...No princípio era o Verbo...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

revisando protocolos

e aí está vc escrevendo 3 textos, indo pro quarto e não consegue parar,
pode estar viciado, é possível! acontecem coisas desse tipo, mesmo na vida real!
e por ser esse seu quarto filho, sem estar descansado e como que insone, ou desavisado (embora pareça mesmo analfabeto) passa por cima pelos erros de portugues digitação , o pé prende num balde de tinta amarela, você não liga continua seguindo as idéias, atropela com sua tropa de palavras umas linhas de verbos mal ordenadas, porque elas existem, também acontecem! como uma onda que quebra errado! a propósito alguém avisa à natureza que ela pesa às vezes sem saber pra quem tá ficando pesado?!
é a vida, é a vida...! - diz a Mãe Natureza e joga o seu relato de lado
analisa o próximo caso:
um poeta de madrugada reclama não estar assim inspirado
as Autoridades replicam: este cidadão não comparece com o dom que lhe é dado
a Justiça equilibra a discussão: também não é sua culpa, não estás vendo que se esforça como um condenado!?
o condenado, em sua defesa reclama se sentir apenas mais um cabo na fila de serventes do Exército da Inspiração
que ele reluta contra seus seios e barriga enormes e reacionários, mas Ela ainda assim o tem maltratado; ela e seu bélico poder de coerção!
ele diz que se trata de uma esposa insolente, que só lhe dá problema. não reconhece o esforço do coitado!, os vizinhos reclamam todos,
Ela geme alto no quarto,
na madrugada em que o pobre poeta mal pago não consegue parar de escrever textos, só pra Ela

ele tem dias tão fartos, e tem dias tão pouco... ele então suspira... limpa o suor da testa, veste a cueca e apaga o fogo. apaga também o cigarro. o trabalho foi bem feito, o dicionário esgotado. até o último verbete o nosso escritor seguiu inspirado.

o sopro mora

quando o ar toma o corpo e o corpo toma o ar
num vôo (em tom noir)
o corpo toma o ar pra si
na caneca, toma de canudinho
ele toma chá de ar e de pedra
de carbono, do que é feito sua santa matéria
da caneca evaporam fios de ouro que sopram na chama
dourada da vela
o vento o calor carrega
chega abafado no crânio nu do velho, na sua lustrosa careca
sopra palavras de luz e de trevas que na arte são ferramentas gêmeas
o calor leva as idéias todas para iluminar a noite no barraco da favela

chora a chuva,
se esfacela
e o corpo toma a chuva em um berrante
pingo-com-pingo
onde chuva rima com ternura
e com acolhimento,
e chocalho com índio
rima conterrâneo
rima com a terra: barro e gerânio
chuva rima com o choro do povo
precipita como palpitassangue no coração de toda Mãe

o ar entrando, enquanto, toma um pouco a sua consciência
ar retém no corpo
olhar pra dentro, gruta
um alento
raro
essa pena de pássaro são duas-pernas
seu poder é o sonho da cobra
o salto é
um vôo, o corpo no espaço, pluma
pula! e ali vive solto eterno, sem gravidade sem lei
o ato cego vôa porque
está vivo de outros sentidos
a alma lhe perfurou olhos para que pudesse sentir o abismo
palmilhado pelos seus pés
- para que visse o perfume da tarde,
e soubesse as cores do frio

o sopro mora comigo. o sopro divino habito. o sopro é o hálito de tudo o que é vivo.

machina: the machines of god

pra mim a palavra serve pra pintar (quadros ou casas) e mão para dizer. pincel prende cabelo e dor liberta o movimento, a dor dança. a catarse é um retiro que eu vivo pra potencializar a voz do vazio. sujeira é palavra filha da ordem, caos consciente é o conceito-mãe do repouso no espírito.
entregação. entregamento.
aguardar vir a inspiração, afundar na luz do esquecimento, a lembrança de um nome de um lugar, a filha da amiga da empregada da sua prima que veio ao brasil aquela vez: o que nos escapa é a metafísica em ação. a função das coisas busca o homem que as faz funcionar. e pra este homem operar o mundo que vive é tão simples tão simples que não percebe, sua intenção verdadeiramente é o que faz ele girar.

colônia nas férias

recordo pedaços da vida,
aporto estrangeira na terra em que fui nascida
os braços que me recebem no porto nenhuma marca sua é conhecida minha
crachás, bonés, abadás
N formas de identificação visual
alguma empresa por certo passou por aqui, uau!
o progresso tocou o chão desse lugar!
a iniciativa privada passou etiquetando memórias
umas jovens, outras senhoras, cheias de histórias!
qualificando imigrantes, distingüindo nativos de turistas
legais e ilegais
cobradores de taxistas
no final também no fundo,
dividindo todo o povo entre os legítimos e os vagamundos
voltar é ver que minhas terras não são minhas
habitam seres nelas
meus terrenos flutuam com a liquidez dos interesses do mercado imobilimaginário
corretores interiores vendem imóveis importantes onde vivem minhas luizas esquecidas
e distantes,
minhas vidas, seus credores
o visitante esquece que a a vida não lhe pertence
e que gulosa,
a vida já lhe possui. integralmente.

indagações inúteis de domingo

texto de 6/9/2009

fico me perguntando quanto tempo somos capazes de viver em movimento pendular, entre achar que alguém merece o mundo, e achar que ninguém no mundo te merece; entre se perder nos mistérios de quem a gente gosta, e perder o que a gente gosta nesses mistérios...
por que tudo invariavelmente acaba em silêncio e tédio? não somos tão vastos? o que será que me corrompe a visão, vez em quando? que não vejo em nós essa nobreza de ser incompleto, essa grandeza de nos refazermos e reinventarmos? onde está a beleza da nossa limitação?
aonde eu perdi o glamour do fracasso que eu não consigo achar?
eu às vezes só vejo uma montanha de equívocos e confusões, e tentativas desesperadas (não belas, só honestamente descontroladas) de fingirmos que somos serenos e seguros.
a vida é uma tentativa fracassada de produzir sentido, estando mergulhado na falta dele.

cadê o mundo colorido prometido pela nova era dentro de mim?
acabou o inverno e cadê minha fantasia de primavera?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A B


tentando conquistar um pouquinho assim de paz
afastando com as mãos e antebraços o mérito e o dever, o livro e a balança
tentando diluir as finas marcantes linhas que dividem uma coisa da outra
a moral do trabalho, um enfado
algumas desconfianças sobre os olhares que minha mente-lança pinça os pensamentos escolhidos numa colagem, que ela jura ter sentido
que ela jura não ser viagem

tentando conquistar o sentido pela candura da paz
conquistar a liberdade não pelo imperativo moral da liberdade, não porque todos tem direito à ela,
não porque todos tem mérito não importa o que façam para merecê-la
e SIM pelo branco,
- ou pelo que não tem cor
SIM pelo que não pode ser dito, e que por isso também não pode ser defendido
argumentado, como se fosse objeto do discurso,
e fosse só isso

tentando vencer máquina e engrenagens com um cotonete
e muita paciência
tentando estabelecer o desmétodo para fazer escolhas que tenham gosto bom
ou que façam um gostoso estalido quando mastigadas de boca fechada
é uma luta silenciosa,
com muito sangue envolvido
o sangue nas veias do combatente, o sanguessuor e o sanguerraça
o arsuspiro na mente alumiando
essa é a guerra justa dos meus quase 21 anos

domingo, 8 de maio de 2011

Ops! There comes Growing!

WOOOW! It strikes up all little details organized around the heart bottom! It's a complete mass destruction!

Eu sei porque quando ele vem vindo meu estômago RUGE,
porque os pedaços de terra em que ocasionalmente acomodo meus pés, ocasionalmente tremem muito,
ocasionalmente tremem tanto que chegam a abrir profundas fendas no chão,
revelando um obscuro nada sem profundidade alguma
por debaixo de todas as camadas concentricamente organizadas,
elas revelam um centro calmo mas potencialmente fervilhante
quando esse centro calmo pode ser visto, ele se assusta e puxa os sulcos de terra onde pousamos nossos pés e construímos nossas casas pra dentro dele numa fome de urso faminto! é incrível!
eventualmente ele engole pequenos animaizinhos que passavam por ali também. ele sente muito, sente vergonha do seu apetite selvagem, mas fazer o quê? acontece...
acontece quando o Crescimento vem. ele destrói algumas coisas mesmo sem querer...

but bitter

Esse amor corrosivo roeu até o último bordado do meu vestido
esse amor que eu quis estancar no bocejo porque era mais do que meus órgãos podiam comportar dentro de mim e ainda assim manter o respeito
por mim, pelo que eu podia comportar
eu sentia que não podia carregar esse recorte do seu passado, esse resto cirúrgico dentro dos meus pedaços, acolhê-los como se de fora não parecessem suficientemente destruídos, mutilados
sei que todos temos pedaços de nós desencontrados, alguns que cubrimos sob montes e montes de ouro, outros sob montes e montes de capachos, mas quando mostramos isso a outros olhos temos que saber que aquilo que não é deles pode ser tão assombroso quanto o maior de seus medos desconhecidos.
não podemos exorcisar nossos demônios e esperar que o outro entre na nossa catarse como se fosse convite pra uma micareta.
e essa minha mania de dizer que você estava fazendo errado, como fiz aqui em cima, que estava vendo errado, apontando errado, mais essa sua mania de dizer que eu estava fazendo errado, e me fechando, e não me permitindo, e que tudo isso era tão errado também. e o seu mundo que a esse ponto parecia pra mim uma floresta arruinada, me convidando para ver o fim dos tempos na cadeira de praia da sua casa.
eu achava que fugindo estaria preservando o resto da minha dignidade.
no final as suas posturas mais as minhas reações, e vice-versa eram duas portas se fechando lentamente, desapercebidas do que significava aquele movimento como se elas nunca fossem bater e fossem continuar seu giro ao longo dos infinitos ciruclares 360 graus, parecidas com as portas dos estabelecimentos nos filmes de bang-bang, era o que elas achavam. ou era o que nós, donos ou sócios do estabelecimento compartilhado achávamos que iria acontecer com o que tínhamos construído.
o final das contas mesmo foi quando eu fechei o bar, quebrei as garrafas uma por uma com o molho de chaves (eu e o meu método particular para a loucura!) e tranquei você pro lado de fora. e não disse mais nada, e também nem fui embora. só disse pelo meu gesto e pelas portas fechadas que agora eram minhas que eu te demito do que nós criamos.
e fiquei eu dançando, esse tempo, sem saber direito o que estava feito, o que eu vinha fazendo. me permiti alargar minha ignorância à medida modesta dos horizontes do litoral. não quis mais saber das minhas grutas secretas, não quis mais saber de florestas, me tranquei na selva de pedra das minhas convicções pré-prontas e voltei a estaca zero.
sem nem uma garrafa de gim seca, nem uminha, mas inteira, que pudesse fazer companhia.

sábado, 7 de maio de 2011

individuação

sua grande tarefa agora era: esquecer de si mesma.

a décima segunda das missões de Hércules, era esta. e era agora.

a dificuldade era grande, pq veja, seu esforço envolvia esquecer, em primeiro lugar, deixar morrer o peixinho dourado da memória de quem era, matá-lo de fome, que fosse! vê-lo boiar sobre as bolhas do respiradouro, era o melhor que podia extrair do esforço que empreendia. significava o sucesso da sua tentativa.
esquecer significava poder observar a face moribunda do que havia morrido sem remorsos, sem culpa, sem lágrimas salgadas. sem também pensamentos absurdos, de de repente oferecer-lhe ração fresca depois de desalimentado seu corpo. se fosse o peixe como os homens estaria ainda impregnando o ar com o mau cheiro de sua partida, e o esquecimento inda assim prevaleceria sobre a dissonância estética do ocorrido.

o esquecimento é implacável. ele não "dá branco" e logo em seguida corre o risco de lembrar-se novamente... o esquecimento é o esforço persistente em preservar o branco, é a autodisciplina dos iogues. o senso de propósito impenetrável das celibatárias. o esquecimento é contínuo, é interessado.
o compromisso assumido com o esquecer é semelhante ao de ter um filho, tem de se cuidar para que seja esquecido, o que quer que seja, para que se conserve morrido, dia após dia após dias...

mas falava de sua dificuldade, sua dificuldade era das maiores, das inconcebíveis!, e ela sabia disso! sua ambição era o impossível! era simultaneamente afastar de si os seus atributos preferidos, e afastar também os detestados. estes últimos que secretamente constituiam os nós infinitos de sua rede de infinitas desculpas e discursos. seus pés na porta, seus absurdos... escondiam a trama íntima de suas desmedidas, também infinitas, dos seus gritos e dos seus versos bregas.

toda vez que voltava da análise olhava para uma parte diferente de sua rede/renda pessoal. quando olhamos algo em nossas mãos temos incontáveis combinações de posições que combinadas nos oferecem visões diferentes sobre o que desejamos ver. tendo dois olhos então!, multiplicamos as possibilidades! naquele dia ela escolhera usar as duas mãos próximas o suficiente do rosto para que se deformasse a concepção ordinária da renda que tinha em mãos, mas não tão próximo que interferisse na nitidez da imagem. queria certificar-se de que naquele trabalho seria a Lucidez, e seria a Proximidade que lhe mostraria a natureza do que buscava conhecer. por isso ousou usar também seus dois olhos, garantindo a Profundidade, dessa forma. e usou eles bem abertos, atenta à percepção periférica. queria que a visão do Todo pudesse inferir ao que veria compreensões inesperadas. sua decisão partia das poucas certezas que tinha certeza que tinha e que certamente eram dela, essa certeza dizia que Tudo significava, senão nada tinha sentido. óbvio que essa certeza era também um preceito antropológico, mas isso não quer dizer nada. ou melhor, o fato de ser um preceito antropológico não faz com que seja uma certeza menos dela do que era no período anterior.

talvez se por trás da renda surgisse o rosto articulado de sua mãe lhe pedindo para fritar um ovo, talvez esse rosto pudesse acrescentar alguma observação conclusiva à forma como se sentia em relação a renda. ou talvez oferecesse à renda uma fala que lhe desse a possibilidade de expressar-se por si mesma. tudo significa, ela repetia repetida...

sabia que o objeto para o qual olhava, ainda estudando cuidadosamente a distância, era o fundamento de sua falta de tato com uns, de sua grandeza de salto com outros. esses nós botavam o nariz de pé, o rabo entre as coxas. era uma parte de si inconveniente, birrenta. seus enredos eram complexíssimos, difíceis de serem acompanhados, como as teorizações de um esquizofrênico. suas insatisfações estavam todas lá, vivas, latejantes, e seus calos lhes davam alguma segurança, uma segurança de escudos e lanças, alguma segurança que ela queria esquecer.

quis parar um pouco de escrever agora...
o que preenche a marcha pelo esquecimento não consola o exílio involuntário do esquecido. tudo o que define a glória progressiva de quem esquece, passa ao largo do sentimento espesso de quem permanece esquecido.
nessa segunda parte, perceber que era a mim que esquecia,.... me tirou todas as noções, planificou todos os relevos. já não sabia se tirar-me de mim era zelo, ou era o erro como todas as minhas fantasias... não tinha conceito, nem palavra perfeita pro vazio que dentro da bravura do esquecer coexistia. só haviam frases curtas. encerradas em si mesmas. não se extendiam além do ponto. não comunicavam com as outras vizinhas. o que quer que fosse eu se desmilingüia como se dizesse "minha última esperança era que você ao menos me fizesse companhia", aquela parte de nós sempre exigindo misericórdia, aquela parte de mim conjugando em nós para se sentir menos envergonhada, aquela parte de mim que não aceitava ceder por coisa alguma, aquela alguma segurança, aquela alguma parte do espelho que precisa sempre de apoio, aquele não foi o suficiente, aquela insatisfação de nunca ser o bastante, e de estar sempre ensaiando performances mais brilhantes, arrancar mais palmas, lugar de barulho, de debates mentais intermináveis.

aquele encarceramento de alma.
aquele falso controle.

queria ver-me na abrangência do Nada, no espírito que colhe livremente seus pecados, sem se importar realmente com quais são eles, e quem poderia ser o possível interessado. a beleza do que me esperava era poder, como meus olhos, como meus olhos combinados com minhas mãos, como meus olhos combinados com a clareza de minha intenção, aprender a usar toda essa articulação sem automatismos. buscar o meu fundo, o meu oco, o erógeno no puroingênuoilibado, ser o livre ato em execução, sentir o êxtase espiritual de um palavrão bem pronunciado, isso tudo só se podia ser sem os óculos, sem os prontuários. fazer uso da consciência do ator precisava vir com a consciência do palco.
ser o salto, a corda, a planta, o arrumado, ser também o caos, o dicionário, o bem-amado, ser sujeito tudo sem se prender à roupa que veste seu predicado.

Eu sou a consciência enquanto as palavras ainda estão sendo buscadas.

domingo, 1 de maio de 2011

_Eu
o pronome me faz crescer
nao sei se foi alguma coisa que comi, me deixou enjoada
me deixou enjoada e eu só consigo pensar o enjoo é tão estranho
antes eu estava olhando Tudo, e só havia Tudo, nem meu olhar existia, meu olhar era uma porta direta pra Tudo
Tudo era muito grande, e nesse ponto eu não era ninguém. nem um ponto. _Eu não existia. entre E e U tinha um mundo inexplorado. um mundo que não tinha palavras. entre E e Tudo não havia nada.
só que eu comi essa coisa que eu não sei o que foi e fiquei enjoada, e então só havia eu. tudo junto. tudo grudado, tudo tão junto que eu não conseguia nem respirar ali.
Uma atenção desconcertante ao centro de mim mesma, aquele bolo, no estômago
eu não comi bolo hoje, no entanto tinha um bolo dentro de mim, um pedaço dos grandes
e eu sentindo cada pedaço do bolo, sentindo cada pedaço de mim do meu corpo, eu e o bolo, juntos, como se fossemos um só, feitos das mesmas células, claro! - feitos da mesma única célula - assim fica melhor..como gêmeos univitelinos.
meu desconforto sumiu quando admiti a nossa hereditariedade comum, nascemos juntos, quase grudados, somos o mesmo, na verdade.
enquanto tentava me livrar dele era tão ruim... eu me sentia desesperada de um lado, com aquele enjôo escroto me assolando, ameaçando chegar mais perto de mim caso eu olhasse pra fora, ou pensasse algo errado, o enjôo quando estávamos separados era o termômetro do quanto eu estava louca pra fugir, ele me dizia quando eu estava apenas refletindo vagamente sobre o que estariam fazendo aqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha, e quando estava a ponto de bolar teorias que pudessem me fazer voar pra fora dali, do bolo, da cidade, do país!
FUGIREI! - eu gritava entre E e U, mas dessas vezes o estômago ouvia e contava pro enjôo que se comprimia ainda mais.
o enjôo se aproximava quando eu queria sair da sala de espera. ele não entendia, eu não tinha mais o que fazer ali, já tinha lido todas as revistas Caras sobre a festa de 15 anos da Sasha, os contratempos da vida agitada do Luciano Zafir, não queria mais saber daqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha e considerava aquilo algo bom, um progresso, mas ele não me ouvia! parece que sabia desde o começo do dia que não haviam aqueles, e que a vida toda seria aquela sala de espera, aquele silêncio, aquela sobriedade e aquela ignorância do que era a vida. eu achava ruim porque só tinha a sala de espera, não conhecia nada além. nem quem tinha construído ela eu sabia o nome...
mas quando adormeci na sala de espera, quando botei as mãos quentes sobre o enjôo, e adormeci nas cadeiras duras e azuis da sala de espera que era a vida, a vida que eu não conhecia me chamou pra conhecê-la. e me explicou que E e U eram juntos, apesar de que houvesse o Mundo entre eles, e que separados estavam EeU do resto do Tudo, mas que _Eu era parte do resto de Tudo não importa o que o pequeno _eu pensasse. era parte, só parecia um pouco deslocado porque tinha a vastidão de tudo dentro de si e isso faz _eu se sentir um pouco confuso, um pouco sozinho por ser único. achava que não conseguia ser único e Uno de uma vez só.
pedi um tempo pra pensar. a vida pediu que nem tentasse, que antes me jogasse na primeira emoção que estivesse vindo ao meu encontro, sem esperar nada da experiência, que entenderia logo, tudo de uma vez, de uma vez só.

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu