...No princípio era o Verbo...

sábado, 28 de novembro de 2009

Se você não se divertiu a noite, não descabelou ninguém, nem bebeu, foi contra a vontade a um lugar extremamente mal frequentado, esbarrou-sem-querer com os tipos mais deprimentes da famigerada Night Carioca, e acabou a noite no podrão do Chico na Praia de Botafogo, bem... você ainda pode fazer um apelo ao mundo no seu bloguinho:

Nunca saia à tira-colo. Eu disse NUNCA.

Eu acho que isso já fazia parte do meu código de Como Sobreviver à Vida Social (Sem Traumas) antes, mas por algum motivo obscuro, acabei esquecendo dele antes de botar a cara na rua.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Congênito, Luiz Melodia

Se a gente falasse menos
Talvez compreendesse mais
Teatro, boate, cinema
Qualquer prazer não satisfaz
Palavra, figura de espanto
Quanto na terra tento descansar...

Mas o tudo que se tem
Não representa nada
Tá na cara
Que o cara tem seu automóvel
E tudo que se tem
Não representa tudo

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Considerações pessoais sobre Ego e Auto-importância

"Ele é um exemplo típico de excesso de auto-importância. Lá pelas tantas o peso se tornou demasiado e ele teve que pagar o preço extremo."
(Castañeda sobre Timothy Leary)


O peso de ser algo de domínio público (não necessariamente uma celebridade), é que as pessoas passam a ter controle sobre a (sua) imagem que é projetada no âmbito social. Uma vez que crêem "conhecê-la", e que crêem saber o que esperar, passam a formular espectativas, e sem perceber acabam cobrando determinadas posturas - além de muitas vezes serem incapazes de reconhecer alguma possível nova característica, de tão presos que estão nesse protótipo-de-nós criado por eles.
Em resumo, fantasiam sobre quem somos, interagem com essa fantasia, e em caso de má conduta, enviam a multa para nossa casa.

É possível que se um dia você agir mal com alguém muito querido em seu meio, o suficiente pra que os indivíduos desse meio se sentissem moralmente ofendidos com a sua ação, não espantaria se nunca mais voltassem a te ver como antes. Estariam então, sempre desconfiados da honestidade e da verdade do seu proceder, inferindo à convivência de "vocês", pessoas hipotéticas, um tom de incerteza e descredibilidade.

Uma vez solidificada uma imagem criada sobre uma pessoa, essa pessoa, ou esse personagem, vira como que um sistema bancário, onde as pessoas creditam ou debitam energia (confiam, ou cobram, respectivamente) de acordo com o que acreditam ser "justo", por um esquizofrênico (e moral) senso de apreciação.



"Ele dizia que "cargase a uno mismo" (carregar-se a si mesmo) conduz a pessoa a um senso de "importância personal" que combinados não permitem "acciones" por parte da pessoa. Quanto mais peso as pessoas acumulam, mais importantes elas se sentem, e menos ações elas executam."



Quanto maior for a "quantidade" e a intensidade das características que acrescemos ao que chamamos de "eu", maior a condicionalidade da liberdade dos nossos atos, teríamos de ser "menos nós"! O conforto que o ego nos oferece com "personalidade", é a proposta inaceitável de sermos grandes para os outros e seremos sempre menores do que somos dentro da íntima coesão de nossos reais sentimentos, sonhos, dentro da nossa brincadeira com nós mesmos. Os outros não podem saber das fantásticas conversas sozinhos que travamos em frente ao espelho, os outros não sabem as dádivas dentro de nós. E mesmo assim, insistimos em nos "personalizar", como costumizamos uma bolsa, ou costuramos uma idéia que queiramos vender...
Em um dia em que eu não me sinta tão bem-humorada, digamos assim, ou fragilizada por qualquer motivo, muito me incomoda sair com os amigos, pois não me sinto suprindo as espectativas deles sobre mim (é claro que nesse caso a "culpa" é totalmente minha, afinal, "não seria necessário" cumprir com essas projeções, mas eu estaria desejando cumpri-las porque ganharia em troca a ração de me sentir socialmente aceita). Isso é uma escolha. É melhor que ela seja ao menos consciente.
E quanto maior a minha própria expectativa sobre uma performance social a ser alcançada, menos livremente eu ajo, tendo que me ater somente ao "engraçadinho", "contundente", ou "inovador". E menor também a chance de ser qualquer um desses adjetivos, pois em situação de auto-cobrança excessiva nos saímos inda mais débeis porque não conseguimos ser tão grandes quanto gostaríamos de parecer.

Quando eu falo sobre "desconstrução do ego", ou qualquer expressão que o valha, é porque eu vejo o quanto ele nos mantém prisioneiros de um modo extremamente particular (e limitador) de ver as situações da nossa vida. Ao invés de nos proteger, ele nos intimida, e com "suas" reinivindicações, nos faz reféns dos nossos medos (ou pior, do bloqueio desses medos, que gera verdadeiros Enigmas psicólogicos, desencadeia até sintomas "patológicos" - como sofrer sem saber o motivo, por exemplo - que destilam nosso controle e entendimento sobre nós mesmos). Estão sinceramente enganados os que acreditam que ele nos protege (ele tampouco nos fortalece). Ele, no máximo, cria uma imagem fechada, sólida, de nós mesmos, joga o que "Não interessa" para escanteio (prum "lugar" onde vão se elaborar nossos traumas, nossas paranóias, nossos sentimentos considerados obtusos, etc), e nos faz crer que nós somos Fulano, e que o que nos identifica é um jeito peculiar da fala, ou os programas aparentemente intelectuais que fazemos; trocando em miúdos, tudo o quê para nós nos tornaria únicos, parte do julgamento alheio sobre nós, parte daquilo que os demais consideram bom ou ruim, - sendo assim um conceito totalmente vago, variável e incerto.
Don Juan chamou esse modo específico de nos portar em sociedade de "Modo predador", pois ele conta com o pressuposto de que algo/alguém está tentando nos denegrir, ofender nossa integridade, e que precisamos nos reafirmar perante tal ameaça. Ele nos mantém num sistema simplista (doente?) de convivência, baseado no medo, na competição, e ainda submersos em uma nuvem escura de paranóia e representações.
Acho que existem formas menos miseráveis de se viver, e isso é o que posso chamar sem medo de A minha Verdadeira Busca.

domingo, 22 de novembro de 2009

poema de muito amor para um muito amado senhor*

me ama, rei
e quando me ama
me desamarra dos seus pés, de junto à cama
e me derrama
sobre os lençóis que eu mesma lavei

até que me ames de volta
até que eu te tomes, em troca,
o teu título descabido de rei
e o substitua por nomes outros de maior importância.


quando me ama rei,
não me reclama
e venha juntar seu império
à minha vizinhança,
ao meu povo escuro e plebeu
que não te assuste a minha expressão tacanha
de quem não conhece nome de prato
nem decorou como é a palavra "cardápio"
em dicionário europeu
o menu aqui é todo ao modo sertanejo
"a la modê", como dizem os seus,
esse é o alimento quase certo na casa:
arroz, feijão, um bucado de farinha, e óleo de dendê


me ama rei
na minha inconsertável falta de elegantês
ordena sim,
a tua vontade alinhar com a minha,
sou sua, é verdade,
mas casar, só se for de mentirinha.




* título adaptado de um livro da Hilda.

sábado, 21 de novembro de 2009

zen-budismo para cabeças-quentes

quando você olha pra muralha
e acredita que ela está
inabalavelmente lá,
aproveita e pensa
que isso
também passará.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

cansei de viver para mim

sinto que cedo ao menor estímulo que me prestem, vejo um sorriso, vejo um aceno, e me aprumo vou à flor de mim mesma, me exalo pelos poros. quero perfumar o jardim, sussurrar poemas ao pé do ouvido dos amantes, sem o peso de fazer sentido, apenas com o intento de se ser, sentindo.
não preciso de quase nada para me revelar, tenho uma tendência a cair de joelhos, e tropeçar sobre meus próprios cadarços-emocionais, me enovelo com facilidade se me dão corda. sou péssima sem uma platéia.palhaça aposentada. sinto que me adorna uma certa maturidade senil, já perdi o brilho da pele, e o vigor do meu corpo, sou fraca, suscetível aos abismos. já não consigo nem quero me enfeitar para a mim, quero fazer dos outros as vítimas do meu olhar cheio de sombra e de pó de arroz. a maturidade, ao contrário do que dizem por aí, não é caduca e rígida, ela já se cansou desses jogos mundanos de representações, cansou dos papéis, burned the plot, ela quer ser uma coisa outra além de personagem, ela quer fugir do roteiro e arrastar as letras impressas na folha como que bola de ferro atrás de si, até que se tenham ido todas palavras. a maturidade quer desconstruir. ela não quer mais ser alguém. ela só quer algo que não seja constrangedoramente humano.

domingo, 15 de novembro de 2009

equívocos lingüísticos - the pursuit of happiness

é inenarrével o prazer que um ser humano no mundo moderno pode alcançar o sublime (meditando?/ respirando? NOT) simplesmente escrevendo frases com concordâncias absurdas. é tão simples e tão funcional que a gente até duvida!
veja bem, a colocação "adorei essas notíça" é suficiente pra iniciar um sutil formigamento no corpo, uma inquietação, um respiro pro coração extressado do dia-a-dia.
errar é tão gostoso, tão subversivo! é como inventar palavras, ou significados, e brasões, e quadros dentro da mente da gente. é o que nos move desde sempre. erramos, e quanto mais erramos, menos queremos fazer o certo. acho que ficamos viciados em ser os mauzinhos, errar consciente é o nosso ato máximo do desacato e do desprezo. afinal estamos todos iguais na condição de expulsos do paraíso e propriamente emerdados por Deus (isso quer dizer, submersos na merda Divina um a um) , excetuando-se a galera da África do Sul é claro, que encontrava-se geograficamente bem mais próxima de Seu Santíssimo rêgo.
para salvar esse mundo da total miséria e avacalhação, o mínimo que podemos fazer é dar a ele uma cara de piada inacabada, um Grand Finale realmente grande e digno como todos os grandes acabamentos. e é admirável mesmo que sejamos capaz de nos inflar de graça, ao invés de implodir no drama. afinal, poderia ser pior, hoje poderia ser domingo e você estar na casa da tia avó da senhora sua mãe com toda a parentada de graus (e habitats) mais obscuros, OU, curtindo o Faustão no SEU quarto, e tendo que reparar, tediosamente, que o Faustão preenche os quatro quadrantes da tela com a sua gorda falta do quê falar.
mas quanto aos erros, e à Graça, de quem são filhos, costumam dar sinais de seus efeitos em casos do tipo "as bicha se jogão", ou "aiii mordi minha mãe sem qrer", você se pergunta se leu aquilo mesmo. em seguida, conclui que fatalmente foi aquilo o que leu, e com pompa de herói, ao invés de se deprimir, se debater, ou gritar pela sua mãe, opta por encarar a coisa como um resgate kármico, um treino super saudável (e essencial para o homem de hoje!) que não deixa nosso famigerado coração cheio de amargura nos vasos. o humor é o próprio ato da transmutação. principalmente o humor negro (ele poderia ser de outra cor se a Vida nos liberasse os pincéis, mas digamos que Ela chegou primeiro e que não estava lá muito para solidariedades)... além de transformador, ver graça na pobreza de espírito, na falta de léxico ou na "distração sintática" do seu Orientador de Tese, é um ato de alquimia! você dá chance ao insólito de se travestir de mulher, e ainda fora da época de carnaval.
essa coceira que a gente sente no cérebro quando lê ou ouve algo inumanamente bossal, isso é o humor operando catarata de olhos fechados em nós... é nosso dever saber reconhecer os milagres quando nos deparamos com um.
e lembre-se sempre: se a vida te deu limões, nem pense em fazer uma limonada!



ps: os erros ortográficos no texto são recursos estéticos, ok, ngm se meta na minha lambança textual.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Solidariediet da Light

- Qual é, taxista? tá escolhendo passageiro só porque num tem taxi no rio? - batia nervoso, a mão contra a cabeceira do banco carona, tantas vezes quanto verificava fazer efeito.
O velho senhor motorista encolhia-se entre seus ombros ossudos sob a camisa social, gestipulava e falava muitíssimo baixo, não pude ouvir o que dizia.
Na Rio Branco, Preto. um negrume. As silhuetas só distingüiam-se da escuridão pelos faróis dos carros - e somente da cintura pra baixo; da cintura pra cima só as luzes dos celulares. A impressão que se tinha era a de que não restava mais nada. que nenhum dos edifícios do centro existiam mais. O que existia e se desvelava era uma profunda falta de orientação, não viam-se os buracos na rua, os pitocos da calçada, o espaço era preenchido por aterradoras e indefinidas dimensões, não se sabia até onde podia-se andar, sem bater, nem cair, ou tropeçar, sem tatear com os pés. Nada.
Nenhum semáforo, nenhum letreiro luminoso. As pessoas sacodem seus indicadores inquietos contra a indiferença dos automóveis.
Quando a situação é dramática, cada parte, cada pequeno pedaço do quadro comunica a configuração geral. Eu olhava pros dedos em riste, e eles demonstravam a triste falta de autoridade e de importância com que se regavam as pessoas. Era estranho como elas pareciam plenamente dispostas a se jogar embaixo das rodas dos carros, desesperadas.
Taxis cheios. Ônibus lotados.

Quando saí da porta da empresa tinha me convencido a ir pra casa de metrô, antes do apagão. Mas quando botei o pé na calçada me ocorreu que meu estômago estava latejando dolorido, ácido, como se tivesse tomado um porre de uísque barato e ainda de barriga vazia. Fui à Praça Mauá a procura da barraquinha da Fátima, comer um salcichão. Sentei, pedi, e pronto. nada. Foi o que me salvou, sabe, foi Algo a mais! eu podia perfeitamente estar presa no metrô!
Um choque, uma sensação de pânico me lambeu o corpo, e esse choque por ironia se assemelhava muito a um choque elétrico. (E o resto do país às escuras...) De repente me senti lacrada nos vagões como imaginava as pessoas no metrô e nos trens, sem ar.

Fui voltando aos poucos, a prestar atenção nas conversas a minha volta, numa das maiores avenidas do Rio de Janeiro. A luz só volta amanhã meus querido, não tem nadinha funcionando na cidade, dizia uma moça de voz clara e notavelmente irritada. Bateu o flip do celular com tanta força que temi pelo seu visor. Me senti bastante cuidadosa (ou pão-dura) comparado o meu trato com o celular com o da gordinha do meu lado, e olha que minha condição de comprar um outro aparelho era bem mais contundente que a dela.
Me voltei para observar as pessoas, e suas expressões eram tão somente a denúncia esganiçada do medo. Nenhuma comunicação com o resto do mundo, estavam todos isolados nas regiões em que se encontravam. As empresas de celular, como todas as outras, totalmente às escuras, enquanto os trabalhadores provavelmente suam seu suor mais carregado de exaustão para descobrir o que fazer com essa bomba que recaíra sobre suas consciências. Era a maior crise presenciada por mim desde a cesária. Os apagões do FHC ficaram na sola depois dessa, pensei com certo nível de espanto.
- O negócio é que uma usina da Light na fronteira com o Paraguai EXPLODIU - uma voz firme destoava do resto, pela sua franca tranquilidade. Falava enfaticamente e apesar disso, dizia como quem conta uma fofoca vinda de fontes obscuras. - Metade do Brasil tá às cegas, dá pra imaginar? - retrucou uma voz envelhecida, amarelada, e bem mais rouca que a primeira.

Perto de onde eu tava havia um grupo barulhento de pessoas, muitos timbres e tons diferentes disputavam os ouvidos mais próximos. Era algo sobre formar grupos que estavam falando. Cheguei mais perto e conforme me aproximava, as vozes foram se eqüalizando, consegui então entender por alto, que pretendiam formar frentes para encher os taxis, e negociar com os motoristas um preço acessível, alguns acrescentavam, alegando não ter mais que 2,80 no bolso. De repente, um anexo do agrupamento onde eu me infiltrara, gritou o nome do meu bairro. Corri pra perto e acabei me juntando a um grupo de 3 homens e mais uma moça. A moça parecia ter a mesma condição financeira que eu, enquanto os rapazes eram claramente mais pobres. Sem nem pensar entramos no primeiro taxi que Parou - aparentemente por benevolência divina! - e logo em seguida me ocorreu o quão incauta eu podia estar sendo. Não conhecia aqueles homens, nem o motorista, e a paranóia da cidade já havia me impregnado de tal maneira que me causou estranheza esse mecanismo de auto-proteção não ter disparado ao ver os sujeitos.

A experiência que todos viviam no Rio, e nos demais 7 estados do Brasil, tocava a todos de diversas maneiras. Pensávamos, sentíamos como um só povo, lesado. Por algumas horas, a impressão era de que todos haviam recuperado seus sensos de unicidade, e consciência comum, que fora totalmente arrancado de nós quando surgiu primeiro a idéia de governança. Esse sentimento era Algo que nem os mais ousados projetos presidenciais conseguiram desenvolver nos cidadãos, sob sua autarquia.
Recomendava-se no jornal que saíssemos em grupos, fiquei sabendo pelo taxista. Nos sinais, civis se prontificaram a sinalizar o tráfego. O sacrifício era total e consciente, todos trabalhavam - de acordo com suas disponibilidades - em pról da segurança e do transporte de todos. Naquela noite, pela primeira vez no país, não houve sequer uma morte por acidentes de trânsito.

Quando chegamos na Rocinha, para a surpresa geral, a comunidade em que morava o mais jovem do taxi, Jamilton, estava brilhando, acesa, com todo o vigor de sua gente.
O caos horizontaliza as pessoas, me surgiu na mente a frase pronta... desprevilegia os que nasceram de cú pra lua, os põe em pé de igualdade com os fodidos outros, tantos, com aqueles que limpam seus banheiros (suas privadas), com aqueles que fabricam os O.B.'s das donas de casa, com os temidos marginais, os excomungados bandidos. Cai por tabelas a sensação meritocrática feudal da Nobreza, e Deus por fim revela que não se alinha muito com a idéia de que os nascidos nos baixos estamentos o tenham feito em função de Seu excêntrico senso de justiça, afinal, apesar da Zona Sul estar no breu, a favela continuava brilhando.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

um trecho-texto pós-utópico

reações proporcionais são farsas!
como podes tomar como grandioso, imponente, o que digo com grandiloqüência, estando latente no meu ego o pulsar fálico da verdade, como podes tu chamar isso de promessa? como podem levar a sério alguém que se sente e por aquele momento SABE-se detentor de algum breve suspiro do Real?
falamos grande porque não sabemos de nada, porque ignoramos, porque somos em verdade muito pequenos, porque nós e nossos paradigmas nunca serão suficientes pra expurgar o oco compartilhado da existência. fazemos discursos cheios de pompa porque nossas pernas tremem quando questionamos a credibilidade (e a finalidade) da nossa forma de pensar. e em providencial atitude de construir descartáveis Torres, - arranhacéus tão longelíneos que espreguiçam-se lá longe no horizonte e quase que sem saber tentam arranhar, apreender os céus em suas garras afiadas de certezas, para obter um pouco da clareza que se derrama do estado de Deva! - queremos nem que sejam as nuvens, para matéria em nossa vaguidão, nem que seja o vento, a Bússola para o nosso andar a esmo...
e ainda assim insistes em negar a vacuidade dos nossos atos?
se digo que amo, se te transcrevo versos enxarcados ébrios, não vai aceitá-los por que são deveras sérios?
não existe seriedade nem mesmo na esfera racional, reduto da impecabilidade e da mentira. como pode o sentir caber dentro da proporcionalidade injustificável? sentir é exagerado, o Eu é um dramático, coitado, que não entendeu que viver não é digno de estatutos.
viver é tão indigno quanto mendigar.
todos se levam tão em conta, pensam suas frases e gestos com tanta importância e perícia, se dedicam tanto a escultura de suas imagens que já não sabem mais se são o que suas mãos produzem, ou se são ao contrário, o barro inerte e mofado, esperando amorfo para ser moldado?

o Ser é uma fraude.

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu