreita de uma estrela que já morreu a 100 mil anos.

chove

sobre a chuva, sempre tive esse mesmo sentimento sobre ela.
desde que sou pirralha, me lembro eu, uns 6, talvez 7 ralos anos cheios de auto-consciência, correndo direto pro playground, durante aquelas chuvas fenomenais de verão. dia quente, bafo subindo dos azulejos cinza do play, e aquela aguaceira maravilhosa, gelada, caindo na minha cara infantil de satisfação e desejo contemplado de criança.
sempre que chovia, era a mesma coisa!
não me espanta que seja assim até hoje. que a menina de cachinhos dourados tenha apenas engordado alguns kilinhos e começado a fumar cigarro - coisa que nunca deveria ter feito!
mas não se engane quando falo assim da chuva, leve e quase etérea. meu real sentimento sobre ela não é divertido ou recreacional, é com muita seriedade que vejo as nuvens crescerem, juntarem-se a outras, e precipitarem. com certa reserva talvez... sinto-me um indivíduo da idade média, antes da Virada Copernicana, que contempla esses fenômenos e simplesmente congela.
como não tremer diante da magnificência não só da chuva em si! dos trovões, dos resmungos gravíssimos que se ouve "do andar de cima" quando os vizinhos não estão lá muito felizes... como não se sentir pequeno, e desimportante, perto dessa água indolente que cai do céu no meio do seu feriado? assim, sem que nem ao menos pudesse ser prevista pela Metereologia...
e ao mesmo tempo, mesmo que seja na Violência em quem residem as tempestades, a chuva consegue fazer a gente olhar pra dentro. - e olha, ela tem mãos delicadíssimas!
a chuva faz ver como chovemos todos nós, ao avesso. e que todos temos escuros dentro da gente.

as pessoas odeiam os pingos que encerram seus domingos, porque precisam não olhar pra dentro. precisam permanecer os mesmos, imutáveis, inassombráveis, e imbatíveis.
na verdade, as pessoas... não sabem de seu tamanho.
agem com o Ego, nunca com o Self, e não sabem aceitar esse nosso corpo multifacetado. não entendem a dança, a música, a espiritualidade... querem raciocinar o mundo!
e é só olhar pra cima, aquele teto-preto se fechando em cima do terno Armani... e entender que seu intelecto não te salva da chuva, como também do vento, ou do frio. e desse karma, correm pra casa... a Natureza é inalienável.
nós não.

domingo, 26 de abril de 2009

Ensaio sobre Tudo

...da Política aos Sonhos.

quem foi que disse que sonhar não é digno? onde está a dignidade em se resignar às Coisas Que Existem (e enxergamos)?
onde está a verdade em viver 1/10 da realidade para que o cérebro continue a repousar, lépido, quase morto de tédio, sem sinapses epifânicas?
aonde ser um Ser estacionário leva a gente a algum lugar? que retorno isso dá?
a sensação de poder se omitir em uma decisão importante, de ser únicamente um confluxo de forças e seus atos mero reflexo dele?
não sonhar pra não arcar com as responsabilidades do sonhar? evitar pensar no pensamento que te leva a elocubrar sobre eventos que seu sentir não consegue suportar?
eu acho o contrário, acho que a gente tem é que mergulhar em tudo, ir por onde achar que deve, atolar o pé no que dói, no que a gente tá sentindo de verdade. viver tudo, porque é pra isso que nascemos, tem que ser de sangue e saliva, a vida, se não não faz sentido...
é preciso não deixar os sonhos suspensos, inertes, eles são justamente a prova viva da Energia Dinâmica que nos permeia - não podem simplesmente existir. manifestar É sua essência. dos sonhos, eu digo, e de toda a gente também. como diz até o Fichte, quando menciona que a essência do que vive só o é, de fato, se se manifesta através da ação, das atitudes...
pessoas passivas são simplesmente erros cósmicos, estão indo contra a efervescência da vida, estão indo contra seus eu's levianos e despreocupados, tão dispostos a transformar o que é banal - aglutinar novos significados, e nomes, e cheiros, e texturas.
não estou querendo dizer que são a escória, que deviam ser mortos, junto das pobres almas esteriotipadas, mencionadas no post anterior... é só que me dá um aperto absurdo no peito e na consciência, saber que há gente que deseja tão pouco; que o mundo high-tech globalizado (confluência de jargões batidos agora uhuhu) tenha dado a sensação-miragem às pessoas, de que elas não precisam de mais nada, de que tudo está preenchido, e se não, a vida vai levando de alguma forma... é triste pensar que a maioria das pessoas SONHAM poder ter o carro do ano, uma vida estável, enquanto podiam querer tanto mais; e mesmo as que são imbuídas da pretensão de mudar o mundo, pensam maneiras de melhorá-lo sem pensar nos que estão na base dessa estrutura, naquelas que não são vistas no dia-a-dia, ou contempladas pela mídia, sem pensar nos ambulantes, nos agricultores, nos desnutridos... é só injetar 4bi no banco central que acabou o problema da crise! só fazer uma "limpa" nas ruas e nas vias que aí tem espaço pra galera circular, tudo limpinho... só uns 350 trabalhadores informais sem as mercadorias que compraram - dividida entre os guardas Municipais - e sem poder vender nas ruas...que tipo de bem estão fazendo pra essas pessoas? ¹
as pessoas (eu adoro falar delas né, já deu pra perceber), pra fora da cúpula de representantes-que-não-representam, não percebem que estão vivendo num sistema doente, e que junto dele, adoecem também. adoecem todo dia, arrebatados pela propaganda antiética e corrosiva, com os discursos negligentes, sorrisos falsos, com o abismo entre os corpos na rua, com o olhar já turvo de tantos valores pífios, de tanta pequeneza, um dia não caberão em suas carcaças...
nosso sistema atual pega o pior da condição humana e a abstrai à estratosfera, de forma que uma pessoa efusiva e simpática se torna automaticamente interesseira, ou arrogante; um sonhador - um iludido, e por aí vai... a lente com a qual o sistema conta é ensebada por uma forte camada de "inveja". é olhar pro outro já esperando que não vá te acrescentar nada - porque se esperasse o contrário, se desarmasse da vaidade desnecessária, encontraria-se incontáveis vezes abolutamente enfeitiçado pelos universos de outr'éns, e isso seria totalmente inaceitável pro seu darlin' ego², pra sua vontade de superação das virtudes alheias. até um pouco cansativo, estar a todo momento se surpreendendo com a multiplicidade de jeitos e formas de se ser e de jogar o corpo no mundo...

no final de tudo, it all comes down to this: ou você é um acomodado, ou é um romântico irrecuperável ou um competidor sangrento; fora desse campo semântico nomenclatural não existe vida. você vê, não nos deixaram muitas opções...
é por isso que eu agarro firme meus sonhos, durmo e acordo com eles todos os dias, aqueço-os com muito amor e vontade que floresçam, e dou a eles toda a atenção que o resto do mundo não tem de mim... mais que criações abstratas, eles são as sementes que eu quero ver germinar no meu hoje, no meu agora! porque amanhã ninguém sabe...


(os dois últimos textos foram escritos depois de ouvir/ler percepções e projeções de alheios, precisava tornar público ;p)

¹ - um dos projetos emplementados pelo Choque de Ordem.

² — Nosso modo de perceber é o modo do predador — ele me disse uma ocasião. — Um jeito muito eficiente de avaliar e classificar a comida e o perigo. Mas não é o único jeito que temos de perceber.




"O INTENTO não é um pensamento, ou um objeto, ou um desejo. O INTENTO é o que pode fazer um homem vencer, quando todos os seus pensamentos lhe dizem que ele está derrotado. Opera a despeito da indulgência do guerreiro. O INTENTO é o que envia o xamã através da parede, através do espaço, para o Infinito."


letargia

dormindo,
acordar
domingo

domingo,
acordar
dormindo

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mais um da série...

"O que eu não suporto no mundo, mesmo com toda a minha recém-adquirida capacidade de respirar fundo..."



não aguento essa mania q o povo tem de ser complexo, de ser artista, de ser absolutamente incompreendido ou inescrupulosamente profundo, extravagante a troco de tudo sem noção de nada, zenbudistaescritoryogue que rabisca em folhas de papel reciclável enquanto fala no telefone da sala-de-estar tematicamente decorada que custou o olho da cara lavada com a qual se conseguiu o empréstimo dos seus papis, minha querida, desencana que hoje em dia todo mundo é fashionista, cineasta, pós-tudo neo-qualquer-coisa, e ninguém mais agüenta esses papéizinhos babacas! caguei se seu armário é vintage, é LUXO e PODER! eu quero mais da vida que ser vetor apontado pro lodo, qualquer coisa que altere o status quo, qualquer coisa que não fixe... pra mim ter um discurso rústico e supostamente consciente, pelo outro extremo dos arquétipos, tbm não diz absolutamente nada. as pessoas, engraçadas que são, adoram dizer que detestam os rótulos, que não tem nada a ver, que estilo não se compra se TEM, assim como autenticidade-originalidade-personalidade e outros "dades" que entram na roda sem querer... mas não perdem a oportunidade de tirar uma fotinha na boate pra chegar as 4 no orkut e dizer hohoho viusó como soy bella&bien-aventurosa? tenho um footógrafo que fez um book de mim pra eternidade, e dois VIPS pro Skol Vibes ou qualquercoisaassim. ninguém quer realmente curtir o momento, isso é o que menos importa pra esses seres exóticos², eles querem mesmo é mostrar que viveram INTENSA e psicodélicamente aqueles momentos, todos ficaram tortos divertidos e fanfarrões, ou seja, que eles vivem e você¹, ha-ha-ha, não. e o mais triste dessa saga miseravelmente desgastante é que só o que conseguem fazer é se encaixar em esteriótipos, imagens toscas, no sentido denotativo mesmo, imagens mal feitas de momentos fugazes e contextualizados da vida.
ano que vem ninguém mais sabe o que foi essa porra dessa febre pela starbucks, que a cor da estação é ocre, que Administração não é a mais a boa pro mercado, e no final de tudo, qualquer tentativa de eternizar uma tendência atual se tornou automaticamente obsoleta a partir do momento em que foi alçada à luz do mundinho mágico da internet.

Pessoas, queiram ser mais que meramente propaganda, não sejam tão marketeiros, invistam em vcs mesmos, por favor, é disso que o mundo precisa, gente consciente de si, da sua capacidade, não de gente iludida, de gente que acredita em rascunhos e resumos feitos de si mesmo; quanto mais sobrepujamos com limites os papeis que desempenhamos em diferentes circunstâncias, menos eles atenderão à demanda de seu contexto; admitir nossas diversas faces e potencialidades, significa percebê-las dentro do espaço em que podem germinar, guarde os papéis que vc interpreta pro momento em que lhes são convenientes, não se pretenda o papél desempenhado, Não se confunda!, o que nós somos sempre transcende o que queremos ver/mostrar de nós - difícil dizer essas coisas sem ser incomodamente cafona, ou sem cair no lugar-comum do existencialismo, mas é sempre nossa escolha quem nós somos, e acreditem, essas pessoas, como todas as outras, podem ser muito mais que um modelo-ideal fadado ao ostracismo.





¹ - "você", no caso do agente que enseja a invejinha alheia ser uma mulher, é uma outra mulher que se encontra - geralmente - em uma situação de vida que por qualquer [equivocado e parcial] motivo a mulher1 considerou mais digna que a sua própria. isso tudo sem conseguir admitir pra si mesma, seu ímpeto de ostentação, a insegurança adjacente, dentre outras subliminaridades predominantemente femininas...

² - o que será que eles comem?

sábado, 11 de abril de 2009

Estatutos do Homem de Bem

difícil falar a língua da gente aqui de baixo,
é preciso deixar um monte de coisas
que fazem sentido
de lado...
difícil
disfarçar o sorriso,
e se permitir ser medido
por preconceitos analógicos

é preciso não suportar a doçura,
e a culpa...!

é preciso não pegar com as mãos
o sofrimento que for causado,
é preciso ser antiético e bruto
porque sensibilidade já é passado

precisamos negar
o que nos enche os olhos
e que não é consumado
(pelas idéias da razão),
o que nossos dedos não tocam...

a vida, aqui,
é um pote de ração.


((não foi o tédio aquilo lá que nós matamos,
- ali na esquina, a arma sob o pano -
nós matamos a Deus¹,
[com a nobre consciência, pungente]
com os nossos próprios indicadores de humano,
e nosso mórbido medo,
latente.))






¹ matamos à idéia de Deus, como é contextualizado pelo Nietzsche em alguma página de O Anti-Cristo (talvez). matamos o Deus-criador-dionisíaco (coisa que a Igreja Católica tratou de sincretizar e transformar em um Deus moralista babão), e agora nos impomos o castigo da religião martirizante e saímos em expedições auto-flageladoras rumo à nossa vida superracional: morrer trabalhando, ou morrer tentando.
óbvio que ele não diz isso com essas palavras, só estava tentando situar o leitor. ajudas nesse sentido sempre serão bem-vindas, ok antônio?

um beijo pra seilá quem que pode estar lendo... =)

pra quem curte um discurso...

minha forma de ver as coisas é bem simples.
na verdade não é, mas meu professor de redação disse que é importante ditármos verdades em nossos enunciados. então a partir daí, da verdade que sabe-se parcial, podemos perceber que todas as estações, todos os pontos, que compõe a vasta malha rodoviária da nossa Concepção da Vida, todos eles tornam-se verdades fundamentais e indubitáveis, por mais que se colocadas juntas em comparação talvez caíssem numa contraditoriedade difícil de ser engolida. e pra ser sincera, eu não tenho nada contra essa concepção. cada perspectiva que temos realmente grita tão alto, que quer se dizer única e insubstituível; mesmo que dizê-La de acordo com Seus Anseios irredutíveis de Idéia seja negar essencialmente outra, a quem se "contrapõe". não me importo muito com as famigeradas contradições, pessoalmente. até porque o pensamento, por si, não trás consigo o fardo da coerência - nós, como um construto social, o trazemos, mas não é algo que diga respeito à sua essência. nossos sonhos nos confirmam isso, e diriam muito mais se nós conseguíssemos alcançar novamente o valor das coisas e não somente evocar seus nomes; se conseguíssemos enxergar a essência dos eventos, e não o valor atribuído, ou comparativo... e não fazer isso (não enxergar os eventos em essência) significa sentir o peso de algo em detrimento de outro, uma concepção totalmente condicional. é óbvio que essa necessidade de ponderar é totalmente essencial pro processo de identificação (que diz que você reconhece tal atributo porque reconhece em si mesmo)/ austeridade (que diz que você não reconhece tal atributo porque não o enxerga em si) para constituir certezas relativas de mundo, mas tbm é importante reconhecer nisso um mecanismo racional básico, e considerar que não necessariamente essa é a única maneira de perceber. tentar "superar" as limitações da mente não significa negar sua contundência, significa simplesmente tentar ampliar os espaços subjetivos dentro dos quais ela, a mente, trabalha com os conceitos. falando de maneira menos subjetiva, perceber a vida de forma espiritual/metafísica, por exemplo, é mais uma esfera na qual você reconhece determinados valores e através da qual vc TBM vê o mundo, traça suas relações interpessoais, analisa um evento, debate sobre etc... a inteligência, palavrinha muito subjulgada ultimamente, não se contenta com colocar as essências em frascos e dar nome a eles! ela pede espaço, material para assimilar, objetos para criação, crer nela como um mero mecanismo de categorização ou reprodução é subestimá-la radicalmente.
e é isso que temos feito com nós mesmos. o sentimento moralista diante da criação, a tentativa de constituir uma arte moral que não fira os pudores - que não permite que se mostre a banda podre, que não concebe o lado também mórbido das aspirações e fantasias... - não só reduzem a arte ao que é afável aos olhos, como nos obriga a colocar dentro do armários, sob pequenas doses de empurrões para que coubesse, um largo lado de nós. e com isso, criamos mais bichos de 7 cabeças (bem mais que podemos suportar em uma existência sadia), de modo que viver em nosso corpo seja como viver em território desconhecido, e se acabasse por se perder nos obscuros quartos de consciência esvanescida, traumas, bloqueios, escapes, projeções, transferências, e quanto mais jargões demagogos forem necessários pra exprimir...
o grotesco é o que dá asco, mas também é o que instiga, de maneira oposta ao sublime, e estético - estes últimos, rocha na qual inscrevemos os 10 mandamentos da arte como-ela-deve-ser. deixado de lado, distanciamo-nos um passo a mais do que chamamos ser humano (por um estranho sentimento de auto-comiseração e auto-piedade), mas que por falta de decência e sinceridade, por termos decidido fechar tantas vezes os olhos pro que nos chama, conseguimos ser menos ainda que isso, menos ainda que humanos. e não me venham dizer que somos animais, porque os não-humanos sabem muito bem o que deles é esperado que sejam, e seu lugar no mundo...
a busca por sermos humanos é bem mais que imaginamos... é uma saga constante, e os objetivos estão tão distantes que anuviam-se, lá ao longe... encobertos por uma nuvem preta que estica-se com vontade por todo o horizonte, logo ela vai chover de volta as águas e ares de racionalidade superficial e percepção cartesiana.
enquanto buscarmos nos nossos objetos de contemplação o que não conseguimos contemplar em nós, nos faltará suficiente honestidade para lidar com a vida. é preciso muita franqueza pra dobrar os olhos pra dentro, muita sensibilidade, somos frágeis, todos, em níveis diversos, e se não levarmos isso em conta nos nossos relacionamentos seremos sempre todo farpas, brutos, os primatas sempre farão melhor... não conseguimos olhar pros nossos monstros escatológicos babões e cheios de dente, nao conseguimos admitir vulgaridade, mesmo que o Amor - nosso deus preferido - muitas vezes o seja (vulgar), e seja tbm coisas muito mais inaceitáveis que isso, mas que por entropia, por incapacidade de enxergar os acontecimentos sem um forte julgo moral, mais uma vez nublamos o olhar conscientemente e fingimos que não vimos o quão doente podemos ser, quando estamos pela metade.
eu receio ser sempre incisiva nas minhas falas quando digo que "é preciso", na maioria das vezes digo porque penso ser verdade, mas o leitor tem que entender que pouquíssimas expressões possuem esse nível magnânimo de impacto e persuasão. e por isso torno a repetí-lo mais de 5 vezes em cada texto.
paciência.
mas voltando, eu vim reiterando ao longo desse texto a urgência de equilibrar essa balança que nossa espécie descaralhou, o equilíbrio dos arquétipos, estamos já soterrados da cultura hierárquica patriarcal, da cultura da carne, da legitimidade, da labuta, do conhecimento, da matéria, da ciência... o reino da racionalidade se extendeu muito mais que deveria, estamos embrutecidos, ou descrentes demais pra enxergar qualquer viés para fora dele.
e é por isso que é preciso prestar atenção aos nossos sinais internos, tão tímidos e quase inconscientes que se escondem; perceber o que nos têm faltado, o que projetamos nos outros, ou em nossa fala...

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então eu pretendia elucidar nesse post o porquê do nome do blog, e meu pensamento é péssimo tentando operar linearmente... aí, digamos que eu creia, ainda dentro dessa noção dos arquétipos complementares, que a leitura é o alimento do escritor, que absorver é tão necessário quanto extravazar, e que eu achava de certa forma que o que eu penso e sobre o quê reflito fosse ser digno em alguma esfera de ser lido...
e nisso tudo eu leio e escrevo horrores, verborragia
e quem curtir um discurso, fagocita.
ENFIM


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"Surrealismo:
Substantivo. Puro automatismo psíquico através do qual se deseja exprimir, verbalmente ou por escrito, a verdadeira função do pensamento. Pensamento ditado na ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda a preocupação estética ou moral"


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link do meu antigo blog: Louie, Louie


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