eu que dizia nao saber nada de mim
agora vejo um monte de pessoas, com seus textos, um monte de pessoas com suas partes ensaiadas dentro de mim
acostumadas a mostrar o que lhes propus - eu, a voz da educação e do bem-falar, eu, vinda de fora colonizar, as terras sombrias e selvagens desse mundo inteiro escuro ermo aqui dentro de luiza, eu, eu mesmo, me contagio com o ar puro, bato palminhas, quase quebro as unhas, paro um pouco respiro, escuto
os sons naturais que aqui se permitem, aqui não tem vizinho, é estranho pisar em terra que não tem vizinho pois não precisa se medir a intensidade da pegada (a não ser a ecológica, que essa sim deve ser ponderada), mas a pegada dos pés mesmo não precisa... que diferença faz um lugar onde a gente pode gritar! porque ninguém ao lado vai ligar pra portaria pra reclamar, nem o nosso corpo vai ficar tímido de ostentar toda aquela força aquele vigor, aquela libidoenergia que é proibido e falta de cortesia, nosso corpo pode gritar, se assim ele quiser...
mas ele não quer agora. digo isto por ele, não está com/a vontade. agora estou ocupada pensando, agora estou ocupada resolvendo, resolvendo... me movendo sempre pra frente, sempre desbravando, sempre sem tempo, sempre pouco sendo, sempre muito o movimento pra frente pra frente pra frente, pra cima, subindo a montanha, sendo o esforço, eu canso mas não canso sempre, mas também não sinto a recompensa, não posso parar, tenho que subir, mas paro um pouco mesmo assim...
escuto o som limpo do ar umedecido de mata atlântica, floresta amazônica, eu sempre confundo tudo mesmo, o ar úmido... som úmido, quer dizer...
mas quando estou quase tirando meus pés do chão, estou quase esquecendo quem sou para finalmente ser, esquecida a mente, quando finalmente quase findo a linha de raciocionio que ia me fazer entender Tudo sobre mim e sobre Tudo, quando finalmente Tudo, quando finalmente, fim.
(e nada se esclareceu pra mim. e o pensamento continuou pensando. e ansiedade continuou movendo as peças, e distribuindo papéis, cuidando pra que tudo fosse perfeito, imparável, oco, e eternamente tudo isso; pra que a vida não se ocupasse de desafinar o coro, para que a liberdade não lhe questionasse os papéis e não os queimasse todos numa grande fogueira sem sentido, pra poupar o Amor de dessignificar as ilusões, pra poupar o Amor do seu brilho escarificante, para poupar o Amor do que não preciso, porque eu posso, eu posso, eu posso... tudo isso...)