...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

eco

eu que dizia nao saber nada de mim
agora vejo um monte de pessoas, com seus textos, um monte de pessoas com suas partes ensaiadas dentro de mim
acostumadas a mostrar o que lhes propus - eu, a voz da educação e do bem-falar, eu, vinda de fora colonizar, as terras sombrias e selvagens desse mundo inteiro escuro ermo aqui dentro de luiza, eu, eu mesmo, me contagio com o ar puro, bato palminhas, quase quebro as unhas, paro um pouco respiro, escuto
os sons naturais que aqui se permitem, aqui não tem vizinho, é estranho pisar em terra que não tem vizinho pois não precisa se medir a intensidade da pegada (a não ser a ecológica, que essa sim deve ser ponderada), mas a pegada dos pés mesmo não precisa... que diferença faz um lugar onde a gente pode gritar! porque ninguém ao lado vai ligar pra portaria pra reclamar, nem o nosso corpo vai ficar tímido de ostentar toda aquela força aquele vigor, aquela libidoenergia que é proibido e falta de cortesia, nosso corpo pode gritar, se assim ele quiser...
mas ele não quer agora. digo isto por ele, não está com/a vontade. agora estou ocupada pensando, agora estou ocupada resolvendo, resolvendo... me movendo sempre pra frente, sempre desbravando, sempre sem tempo, sempre pouco sendo, sempre muito o movimento pra frente pra frente pra frente, pra cima, subindo a montanha, sendo o esforço, eu canso mas não canso sempre, mas também não sinto a recompensa, não posso parar, tenho que subir, mas paro um pouco mesmo assim...
escuto o som limpo do ar umedecido de mata atlântica, floresta amazônica, eu sempre confundo tudo mesmo, o ar úmido... som úmido, quer dizer...
mas quando estou quase tirando meus pés do chão, estou quase esquecendo quem sou para finalmente ser, esquecida a mente, quando finalmente quase findo a linha de raciocionio que ia me fazer entender Tudo sobre mim e sobre Tudo, quando finalmente Tudo, quando finalmente, fim.

(e nada se esclareceu pra mim. e o pensamento continuou pensando. e ansiedade continuou movendo as peças, e distribuindo papéis, cuidando pra que tudo fosse perfeito, imparável, oco, e eternamente tudo isso; pra que a vida não se ocupasse de desafinar o coro, para que a liberdade não lhe questionasse os papéis e não os queimasse todos numa grande fogueira sem sentido, pra poupar o Amor de dessignificar as ilusões, pra poupar o Amor do seu brilho escarificante, para poupar o Amor do que não preciso, porque eu posso, eu posso, eu posso... tudo isso...)

Quem sou eu