...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

fim do ano e reclamações metafísicas

o fim do ano parece abrir um portal pra que entre todo tipo de arrependimento fútil. às vezes nem tem a ver com suas "escolhas erradas", ou as vezes tem sim a ver, mas eu sempre penso que se arrepender por essas coisas é quase sempre bobagem... pena também que pensar que é bobagem não faz o sentimento parecer mais tosco, ele é bem sólido na verdade.
queria ter nascido numa familia maior, com gente da minha idade. todas as festas estive rodeada de adultos, e observando-os e interagindo com eles em grande medida. algumas horas os achava mais tristemente previsíveis do que os acho hoje! outras vezes, simplesmente não entendia suas dissimulações, e a aparência de importância que revestiam alguns assuntos - do tipo, quando perguntamos aos nossos pais algo que eles considerem chocante pra ouvir de uma criança, eles se reservam se fecham e pensam pensam pensam muito pra dar uma resposta boba como quando você for mais velha eu te explico...
desde criança também vejo os visistantes, amigos do meu pai, de minha mãe, das seguintes namoradas e namorados dos dois, meus próprios coleguinhas, indo e vindo, e ninguém permanecendo, ninguém permanece.
sempre estive imersa no meu mundo de fantasias e de grandes histórias sobre coisas pequeninas, sobre uma tal semente, ou uma flor engraçada, as longas conversas com o Pequeno Polegar... sempre carreguei somente a mim mesma em todos os lugares, sempre tive a certeza melancólica que quase todos os momentos cruciais de nossa vida sempre estaremos sozinhos. mas voltando aos desejos bobos... queria não ter nascido tão cruamente racional e tão inumanamente sensível, e que tenha que viver pra conciliar esse paradoxo inestinguível. minha vida é estar sobre uma carruagem, domando cavalos arredios e independentes, cada qual desanfreado atrás de seu próprio caminho, em direções e intenções opostas. queria não ser tão ansiosa, e conseguir firmar meus pés sobre o presente agora. essa intranquilidade, esse tédio, consigo me sentir quando tinha 14/ 15 anos, o tanto que não me senti assim naquela época... vivo uma tentativa frustrada de manter o equilíbrio, tendo que estar sempre conciliando lados tão largos, e tão obtusos dentro de mim. sei que todo homem, há de viver suas dificuldades específicas, mas sei que me canso, há mto tempo me canso, quando volto a mim me sinto com 60 anos, rastejados, e quietos, uma fera falsamente amansada pela cultura, por dentro muita mágica e sentimento lunar, um mundo inteiro trancado dentro de sua racionalidade estanque, sem gravidade. tudo ferve por dentro, e por fora só o marasmo.

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