...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

desperdicite


me cansa tanto

3 litros de um líquido tão precioso

fora

meu arcano, meu amor de poetisa e de prosa

meu lirismo meu

vinho tinto

quero que o senhor leve de volta

pra lavar

sua palavra suja

seca, presa na garganta

seu galanteio mais que barato

um gemido obediente sem recheio!

e tão de tudo em torno e tão fácil quanto o dia, que nasce para todos

mas ao se pôr não pisca pra ninguém:

és vósmicê uma pausa do discurso,

barato como capim!

não diz nada seu abraço, seu agrado,

não tem nada pra dizer!

seu 'sim' quieu tanto trabalhei pra ouvir

é acontecido no vácuo e ninguém nunca soube mesmo se tinha sido isso

ou se tinha sido o contrário

o que você disse pra mim


a conveniência cartilha pra chegar perto de você me fere os passos

(e o espaço)

me racha

minha euforia infantil

se propondo à triste marcha

de comprar doces fiados na padaria

querendo convencer o padeiro pela doçura

e não pelos atributos disponibilidade e pela persistência

não queria a guerra dos sexos, queria o sexo em franca festa

queria eu, criança, queria eu, a raça de fêmea

atrair pelo cheiro e não pelo jogo


a sorte que suo e que sei do destino

do tempo e dos ciclos

é que vira a noite, e o inverno - a estação das flores vem

e eu vou me arvorar onde o lugar ao Sol

seja mais conforto, e menos custoso

que a clareira estreita que você abriu pra eu crescer


terça-feira, 21 de junho de 2011

uma ode à forma e à delimitação

a impressora sem bandeja cospe folhas desordenadamente
cobre o carpete velho do escritório de folhas escritas cuspidas ainda quentes
a contenção da bandeja não é represa, aqui veja
pode ser seu suporte!
sem essa tal bandeja - que não é a megera embora pareça -
se lançam as palavras ao chão, suicidadas,
presas ao papel que lhes descreve a forma, presas à forma da qual não escapam
: ainda sim sem discernimento
as folhas caem do alto da estante distraídas, distantes, lambem o cimento
algumas acidentalmente voam pela janela, saem descalças por debaixo da porta, outras se desintegram na piscina do edifício ao lado

em tempo: dar apoio não afunda os ombros, não faz corcunda nem estrago,
como também nem espeta - também nem sufoca,
faz crescer, nem aperta nem poda

mãos seguram flores e adoram peles pêlos plumas, selos
não só as oportunidades que seguem seu rumo - mãos nem sempre seguram
bandeiras e bustos não constroem histórias e homens públicos
a fundação de um espaço ou de um monumento não é o pretexto perfeito pra bandeiras e bustos
mas nem por isso se poupa uma praça ou um prédio
do gentil gracejo do pano da bandeira
que dá vida ao vento em bruxuleio,
nem por isso se poupa o sono do bocejo,
nem por isso poupa a franja a visão dos olhos, então,
que seja livre a alma,
que ela possa ser! que possa ser a pureza do conteúdo
e que seja clara e que todos possam provar da clareza que nela possam ler!
edificar é ofício sem desespero, não tem que ser difícil
mas que saber do térreo o andar que se constrói primeiro

quarta-feira, 15 de junho de 2011

notas de brincar de notas

tecendo notas em pleno fim dos tempos. teço notas como quem vivencia um cântico ancestral. descubro meu espaço sagrado quando estou tomando notas. vivo minha hora de poder. antigamente a incoerência do fim de tempos me assustaria e entupiria todos os meus sentidos e eu ficaria estática. a voz da sobriedade que se crê razoável assim me diria, o disparate, a infâmia do fato. jornalistaria vivendo essa cena, enfarpada e elétrica.
mas continuo tecendo notas. a vibrar o fim do mundo. isso é quem eu sou agora. tecendo como cada pensamento fosse um fio.
como a sensação também é o fio (da colcha e da navalha) e o ar e o som discreto que faz o ar dando sentido ao fio, animando a mão que tece fios como notas - essa relação ninguém escuta,
e como tudo vem desse mundo invisível antes de ser som e fio, pensamento e palavra escrita ou falada...

tecer notas está me transformando. já não são mais notificações, isso que registro e imprimo na minha pele - papel mais que perene - já não é estatística pura. não é fenomenologia da impressão. não é número impresso no boletim. não é o ridículo tentando professar o infinito. não modela o barro previsível. também não quer espiar dois dedinhos no futuro.
são notas de cheiros, notas de luzes, de presente, feixes brechas e objetos, refletores, vidros, espelhos e estrobos. são imagens antes de serem imagens.

as notas que tomo estão me transfigurando. entorno um balde de histórias sobre meu crânio e do seu interior oco e vascularizado se arvoram caules com flores na ponta, folhas no comprimento. e as notas são o cheiro que inalo dessas flores. o que elas me dão sem saber. minhas notas não são mais cacos, sua emanação não tem poderes de reconstruir a idade de um rosto.
são notas de piano. anedotas de bêbado. passagens grandiosas da bíblia, talvez até um discurso exaltado de crente. não são páginas derrotadas de dicionário, embora que todo poeta dele se farte as vezes, pra sua arte.
são notas que são VÍRGULA mas não são tão, que não foram mesmo feitas pra ser. não nasceram, mas existem, e não tem muito a contar de si mesmas.
pedem olhar vivo olhar crédulo de criança, pernas fortes, joelhos bixados. não contam estórias, é, mas cantam caladas, e se silenciarmos os sinos e a ansiedade, podemos ouvi-las larilarár. é bonito o que dizem sem dizer.
são surdas e seu mundo interior é rico dos sons impossíveis. chegar e morar onde vivem as notas me faz respirar melhor.
cantarolar já tem outro significado, e eu já não sou mais a mesma.
isso é quem eu sou, por ora.

sábado, 11 de junho de 2011

la sombra

nao quero padecer do mal de fingir que nao há mal dentro de mim pelo qual se possa padecer
quero ver bem onde não estou satisfeita, não pq isso resolve, não pq higieniza, mas pq assim eu entendo todas as coisas que venho buscando desesperadamente fora de mim pra me alimentar,
pq isso me integra, e faz par com a exuberância do belo - que não está a sós nesse Universo.
desse jeito, vejo o que em mim eu preciso tratar, que bico vai pra que boca e que - declaro em letras garrafais para não passa em branco - não posso fugir disso. prefiro essa menina embaixo na terra, segurando a rabiola que sou eu, pra que eu nao voe despreocupadamente pelos céus desligada da menina que vive a vida muitos pés abaixo da pipa. vamos amar essa menina, Luiza, vamos amar!



#subconscience talking

imunohiperatividade

sabendo que essa vontade que arde aqui no peito agora, que ninguem pode dar jeito nela, aplicar-lhe uma sentença, nem melhora-la..., ela que não pertence a ninguém mesmo.. não posso apagá-la, nem pagar pela sua sobrevivência, não posso mostrar pra alguém, como se tira algo do bolso e se revela a outro, OH! é um relógio!?!?! (isso é só um exemplo)
não posso aceitar essa febre de todo, ela não me permite decidir, nem pensar. há algo sobre ela que não me permite puxar o ar, não me permite projetar sobre o mundo, é muito grande. é maior que o que vejo como sendo esse tal de mundo. é maior que o que posso pensar. é maior que o maior buraco no Universo onde ela poderia caber. maior que Tudo o que a raça humana ignora sobre seus céus. não cabe nem no vácuo, nem no infinito, nem em lugar nenhum. quase na imaginação ela não cabe. e se for nas palavras, só se forem muitas!

descobri que essa solidão ninguém pode acompanhar. e só consigo pensar:
e agora, então...? e agora?

esse fogo que quer acordar os pais, as folhas de caderno antiiigas escritas e animar o sono das formigas (afogadas no pires dágua onde descansa o mel)! e mais todos os corpos defuntos que estão desacordados na fila do banco, este fogo que quer convencer da beleza, que quer comover o sorriso da burocrata! quer perceber que faz-se percebido. e não aceita menos vida que isso.
a felicidade de mostrar um ticket prum amigo, de ver os olhos do amigo crescerem e a excitação compartilhada de terem ganhado um ticket que vale pra coleção também compartilhada; presentear e de súbito o presente piscar a quem faz aniversário um de seus olhos.

essa ardência é tudo isso. e por favor, não me venha com um copo d'água. quero aprender a amar isso que pede atenção incondicional. estou disposta a check back my agenda. quero olhar pro seu rosto e decifrar o seu coração com o meu coração de agora, de adulto. quero de repente até lhe pagar um curso de redação pra que aprenda por si só a amar-se também, e a expressar o que tem dentro de si. que arde. eu sei que arde. e entendo o que ninguém entende, e sabendo que alguém pode ao menos olhar para ele, este menino de chinelo arrebentado, olha pra cima, desconfiado. e então sorri, os olhos baixados. e eu sei nesse momento que temos o mesmo fogo queimando os botões da camisa pelo lado de dentro.
e eu amo o que compartilhamos em silêncio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

satya



eu preciso viver a verdade agora
antes que seja tarde, antes que tenha sido a toa
já vi, estou vendo, que são desperdiçadas despedaçadas desesperadas e desprezíveis
desperdissíveis
as máscaras, a toa
são enfeitadas e seus enfeites são sua dor de não serem verdade
o sol que é vestido de verdade, sua beleza é visível
não interpretável
a máscara fixa, é imóvel
não dança, é estável e mentirosa
não quero
não quero dança tbm, quero slêncio
e possibilidade
preciso viver a verdade agora que a vejo a quero e não há nada mais no mundo pra mim
se não a disponibilidade voraz da verdade
se não a disponibilidade: sorriso-sem-palavras: da verdade
sua pura e luminosa mobilidade, seu puro franco e eterno estado de espírito

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu