...No princípio era o Verbo...

domingo, 6 de abril de 2014

nas pautas

passos apressados, olhar esquivo
não sei se está fugido da polícia, se quer só sumir
pra ficar então bem distante de tudo
levantar âncora, ver zarpar seus próprios navios
parece que passa ao longe dos outros
nem esbarra
como que sobrevoa o amontoado de corpos
se infiltra
ou se
desembaraça
para fora da órbita
parece que quer passar desapercebido,
discreto e mudo
não fosse seu tamanho
e o jeito atravessado de encarar
e a mania de observar tudo
tão de dentro
era capaz
que não se notasse ele ali
agora parado,
esperando o sinal abrir
com suas mínimas e definitivas
ações
pesadas
se vestisse terno
e discutisse trivialidades sob sol no centro
em frente ao sinal vermelho
não pareceria tão a parte, com crachá de empresa
de gente grande,
e os tênis de amarrar sujos das poças
cinzento, o tecido e as manchas de água de rua
- ele não passa em branco
isto também é definitivo

paira com sono e sem grandes expressões
visíveis
não dá pra saber se está mesmo ali
se sente desprezo pelo que vê, se é medo
o que esconde,
preso, com a forma inteiramente sólida do seu sentimento
um mormaço encobre o lugar onde as intenções se revelam neste homem
mesmo que tivesse os olhos claros
haveria essa sombra
feita abaixo daquilo que ele permite que se veja
para enfim ocultar o recanto plutoniano e embaçado
de quem ele verdadeiramente é
(ou parece ser)

quarta-feira, 2 de abril de 2014

cocar

feitas as minhas, palavras
combinados os meus rascunhos
vestidos os meus jeans
passivos os meus verbos
indireta a minha ordem
arbitrária a linha reta
em silêncio é meu testemunho
de calado sinto medo
quando escuro acordado, paro
e amanhecendo a luz, bocejo
e esticado o braço,
o arco
apagada a luz, me vejo

Quem sou eu