...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

pedaços refletidos em pequenos espelhos

os ensinamentos dos poderes, quereres e dos nãos - reflexões sobre a carta XI. A Força 

quem poderá dizer?

posso e devo pontuar as coisas que acho escrotas, injustificáveis e/ou indefensáveis. chulas. pobres. mesquinhas. e se ele não concordar e não quiser ouvir, não é problema meu.

não posso me ocupar de transformar e fazer brilhar e crescer qualquer outro mundo que não seja o meu próprio.

não devo calar quando precisar dizer. não devo falar se não tiver (à) vontade.

não posso evitar a traição, o desdém. não posso obrigar ao respeito. esperar por isso é racional, justo. mas talvez não seja o caminho. eu vou me respeitar. e respeitar os que me respeitam. isso eu posso fazer. ainda acho que o bicho homem é muito digno, com todas as suas fugas e escapes e desculpas pra agir mal. respeito àquilo (que reside dentro de sua própria natureza, centelha divina) que nele faz merecer a reverência.

- isso tudo sim, mas não me cabe abrigar o desafeto, tampouco. 

não devo esperar pela bondade dos outros. preciso ser senhora do meu tempo, e esperar é o seu desperdício.

aceito o meu desejo, mas entendo que ele não é a única Lei a reger o mundo que se ergue na minha cara, de frente, e pra fora de mim.

vou fazer por mim. só posso fazer por mim. e vou dar o máximo de mim às coisas que acredito. empresto Força, e me doo, porque sou minha, em primevo lugar.

não vou confundir, prometo, "compreender", com "perdoar" e "aceitar". 

apesar da inter-influência entre razão e emoção, declaro não haver ingerência de um sobre o outro. sabedoria é a alquimia de ambos.

> respeitar espaços e divergências. palco sagrado da existência.

problemas intermitentes não tem a força autônoma necessária para extinguir o meu ânimo.
"não com a esperança de que aconteça algo novo, mas para renovar meus conhecimentos com aquilo que já conheço bem. muitas vezes é bonito percorrer velhos caminhos conhecidos".

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Joana / Joana para Jasão

"E olhando eles assim fiquei pensando, eles podem acordar de repente, se eles acordam, minha vida, assim do jeito que está destrambelhada, sem pai sem pão, a casa revirada se eles acordam vão olhar pra mim, vão olhar pro mundo sem entender, vão perder a infância, o sonho, o sorriso, pro resto da vida, ouça eu preciso de vocês e vocês vão compreender, duas crianças cresceram pra nada, pra levar bofetada pelo mundo, melhor é ficar num sono profundo com a inocência assim cristalizada.

Ninguém vai sambar na minha caveira vocês estão de prova, eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer depois dizer tchau deixando poeira na cama desmanchada, mulher de malando comigo não, não sou das que suspiram com a submissão. Eu sou de arrancar a força guardada cá dentro com toda a força do meu peito pra fazer forte o homem que me ama, assim quando ele me levar pra cama eu sei que quem me leva é um homem feito. E foi assim que eu fiz Jasão um dia, agora não sei, quero a vaidade de volta minha garra, minha vontade de viver, meu sonho minha alegria, eu quero tudo contado bem direito. 

Pois bem, você vai escutar as contas que vou lhe fazer, te conheci moleque frouxo, perna bamba barba rala calça larga, bolso sem fundo, não sabia nada de mulher, nem de samba, e tinha um bruto de um medo de olhar pro mundo, as marcas do homem, Jasão, uma a uma, em tu tirou todas de mim, o primeiro filho, o primeiro prato, o primeiro violão, o primeiro refrão o primeiro estribilho te dei cada sinal do teu temperamento te dei matéria prima pro teu tutano e mesmo essa ambição que neste momento se volta contra mim eu te dei por engano, fui eu Jasão, você não se encontrou na rua não você andava tonto quando eu te encontrei fabriquei energia que não era sua pra iluminar uma estrada que eu te apontei."

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

pensamento quase criminoso que me diz sussurrando que no fundo eu me contentaria de ser só umas palavrinhas bonitas

desirée

às vezes o que não se consegue não é derrota,
é deserto

fine balance between peace and war




Fiel, calibrado pelas mãos firmes da Perfeição, faz pender os pratos, ambos os lados, assimétricos, e contrabalanceados. Não há contradição.
Sabe medir os excessos e a dilatação dos buracos deixados, também os tamanhos, também os espaços.
Sabe definir distâncias e mergulhar fundo no vácuo.

A agulha da vitrola que toca o disco no milímetro, no perímetro exato que o faz emitir som.

Sou obcecada pela mecânica incompreensível da vida, pelo equilíbrio-dinâmico do impossível. Pela física de difícil acesso, que aos humanos não é permitido saber como ter qualquer resultado factível.

A conta mais redonda e ridícula está sempre sobrando 1. Ou faltando 1, e uns quebrados. Nunca fecha. E a razão me faz dar voltas e voltas em torno dos mesmos cálculos, contas, tabuadas, das primeiras lições que eu achava que já era pra ter esquecido. Aponta-me a vida que não esqueci. Que sigo não tendo esquecido. Não avanço ali.

Lembro, no entanto, de ter escrito uma vez. Que escrever era apagar um cigarro no peito.

Não me arrependo. Da dor. Do que queima. Do que foi dito. Do que não pôde ser. Do que não se conclui jamais. E do que parte antes do tempo. Mas aceitar também não põem as coisas de volta nos seus lugares. Minha mente vive me dizendo que se eu acertar o resultado, todas as coisas voltam, instantaneamente para o lugar. E contra o que ela me diz, coisas fodem a mecânica natural de outras coisas que ocupam a esquina do meu mundo com o de vocês. Procuro manter as coisas que são minhas afastadas das coisas que não são, milhas. São aparentemente incompatíveis, não partilham a mesma lógica. Não é possível entender-lhes quando estão juntas, não falam o mesmo dialeto, tribos e ritos e mundinhos as separam. Dentro e fora. Não é possível.

Minhas contas internas são finitas. São exatas.
As contas do destino são contas de artesanato, medicina. Imprecisas.
Não dá pra equacionar.

game over

eu escrevo porque não suporto o silêncio e a indefinição. pelo mesmo motivo eu falo, canto, e converso. aniquilo os espaços. digo não. me rebelo contra o que não sei. dou um comando à vida e ela me obedece. me instruo me preparo me esvazio me esvaio. me contraio. me retenho. me acalento. me fecho em copas em volta de mim mesma, me aninho.

não consigo acompanhar, cansei. se pudessem pelo menos me deixar parada.

quebrar a inércia é sempre poderoso. e insuportável. nada me estressa mais.

mas sei que não posso ficar aqui fazendo nada, vendo meu mundo se virar de cabeça pra baixo e me mostrar a bunda.

e não há nada que eu possa fazer, se não ver tudo de forma diferente
e não forçada

e não há nada mais terrível e difícil e incontornável
do que ser espontânea quando acabaram seus manuais

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu