...No princípio era o Verbo...

domingo, 26 de abril de 2009

Ensaio sobre Tudo

...da Política aos Sonhos.

quem foi que disse que sonhar não é digno? onde está a dignidade em se resignar às Coisas Que Existem (e enxergamos)?
onde está a verdade em viver 1/10 da realidade para que o cérebro continue a repousar, lépido, quase morto de tédio, sem sinapses epifânicas?
aonde ser um Ser estacionário leva a gente a algum lugar? que retorno isso dá?
a sensação de poder se omitir em uma decisão importante, de ser únicamente um confluxo de forças e seus atos mero reflexo dele?
não sonhar pra não arcar com as responsabilidades do sonhar? evitar pensar no pensamento que te leva a elocubrar sobre eventos que seu sentir não consegue suportar?
eu acho o contrário, acho que a gente tem é que mergulhar em tudo, ir por onde achar que deve, atolar o pé no que dói, no que a gente tá sentindo de verdade. viver tudo, porque é pra isso que nascemos, tem que ser de sangue e saliva, a vida, se não não faz sentido...
é preciso não deixar os sonhos suspensos, inertes, eles são justamente a prova viva da Energia Dinâmica que nos permeia - não podem simplesmente existir. manifestar É sua essência. dos sonhos, eu digo, e de toda a gente também. como diz até o Fichte, quando menciona que a essência do que vive só o é, de fato, se se manifesta através da ação, das atitudes...
pessoas passivas são simplesmente erros cósmicos, estão indo contra a efervescência da vida, estão indo contra seus eu's levianos e despreocupados, tão dispostos a transformar o que é banal - aglutinar novos significados, e nomes, e cheiros, e texturas.
não estou querendo dizer que são a escória, que deviam ser mortos, junto das pobres almas esteriotipadas, mencionadas no post anterior... é só que me dá um aperto absurdo no peito e na consciência, saber que há gente que deseja tão pouco; que o mundo high-tech globalizado (confluência de jargões batidos agora uhuhu) tenha dado a sensação-miragem às pessoas, de que elas não precisam de mais nada, de que tudo está preenchido, e se não, a vida vai levando de alguma forma... é triste pensar que a maioria das pessoas SONHAM poder ter o carro do ano, uma vida estável, enquanto podiam querer tanto mais; e mesmo as que são imbuídas da pretensão de mudar o mundo, pensam maneiras de melhorá-lo sem pensar nos que estão na base dessa estrutura, naquelas que não são vistas no dia-a-dia, ou contempladas pela mídia, sem pensar nos ambulantes, nos agricultores, nos desnutridos... é só injetar 4bi no banco central que acabou o problema da crise! só fazer uma "limpa" nas ruas e nas vias que aí tem espaço pra galera circular, tudo limpinho... só uns 350 trabalhadores informais sem as mercadorias que compraram - dividida entre os guardas Municipais - e sem poder vender nas ruas...que tipo de bem estão fazendo pra essas pessoas? ¹
as pessoas (eu adoro falar delas né, já deu pra perceber), pra fora da cúpula de representantes-que-não-representam, não percebem que estão vivendo num sistema doente, e que junto dele, adoecem também. adoecem todo dia, arrebatados pela propaganda antiética e corrosiva, com os discursos negligentes, sorrisos falsos, com o abismo entre os corpos na rua, com o olhar já turvo de tantos valores pífios, de tanta pequeneza, um dia não caberão em suas carcaças...
nosso sistema atual pega o pior da condição humana e a abstrai à estratosfera, de forma que uma pessoa efusiva e simpática se torna automaticamente interesseira, ou arrogante; um sonhador - um iludido, e por aí vai... a lente com a qual o sistema conta é ensebada por uma forte camada de "inveja". é olhar pro outro já esperando que não vá te acrescentar nada - porque se esperasse o contrário, se desarmasse da vaidade desnecessária, encontraria-se incontáveis vezes abolutamente enfeitiçado pelos universos de outr'éns, e isso seria totalmente inaceitável pro seu darlin' ego², pra sua vontade de superação das virtudes alheias. até um pouco cansativo, estar a todo momento se surpreendendo com a multiplicidade de jeitos e formas de se ser e de jogar o corpo no mundo...

no final de tudo, it all comes down to this: ou você é um acomodado, ou é um romântico irrecuperável ou um competidor sangrento; fora desse campo semântico nomenclatural não existe vida. você vê, não nos deixaram muitas opções...
é por isso que eu agarro firme meus sonhos, durmo e acordo com eles todos os dias, aqueço-os com muito amor e vontade que floresçam, e dou a eles toda a atenção que o resto do mundo não tem de mim... mais que criações abstratas, eles são as sementes que eu quero ver germinar no meu hoje, no meu agora! porque amanhã ninguém sabe...


(os dois últimos textos foram escritos depois de ouvir/ler percepções e projeções de alheios, precisava tornar público ;p)

¹ - um dos projetos emplementados pelo Choque de Ordem.

² — Nosso modo de perceber é o modo do predador — ele me disse uma ocasião. — Um jeito muito eficiente de avaliar e classificar a comida e o perigo. Mas não é o único jeito que temos de perceber.




"O INTENTO não é um pensamento, ou um objeto, ou um desejo. O INTENTO é o que pode fazer um homem vencer, quando todos os seus pensamentos lhe dizem que ele está derrotado. Opera a despeito da indulgência do guerreiro. O INTENTO é o que envia o xamã através da parede, através do espaço, para o Infinito."


letargia

dormindo,
acordar
domingo

domingo,
acordar
dormindo

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mais um da série...

"O que eu não suporto no mundo, mesmo com toda a minha recém-adquirida capacidade de respirar fundo..."



não aguento essa mania q o povo tem de ser complexo, de ser artista, de ser absolutamente incompreendido ou inescrupulosamente profundo, extravagante a troco de tudo sem noção de nada, zenbudistaescritoryogue que rabisca em folhas de papel reciclável enquanto fala no telefone da sala-de-estar tematicamente decorada que custou o olho da cara lavada com a qual se conseguiu o empréstimo dos seus papis, minha querida, desencana que hoje em dia todo mundo é fashionista, cineasta, pós-tudo neo-qualquer-coisa, e ninguém mais agüenta esses papéizinhos babacas! caguei se seu armário é vintage, é LUXO e PODER! eu quero mais da vida que ser vetor apontado pro lodo, qualquer coisa que altere o status quo, qualquer coisa que não fixe... pra mim ter um discurso rústico e supostamente consciente, pelo outro extremo dos arquétipos, tbm não diz absolutamente nada. as pessoas, engraçadas que são, adoram dizer que detestam os rótulos, que não tem nada a ver, que estilo não se compra se TEM, assim como autenticidade-originalidade-personalidade e outros "dades" que entram na roda sem querer... mas não perdem a oportunidade de tirar uma fotinha na boate pra chegar as 4 no orkut e dizer hohoho viusó como soy bella&bien-aventurosa? tenho um footógrafo que fez um book de mim pra eternidade, e dois VIPS pro Skol Vibes ou qualquercoisaassim. ninguém quer realmente curtir o momento, isso é o que menos importa pra esses seres exóticos², eles querem mesmo é mostrar que viveram INTENSA e psicodélicamente aqueles momentos, todos ficaram tortos divertidos e fanfarrões, ou seja, que eles vivem e você¹, ha-ha-ha, não. e o mais triste dessa saga miseravelmente desgastante é que só o que conseguem fazer é se encaixar em esteriótipos, imagens toscas, no sentido denotativo mesmo, imagens mal feitas de momentos fugazes e contextualizados da vida.
ano que vem ninguém mais sabe o que foi essa porra dessa febre pela starbucks, que a cor da estação é ocre, que Administração não é a mais a boa pro mercado, e no final de tudo, qualquer tentativa de eternizar uma tendência atual se tornou automaticamente obsoleta a partir do momento em que foi alçada à luz do mundinho mágico da internet.

Pessoas, queiram ser mais que meramente propaganda, não sejam tão marketeiros, invistam em vcs mesmos, por favor, é disso que o mundo precisa, gente consciente de si, da sua capacidade, não de gente iludida, de gente que acredita em rascunhos e resumos feitos de si mesmo; quanto mais sobrepujamos com limites os papeis que desempenhamos em diferentes circunstâncias, menos eles atenderão à demanda de seu contexto; admitir nossas diversas faces e potencialidades, significa percebê-las dentro do espaço em que podem germinar, guarde os papéis que vc interpreta pro momento em que lhes são convenientes, não se pretenda o papél desempenhado, Não se confunda!, o que nós somos sempre transcende o que queremos ver/mostrar de nós - difícil dizer essas coisas sem ser incomodamente cafona, ou sem cair no lugar-comum do existencialismo, mas é sempre nossa escolha quem nós somos, e acreditem, essas pessoas, como todas as outras, podem ser muito mais que um modelo-ideal fadado ao ostracismo.





¹ - "você", no caso do agente que enseja a invejinha alheia ser uma mulher, é uma outra mulher que se encontra - geralmente - em uma situação de vida que por qualquer [equivocado e parcial] motivo a mulher1 considerou mais digna que a sua própria. isso tudo sem conseguir admitir pra si mesma, seu ímpeto de ostentação, a insegurança adjacente, dentre outras subliminaridades predominantemente femininas...

² - o que será que eles comem?

sábado, 11 de abril de 2009

Estatutos do Homem de Bem

difícil falar a língua da gente aqui de baixo,
é preciso deixar um monte de coisas
que fazem sentido
de lado...
difícil
disfarçar o sorriso,
e se permitir ser medido
por preconceitos analógicos

é preciso não suportar a doçura,
e a culpa...!

é preciso não pegar com as mãos
o sofrimento que for causado,
é preciso ser antiético e bruto
porque sensibilidade já é passado

precisamos negar
o que nos enche os olhos
e que não é consumado
(pelas idéias da razão),
o que nossos dedos não tocam...

a vida, aqui,
é um pote de ração.


((não foi o tédio aquilo lá que nós matamos,
- ali na esquina, a arma sob o pano -
nós matamos a Deus¹,
[com a nobre consciência, pungente]
com os nossos próprios indicadores de humano,
e nosso mórbido medo,
latente.))






¹ matamos à idéia de Deus, como é contextualizado pelo Nietzsche em alguma página de O Anti-Cristo (talvez). matamos o Deus-criador-dionisíaco (coisa que a Igreja Católica tratou de sincretizar e transformar em um Deus moralista babão), e agora nos impomos o castigo da religião martirizante e saímos em expedições auto-flageladoras rumo à nossa vida superracional: morrer trabalhando, ou morrer tentando.
óbvio que ele não diz isso com essas palavras, só estava tentando situar o leitor. ajudas nesse sentido sempre serão bem-vindas, ok antônio?

um beijo pra seilá quem que pode estar lendo... =)

pra quem curte um discurso...

minha forma de ver as coisas é bem simples.
na verdade não é, mas meu professor de redação disse que é importante ditármos verdades em nossos enunciados. então a partir daí, da verdade que sabe-se parcial, podemos perceber que todas as estações, todos os pontos, que compõe a vasta malha rodoviária da nossa Concepção da Vida, todos eles tornam-se verdades fundamentais e indubitáveis, por mais que se colocadas juntas em comparação talvez caíssem numa contraditoriedade difícil de ser engolida. e pra ser sincera, eu não tenho nada contra essa concepção. cada perspectiva que temos realmente grita tão alto, que quer se dizer única e insubstituível; mesmo que dizê-La de acordo com Seus Anseios irredutíveis de Idéia seja negar essencialmente outra, a quem se "contrapõe". não me importo muito com as famigeradas contradições, pessoalmente. até porque o pensamento, por si, não trás consigo o fardo da coerência - nós, como um construto social, o trazemos, mas não é algo que diga respeito à sua essência. nossos sonhos nos confirmam isso, e diriam muito mais se nós conseguíssemos alcançar novamente o valor das coisas e não somente evocar seus nomes; se conseguíssemos enxergar a essência dos eventos, e não o valor atribuído, ou comparativo... e não fazer isso (não enxergar os eventos em essência) significa sentir o peso de algo em detrimento de outro, uma concepção totalmente condicional. é óbvio que essa necessidade de ponderar é totalmente essencial pro processo de identificação (que diz que você reconhece tal atributo porque reconhece em si mesmo)/ austeridade (que diz que você não reconhece tal atributo porque não o enxerga em si) para constituir certezas relativas de mundo, mas tbm é importante reconhecer nisso um mecanismo racional básico, e considerar que não necessariamente essa é a única maneira de perceber. tentar "superar" as limitações da mente não significa negar sua contundência, significa simplesmente tentar ampliar os espaços subjetivos dentro dos quais ela, a mente, trabalha com os conceitos. falando de maneira menos subjetiva, perceber a vida de forma espiritual/metafísica, por exemplo, é mais uma esfera na qual você reconhece determinados valores e através da qual vc TBM vê o mundo, traça suas relações interpessoais, analisa um evento, debate sobre etc... a inteligência, palavrinha muito subjulgada ultimamente, não se contenta com colocar as essências em frascos e dar nome a eles! ela pede espaço, material para assimilar, objetos para criação, crer nela como um mero mecanismo de categorização ou reprodução é subestimá-la radicalmente.
e é isso que temos feito com nós mesmos. o sentimento moralista diante da criação, a tentativa de constituir uma arte moral que não fira os pudores - que não permite que se mostre a banda podre, que não concebe o lado também mórbido das aspirações e fantasias... - não só reduzem a arte ao que é afável aos olhos, como nos obriga a colocar dentro do armários, sob pequenas doses de empurrões para que coubesse, um largo lado de nós. e com isso, criamos mais bichos de 7 cabeças (bem mais que podemos suportar em uma existência sadia), de modo que viver em nosso corpo seja como viver em território desconhecido, e se acabasse por se perder nos obscuros quartos de consciência esvanescida, traumas, bloqueios, escapes, projeções, transferências, e quanto mais jargões demagogos forem necessários pra exprimir...
o grotesco é o que dá asco, mas também é o que instiga, de maneira oposta ao sublime, e estético - estes últimos, rocha na qual inscrevemos os 10 mandamentos da arte como-ela-deve-ser. deixado de lado, distanciamo-nos um passo a mais do que chamamos ser humano (por um estranho sentimento de auto-comiseração e auto-piedade), mas que por falta de decência e sinceridade, por termos decidido fechar tantas vezes os olhos pro que nos chama, conseguimos ser menos ainda que isso, menos ainda que humanos. e não me venham dizer que somos animais, porque os não-humanos sabem muito bem o que deles é esperado que sejam, e seu lugar no mundo...
a busca por sermos humanos é bem mais que imaginamos... é uma saga constante, e os objetivos estão tão distantes que anuviam-se, lá ao longe... encobertos por uma nuvem preta que estica-se com vontade por todo o horizonte, logo ela vai chover de volta as águas e ares de racionalidade superficial e percepção cartesiana.
enquanto buscarmos nos nossos objetos de contemplação o que não conseguimos contemplar em nós, nos faltará suficiente honestidade para lidar com a vida. é preciso muita franqueza pra dobrar os olhos pra dentro, muita sensibilidade, somos frágeis, todos, em níveis diversos, e se não levarmos isso em conta nos nossos relacionamentos seremos sempre todo farpas, brutos, os primatas sempre farão melhor... não conseguimos olhar pros nossos monstros escatológicos babões e cheios de dente, nao conseguimos admitir vulgaridade, mesmo que o Amor - nosso deus preferido - muitas vezes o seja (vulgar), e seja tbm coisas muito mais inaceitáveis que isso, mas que por entropia, por incapacidade de enxergar os acontecimentos sem um forte julgo moral, mais uma vez nublamos o olhar conscientemente e fingimos que não vimos o quão doente podemos ser, quando estamos pela metade.
eu receio ser sempre incisiva nas minhas falas quando digo que "é preciso", na maioria das vezes digo porque penso ser verdade, mas o leitor tem que entender que pouquíssimas expressões possuem esse nível magnânimo de impacto e persuasão. e por isso torno a repetí-lo mais de 5 vezes em cada texto.
paciência.
mas voltando, eu vim reiterando ao longo desse texto a urgência de equilibrar essa balança que nossa espécie descaralhou, o equilíbrio dos arquétipos, estamos já soterrados da cultura hierárquica patriarcal, da cultura da carne, da legitimidade, da labuta, do conhecimento, da matéria, da ciência... o reino da racionalidade se extendeu muito mais que deveria, estamos embrutecidos, ou descrentes demais pra enxergar qualquer viés para fora dele.
e é por isso que é preciso prestar atenção aos nossos sinais internos, tão tímidos e quase inconscientes que se escondem; perceber o que nos têm faltado, o que projetamos nos outros, ou em nossa fala...

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então eu pretendia elucidar nesse post o porquê do nome do blog, e meu pensamento é péssimo tentando operar linearmente... aí, digamos que eu creia, ainda dentro dessa noção dos arquétipos complementares, que a leitura é o alimento do escritor, que absorver é tão necessário quanto extravazar, e que eu achava de certa forma que o que eu penso e sobre o quê reflito fosse ser digno em alguma esfera de ser lido...
e nisso tudo eu leio e escrevo horrores, verborragia
e quem curtir um discurso, fagocita.
ENFIM


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"Surrealismo:
Substantivo. Puro automatismo psíquico através do qual se deseja exprimir, verbalmente ou por escrito, a verdadeira função do pensamento. Pensamento ditado na ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda a preocupação estética ou moral"


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link do meu antigo blog: Louie, Louie


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JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu