...No princípio era o Verbo...

sábado, 22 de outubro de 2011

Texto sem nome do dia 17 de Abril de 2011

o mistério é sério e faz cócegas quando bate
arregaça as memórias e faz graça da pequena represa que se formou em torno delas
e vielas
não sou evoluído, sou um rugido, um rugido
minha veia pulsa quase estoura, avulsa
minha mente asserena quando sinto amor com veemência,
carinho com astúcia

Textos sem nome do dia 4 de Março de 2011

o Vento abre a porta. devagar em um primeiro momento, como quem pede licença mas já abrindo espaço-tempo pra sua presença chegar, sua chegança revela a luz do banheiro acesa, e ele entra então,
um segundo momento - um impulso.
permanece durante 5 segundos - o tempo que acha que merece - como que pra vigiar suas atividades, verificar se você realmente está estudando como deveria ou como achava que deveria estar, e bate a porta atrás de si fazendo um estrondo que te OBRIGA, num meio meio sem modos, a se perguntar se você está realmente fazendo o que devia fazer, ou que você pelo menos achava que devia estar fazendo. realmente.


*


para quem fica, a vida discorre desperdiça, seu discurso vence o fluxo, com eloquência torna vivas palavras caídas em desuso. o fluxo vencido pela impossibilidade de parar, o rio segue por si próprio como a torneira aberta em frente aos olhos, e o tédio escancarado em contemplá-la aberta, desejando sê-la, a água, assim tão natural essa água corrida, tão ida, tão pressa... seu presente criando novos passados a todo instante! frenético! a vida do que passa arrepia e causa inveja ao próprio tempo!

desipnotiza o olhar, quem fica, e agora encara os próprios pés pousados descansando sobre os ladrilhos do banheiro, emoldurando a latrina no domingo, às 6 e meia na tarde. no seu lado uma pilha de jornais-de-segunda desatualizados dizendo que o tempo de fato não faz ponto aqui, onde a vida acontece desapercebida, desacordada e desasistida.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Jardim de Infância Éden

começo como uma brincadeira. mas mesmo quando o difícil é brinquedo tem sempre um eu preocupado, esgueirando-se por entre os galhos que foram ali deixados pra dar algum referencial.
brincadeira é coisa séria. precisa de um monte de coisas que quem brinca não sabe que está ali.
é por isso que deus me fez engenheiro desse mundo em que os outros apenas vivem, e nesse mesmo mundo eu penso e invento soluções, as desenho, conheço cada polegada do terreno onde os pés das crianças pisam descalços, os formigueiros, as 3 cáries na boca do menino mais gordinho à esquerda, as 2 obturações e 5 tratamentos de canal da tia que os observa. acho que a vida pode ser medida pelo número de intervenções cirúrgicas, ou de operações dentárias que um alguém fez. digo o tempo de cada um pelo estado de seus dentes.
ou pela situação de seus joelhos. e por esse critério descobrimos que as crianças e meninos são seres tão velhos quanto o tempo, quanto o criador de todos os critérios.
eu sou o contador do grande Arquiteto do Universo. calculo os fluxos. conheço as entradas e os bolsões onde se acumulam os pensamentos e saberes dos homens. sei onde guardam suas idades quando vão conversar com um outro ser humano que parece estar sempre feliz. sei onde guardam seus ânus quando pegos em situação de constrangimento. sei como aplicam suas vulnerabilidades em argumentos robustos. sei como se parece uma verdade em que foi injetada alguma medida de peruagem.
reconheço uma baixa auto-estima inflacionária a quilômetros de distância, a danada! identifico fácil o HIV da alma, o vírus que se retroalimenta das experiências pra medir cada vez mais força contra nada, investe cada vez mais vontade sobre o vazio estagnado.
deus me desenhou para ser porteiro de suas criações, pra observá-las de tão perto, de dentro, sem interferir. o rebanho avança semfim, sem saber quantas pestes quantas dores-de-cabeça estão por vir naquele segundo em que atravessam a porteira, e eles parecem tão satisfeitos...

vernissage

sinto o mundo no meu palato,
simbolizo o teatro no meu clitóris,
na ponta das minhas unhas

falo tanto que já não sei quandoeporquê comecei eu a falar.
falo cítrico
falo até corroer o membro da fala
falo tanto falo
que não escuto as palavras

falei.
e nada se concluiu do que foi dito.
estou cansada. sem conclusões.

Me precipito e sofro.
tento permaneço neutro
retardo e empaco,
cristalizo.

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu