...No princípio era o Verbo...

domingo, 18 de setembro de 2011

...

Tão vazia. Tão pálida. Tão sem vida.

Tão distante. Tão partida (ao ½)

Tão espalhada (por aí). Tão desmedida. Tão sem noção.

Tão cada um dos 6 mil pedaços seus esquecidos pelo chão.

Tão desmotivada. Tão deixada (de lado e de 4)

Tão crítica. Tão perversa. Luiza, cobrindo os rastros de sua insatisfação. Pra lá e pra cá puxando em um carrinho uma pilha de razões e adjetivos que nem ela sabia mais que ali estavam. Luiza com setas de fluxograma, marcação de mudança. Luiza trazendo e/ou destruindo móveis. Luiza e um piano antigo que ninguém sabe como toca. E um monte de objetos sem sentido povoando o ambiente. Luiza e índios conversando. Luiza também sem sentido algum. Sem sentido de direção algum.

Luiza e um território mental cheio de troços e florestas temperadas, e coordenadas geográficas abstratas,

se orgulha tanto do seu caos – não consegue encará-lo

reclama tanto da indisciplina – não consegue não viver esse pânico de artista, de ser vivente, auto-consciente e auto-projetista

- não consegue apagar essa brasa queima viva no peito, perene também sob seus pés.

Quanto mais assopra mais arde mais ela cora, a brasa, mais esgarça o tecido da sola, dos seus pés.

Queria ela ter nascido com uma casca mais dura. Um interior menos mula. Queria acordar descobrir-se outra, trocada por alguém de vida boa. Luiza. Não sabe onde bota todas as coisas que tira de dentro de si. Luiza que quer tirar os órgãos inclusive, quer se retirar inteira de dentro, quer tirar a cavidade torácica, onde ela respira mas onde também acontece a falta de ar. Deseja matar o desejo. Luiza estranha-se a cada olhar. Não admite que é, sim, outra, estranhando-se, mas continua procurando uma máscara pra se identificar. Uma máscara que sirva bem no seu desconforto, que o deixe dormir (um pouco). Está cansada de mostrar como está cansada, e todos terem que lidar com isso.

Luiza é um desenho que se apaga ao final do traço,

É um frio chato que dá por debaixo do casaco

- o frio que não perdoa nem o rosto – que está aberto, escancarado e exposto ao vento frio, ao seu descaso – Luiza.

Uma tentativa de não ser clichê e uma mania de querer ser sempre óbvia.

Um paradoxo que não se resolve nem mesmo desce bem pra prosa.

Luiza termina não rimando.

FIM

Quem sou eu