...No princípio era o Verbo...

quinta-feira, 20 de março de 2014

ver o símio

ver o símio
encarar cara-a-cara
adorar a verdade
coroar
o crânio que resta
e que conta histórias
verídicas

amar o que sobra
invicto
às poeiras dispensáveis
do recinto

aprender a espanar
os trapos
os argumentos baratos
e descobrir o honesto

revira o discurso
e enfrentar,
com tudo
a frieza sem plásticas
(macaca)
do que é verossímil

porta de incêndio

vou deixar você descobrir meus truques
depois que você for fuçar
os fios de que sou feita

vou permitir que você chegue
onde nenhum outro homem chegou
à superfície lua da minha mente
à superfície crua da minha boca, rente

vou deixar
a porta aberta
você entrar
e eu te espero
testemunha
do espaço que vivo e abro
pra você
chegar

reflex (06.12.13)

(...)

mas existe uma revolução silenciosa que acontece quando pares de olhos não me encaram mais. quando estou só. primeiro, um alívio. não preciso
e depois, quando o silêncio é mais profundo, a pergunta: por que me revolto? quem é esse outro que me intimida tanto? por que eu me acovardo quando me acovardo, e por que me visto de armas quando me visto de armas? parece filosofia do mundo de sofia, mas é espontâneo. quero mesmo saber.

quem é esse outro? contra o qual não tenho chances? contra o qual não tenho chances de me mostrar como sou - inteira, flácida, generosa, arredia, ácida, intrépida, cruel, amável, carinhosa, boa amante, todas essas...

minha cabeça colhe características boas e ruins e eu já nem sei mais qual é o critério. não sei quem me ensinou isso. quem me ensinou a ser assim.

no começo me disseram que era bom ser quieta e concentrada (que eu não era). depois me ensinaram que é bom ser expressiva e atraente (que eu não me sentia sendo). me disseram que é ruim falar o que pensa no ambiente de trabalho (que eu faço, profissionalmente). me disseram que é importante ser honesto, franco e transparente (que eu sempre fui, mas começo a duvidar desse conselho, em especial).

não sei mais de nada.

estou abraçada em minha inocência como a uma bola grande, do meu tamanho, estendida sobre ela. sem saber o que fazer com ela. sem querer jogar ela fora. isso não, eu me recuso, juro. não vou jogar. mas tem outras ferramentas que talvez eu precise alcançar, com as mãos que agora palmeiam a bola.

preciso aceitar que me chateio. que espero. que desejo. preciso validar o que me chateia, o que eu espero e desejo. e não só o anseio que me chega de bandeja. não só o que me espera. não só o que em mim, chateia.

como dizer o que sinto ao mundo que eu sinto que não quer nada comigo?
muito difícil... muito difícil.

quando sinto que sinto, que queria mais desse outro, que precisava mais dele, me sinto em um beco sem saída. tipo E AGORA? agora eu senti e essa porra não vai adiantar nada.

mas também não posso pôr minha fisiologia à prova por causa de um outro que não sente o que eu sinto, que não sabe como eu sou, e que - doa a quem me doer - se precisar se salvar em alguma situação, pode tranquilamente me deixar na mão. aliás, já faz isso.

que aprendizado fudido. esse vai e vém do que quero com/ aceito de/ o outro.
acho que cansei um pouco...

Quem sou eu