...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

a epopéia da reação alérgica numa segunda de manhã

a minha história de hoje começa assim... bem, na verdade ela começa antes de hoje, ela começa com eu voltando 4:50 da manhã pra casa tendo latente em mente que acordaria as 8 pra encontrar minha futura chefa no espaço onde vou trabalhar.
bom, 5 da manhã, 5:30 da manhã, nada do sono vir, eu tava inquieta. por uma hora eu até cheguei a cochilar, mas ainda assim um sono muito superficial, totalmente condicionado a dormir o mínimo.
7 hrs decidi levantar, hj não cheguei nem a sonhar pra ter idéia do quão leve não foi o cochilo.
bem, tudo bem então. vou viajar amanhã terça-feira e até então não tinha nada arrumado, comecei a agrupar os vestidos, as coisas de banho e tudo o mais... quando dá 8 hrs eu ponho os pães no forno e vou tomar banho.

quem me viu nos últimos 2 dias sabe que eu estou TOSTADA de sol, e minha pele está anormalmente sensível (as ditas pessoas mal podiam me encostar!). qdo saí do banho minhagente, fui lá toda prosa colocar o hidratante da victoria's secret que parece hidratar a pele bem mais que os outros que rolam no meu banheiro...
então tá, quando passou uns 5 minutos meu peito começou a ARDER, ARDER, e COÇAREARDERECOÇAR, como se uma abelha ou uma vespa tivesse me picado bem no meio dos peito só de sacanage. nossa, até eu mobilizar minha mãe e meu pai pra ir pro hospital, minha pele já tava em chaaaamas, e eu tava esganiçada chorando e gritando e querendo arrancar minha pele fora e me coçando, enfim, um verdadeiro caos dermato-psicológico...

mas isso aqui, eu adianto agora, é uma história sobre estar irritado, ou desconfortável, ou ranheta. ou qualquer coisa assim...
então o leitor deve imaginar que não é nem o começo! e imaginou certo se foi o caso, pq quando eu chego no Pronto Socorro mais vazio e underground de botafogo, tem 10 (DEZ) pessoas na frente. como esse era pra ser o hospital mais desconhecido, supus que o Copa D'Or e outros estariam ainda mais cheios (até pq findeano é danado pra dar merda!), tive que esperar né...

só que daí tem aquela história que os velhos tem prioridade, e nessas umas 4 senhoras em momentos diferentes entraram na frente de todos. nossa que raiva que dá! a velhinha toda sorridente, devia tá com uma dorzinha de cabeça, um enjôo aqui, uma nálsea suave, devia ter sonhado que estava grávida ou algo assim, e passou a frente de toooooda a sucursal de acidentados que mal cabiam em si, e dentro de suas dores, comportados mas todos expressando um mesmo inconformismo com aquelas senhoras pseudoadoentadas passando na frente.

só que reclamar disso perto do meu pai, dos velhos intocáveis (e oportunistas), é assinar um contrato pra ouvir A Voz da Verdade falando em alto e claro, defensora dos neurastênicos e dos reumáticos! sobre como o fato de eles serem velhos, e de a lei protegê-los encerra qualquer tipo de argumentação. e é claro, que sendo quem sou, eu ia ter que dar um discursinho pra pontuar aquela situação. fiquei reclamando que as leis são estúpidas porque são incondicionais e irrevogáveis, e não avaliam casos específicos, que esse é o problema da burocracia, que ela (e as leis tbm) são sempre caducas, e rígidas e descabidas! enfim... já tava puta! sei que pra aliviar o clima minha mãe resolveu fazer uma longa narrativa sobre o episódio do Law & Order de ontem de madrugada que a mulher matou o marido com 50 tiros nas costas, e que ele estuprava ela desde os 15 anos da moça, e td essa coisa que vc É CLARO queria ouvir detalhadamente enquanto espera a terceira velhinha cínicamente satisfeita passar na sua frente na sala de espera.

sabe quando vc dentro de si busca todas as orientações meditativas que o mundo te deu até então, vc escolhe conscientemente parar de absorver o blablablá ao seu redor numa tentativa desesperada de encontrar alguma paz de espírito? mas que ao mesmo tempo que vc se concentra nisso percebe que não está funcionando porque quanto mais vc tenta respirar, hmmm, aaaaah, hmmmm, aaaah, mais vc tem vontade de socar todo mundo a sua volta pq PORRA assim não dá, num tem paz nenhuma naquele lugar, nem pra fazer um pranayamazinho ali, em pé mesmo, eu me coçando toda, e ainda ouvindo agora piadas cabeludas sobre uma bicha insaciável na ilha deserta que achou uma lâmpada mágica e pediu pra ter uma rola gigante.

eu só queria ouvir meu nome ser chamado, assim, só isso. e "só isso" me levou 1h30, quando eu fui falar com o médico já tava com coceira no corpo inteiro, e com bolinhas brancas de alergia na pele.
aaah, esqueci de dizer que quando minha compressa de gelo (que tava aliviando a ardência insana no peito) ficou quente, minha mãe me comprou uma lata de coca-cola gelada pra ficar passando no peito por baixo da blusa. e todo mundo olhando, claro! enfim, isso foi só pra dar um zoom nessa parte vergonhosa da experiência.

tudo bem, essa etapa terminou. fui consultada, o médico era simpático, resolveu tudo com simplicidade. ponto.

ato 2.

na escada de entrada da Policlínica tinha uma senhora sentada com um poodle horroroso no colo, mas quem me conhece sabe que eu adoro bichos, principalmente os esquisitos (talvez por algum tipo de identificação). fiquei ali falando com a Pérola (a poodle com colar de pérolas), e depois desci.
primeiro passo fora da calçada o taxista do ponto ali em frente quase ranca o pé da minha mãe fora, assim, nada mais absurdo do que na frente de um Hospital né, mas tudo bem. sinal fecha. na segunda pista da Mão Inglesa vem um alucinado de rabo em pé numa mercedes vendo eu e meus pais no meio da rua, ele vai lá e queima o sinal a despeito dos gestos pouco cortezes que meu pai fez contra o vidro do carro.

e o mais engraçado é que quanto mais você se irrita mais o espetáculo do absurdo se mostra. a raiva é como um circuito fechado que se auto-gere, quanto mais irritado você fica, mais coisas inumanamente irritantes acontecem. é fato!

chego em casa ainda tenho que voltar ao calor infernal da rua comprar os remédios com o peito todo me coçando e uma compressa de gelo embaixo da blusa. claro que tinha que ser meio-dia né a hora que eu saí de casa pra fazer isso... eu esqueci de olhar o relógio e previsivelmente, o pior aconteceu.
a visconde de caravelas abarrotaaada, real grandeza idem. aqueles grupos de 20 superamigos do trabalho, andando quase de mão dada numa rua minúscula. adoro!
e as mulheres, que geralmente são 3x mais desligadas e prezam muito por sua fofocada da hora do intervalo, mal notam que existem outros seres que tentam gentilmente passar pela corrente-da-amizade na calçada.
acho que a única sorte que eu dei hoje foi encontrar o Spoleto aberto e sem fila.
em compensação minha salada tava mirrada e ao escrever esse texto gigantesco já preciso de mais energia do que consumi.

vou me matar lá na sala e já volto.

domingo, 27 de dezembro de 2009

auto-bibliografia sinestésica

eu sou feito a mata que vemos
queimar quieta
pela janela,
a mata que é só o sopro
que inflama ela
sou o ar abafado aqui de dentro
e a brisa acalorada lá de fora,
a queimada que infla os corpos
e alimenta a alma
a cama estala.

eu sou feito essa mata que arde
com calma
essa massa,
sou feito da sede que lambe os
móveis da casa
a brisa áspera que
roça os cômodos
e depois volta
pro nosso quarto,
de onde vem a bossa.


eu sou feito a mata
que sucumbe calada
feito a Terra que sacode,
mas não maltrata quem passa
eu sou a mata que não ri,
só revela a graça.

sábado, 26 de dezembro de 2009

ipanema

: um monte de homem crescido tentando ser macho
e um velho
magro, abatido
dormindo em cima de um capacho.

fulano atualizou Quem Sou Eu (Quem É Ele)

meu auto-conhecimento é uma piada
que eu sirvo em pratos limpos de prata
para engolir.
junto, bebo um monte de mentiras-em-lata
que servem, afinal,
para fingir;
meu auto-conhecimento
acontece para eu medir, também
se fiz evoluir!
e se o gosto de mim por mim
foi um pouquinho mais além...



(achei esse texticulo de bobeira aqui... data de novembro, a pospósito)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

fim do ano e reclamações metafísicas

o fim do ano parece abrir um portal pra que entre todo tipo de arrependimento fútil. às vezes nem tem a ver com suas "escolhas erradas", ou as vezes tem sim a ver, mas eu sempre penso que se arrepender por essas coisas é quase sempre bobagem... pena também que pensar que é bobagem não faz o sentimento parecer mais tosco, ele é bem sólido na verdade.
queria ter nascido numa familia maior, com gente da minha idade. todas as festas estive rodeada de adultos, e observando-os e interagindo com eles em grande medida. algumas horas os achava mais tristemente previsíveis do que os acho hoje! outras vezes, simplesmente não entendia suas dissimulações, e a aparência de importância que revestiam alguns assuntos - do tipo, quando perguntamos aos nossos pais algo que eles considerem chocante pra ouvir de uma criança, eles se reservam se fecham e pensam pensam pensam muito pra dar uma resposta boba como quando você for mais velha eu te explico...
desde criança também vejo os visistantes, amigos do meu pai, de minha mãe, das seguintes namoradas e namorados dos dois, meus próprios coleguinhas, indo e vindo, e ninguém permanecendo, ninguém permanece.
sempre estive imersa no meu mundo de fantasias e de grandes histórias sobre coisas pequeninas, sobre uma tal semente, ou uma flor engraçada, as longas conversas com o Pequeno Polegar... sempre carreguei somente a mim mesma em todos os lugares, sempre tive a certeza melancólica que quase todos os momentos cruciais de nossa vida sempre estaremos sozinhos. mas voltando aos desejos bobos... queria não ter nascido tão cruamente racional e tão inumanamente sensível, e que tenha que viver pra conciliar esse paradoxo inestinguível. minha vida é estar sobre uma carruagem, domando cavalos arredios e independentes, cada qual desanfreado atrás de seu próprio caminho, em direções e intenções opostas. queria não ser tão ansiosa, e conseguir firmar meus pés sobre o presente agora. essa intranquilidade, esse tédio, consigo me sentir quando tinha 14/ 15 anos, o tanto que não me senti assim naquela época... vivo uma tentativa frustrada de manter o equilíbrio, tendo que estar sempre conciliando lados tão largos, e tão obtusos dentro de mim. sei que todo homem, há de viver suas dificuldades específicas, mas sei que me canso, há mto tempo me canso, quando volto a mim me sinto com 60 anos, rastejados, e quietos, uma fera falsamente amansada pela cultura, por dentro muita mágica e sentimento lunar, um mundo inteiro trancado dentro de sua racionalidade estanque, sem gravidade. tudo ferve por dentro, e por fora só o marasmo.

domingo, 13 de dezembro de 2009

para um puta amigo (para meu amigo-puta tbm serve)

uma resposta ao texto "reencontro" do antoniô *


apesar de perplexa essa amizade, nunca poderia ser previsível, nem ao menos poderíamos chamar de precoce - como se isso fosse bom... ela, como um organismo senciente independente, sabe melhor que nós, sobre o seu próprio tempo.
desde que brotou tem cara de fruto maduro, primavera latente em si mesma, como se sempre assim tivesse sido, e o que quer que estivesse ido antes, agora já não fazia mais sentido, e era logo assim substituído e sobreposto com uma nova cara, uma nova proposta. como as ondas, perenes
e do vento, a inconstância.
às vezes eu tinha a impressão que apesar de ele ser a pessoa que ela também mais conhecia no mundo, sempre restava algo incógnito, sempre houve uma espécie de respeito mútuo que ambos não conseguiam nem queriam transpassar. sabiam de cor o espaço do outro, que não devia ser ultrapassado - sob a ameaça de turbulentas e ácidas e falastronas discussões gritadas posteriores.
eram como que o cais um do outro, só que sem tanto tédio, nem tão firme nem tão certo quanto o porto, mas era onde sabiam que podiam amarrar seus barcos. de alguma forma, mesmo na ressaca do mar (ou do bar), mesmo na arrebentação, na distância, havia uma comunicação entre seus espíritos que nem mesmo os amantes haveriam crido! há ainda também, uma sintonia entre suas filosofias (tão mutáveis e ao mesmo tempo tão eternas em cada forma peculiar de serem sentidas), em seus momentos... por isso sempre sabiam cuidar da ferida um do outro, e também sempre podiam acrescer, somar, sem jamais se consumirem até o final.


* mudei a tônica pq agora esse cuzão ta na frança

alquimia na paróquia

confesso-me e confesso que
nem sei
dos pecados que cometi,
quantos deles não foram, em pensamento
que consumi!

no confessionário, ou
encarando o teto
do meu quarto
em um vislumbre deslumbrado,
eu lembro:
nós dois deitados,
eu em silêncio
amplificado,
pensando alto
se não peco,
e nego o ato
não seria também um tanto
blasfêmico
o fato
de lhe ter negado
contato?

mi cuerpo quiere volar derecho a tu cuerpo
sem escalas, sem freio
na nossa igreja, a lei é essa
que faça sexo
mas não faça feio!



aos padres e magos, aos homens! aos grandes e verdadeiros alquimistas do mundo cotidihumano, aos maiores mágicos e domadores, que conseguem manter seus puppies selvagens trancados E !satisfeitos! dentro de seus cativeiros privados, sem que estes espécimes desejem nada além de serem cotidianamente alimentados e bajulados, ao final da semana.


(02/Novembro/2009)

mensagem do mundo onírico

nadar nadar nadar
sucumbir
à beira da praia.
acumular tarefas responsabilidades e papéis pra interpretar e introverter pra depois passar correndo por isso tudo abanando um lenço velho cor de rosa, que diz tão somente, tão óbvio, que não volto cedo pra esse mar de projeções vacantes, culto da personalidade
eu abandono,
eu não volto
e permaneço descontente.
e não vejo sentido em minha jornada pra fora disso que convencionou-se minha vida. minha vida, uma sensação sempre estrangeira, de que se completa e se esvazia, se esgota, a cada porto, chegada, saída
a cada pessoa que entra, e que some em minha memória, buraco-negro de mim, pronde vão todos os caboclos, todas as teorias, as práticas, o desejo de se consumar a todos e tudo no meu espirito aqui-e-agora, eu não sei esperar, e por isso eu corro e saio voando, batendo as minhas asas feitas de fios de pensamentos, feitas de neuronios e neuroses, e penas de pássaro imigrante, eu sou a mistura de tudo o que eu vejo de lindo, e tudo que não posso assimilar de tão grande, recipiente transbordando de água, água salgada água doce, meu canal é incipiente passam fios de sal, fios de açucar um por vez. a única coisa é certa ou sou eu que fujo da água, ou a água foge de mim, das duas formas permaneço eu,
esgotada, intensa, e pra sempre sem nada nas mãos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Que pessoa, Pessoa...!

"Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração
e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e
pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e
montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo
árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores
e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora."


na íntegra: http://www.pessoa.art.br/?p=487

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu