...No princípio era o Verbo...

sábado, 11 de abril de 2009

pra quem curte um discurso...

minha forma de ver as coisas é bem simples.
na verdade não é, mas meu professor de redação disse que é importante ditármos verdades em nossos enunciados. então a partir daí, da verdade que sabe-se parcial, podemos perceber que todas as estações, todos os pontos, que compõe a vasta malha rodoviária da nossa Concepção da Vida, todos eles tornam-se verdades fundamentais e indubitáveis, por mais que se colocadas juntas em comparação talvez caíssem numa contraditoriedade difícil de ser engolida. e pra ser sincera, eu não tenho nada contra essa concepção. cada perspectiva que temos realmente grita tão alto, que quer se dizer única e insubstituível; mesmo que dizê-La de acordo com Seus Anseios irredutíveis de Idéia seja negar essencialmente outra, a quem se "contrapõe". não me importo muito com as famigeradas contradições, pessoalmente. até porque o pensamento, por si, não trás consigo o fardo da coerência - nós, como um construto social, o trazemos, mas não é algo que diga respeito à sua essência. nossos sonhos nos confirmam isso, e diriam muito mais se nós conseguíssemos alcançar novamente o valor das coisas e não somente evocar seus nomes; se conseguíssemos enxergar a essência dos eventos, e não o valor atribuído, ou comparativo... e não fazer isso (não enxergar os eventos em essência) significa sentir o peso de algo em detrimento de outro, uma concepção totalmente condicional. é óbvio que essa necessidade de ponderar é totalmente essencial pro processo de identificação (que diz que você reconhece tal atributo porque reconhece em si mesmo)/ austeridade (que diz que você não reconhece tal atributo porque não o enxerga em si) para constituir certezas relativas de mundo, mas tbm é importante reconhecer nisso um mecanismo racional básico, e considerar que não necessariamente essa é a única maneira de perceber. tentar "superar" as limitações da mente não significa negar sua contundência, significa simplesmente tentar ampliar os espaços subjetivos dentro dos quais ela, a mente, trabalha com os conceitos. falando de maneira menos subjetiva, perceber a vida de forma espiritual/metafísica, por exemplo, é mais uma esfera na qual você reconhece determinados valores e através da qual vc TBM vê o mundo, traça suas relações interpessoais, analisa um evento, debate sobre etc... a inteligência, palavrinha muito subjulgada ultimamente, não se contenta com colocar as essências em frascos e dar nome a eles! ela pede espaço, material para assimilar, objetos para criação, crer nela como um mero mecanismo de categorização ou reprodução é subestimá-la radicalmente.
e é isso que temos feito com nós mesmos. o sentimento moralista diante da criação, a tentativa de constituir uma arte moral que não fira os pudores - que não permite que se mostre a banda podre, que não concebe o lado também mórbido das aspirações e fantasias... - não só reduzem a arte ao que é afável aos olhos, como nos obriga a colocar dentro do armários, sob pequenas doses de empurrões para que coubesse, um largo lado de nós. e com isso, criamos mais bichos de 7 cabeças (bem mais que podemos suportar em uma existência sadia), de modo que viver em nosso corpo seja como viver em território desconhecido, e se acabasse por se perder nos obscuros quartos de consciência esvanescida, traumas, bloqueios, escapes, projeções, transferências, e quanto mais jargões demagogos forem necessários pra exprimir...
o grotesco é o que dá asco, mas também é o que instiga, de maneira oposta ao sublime, e estético - estes últimos, rocha na qual inscrevemos os 10 mandamentos da arte como-ela-deve-ser. deixado de lado, distanciamo-nos um passo a mais do que chamamos ser humano (por um estranho sentimento de auto-comiseração e auto-piedade), mas que por falta de decência e sinceridade, por termos decidido fechar tantas vezes os olhos pro que nos chama, conseguimos ser menos ainda que isso, menos ainda que humanos. e não me venham dizer que somos animais, porque os não-humanos sabem muito bem o que deles é esperado que sejam, e seu lugar no mundo...
a busca por sermos humanos é bem mais que imaginamos... é uma saga constante, e os objetivos estão tão distantes que anuviam-se, lá ao longe... encobertos por uma nuvem preta que estica-se com vontade por todo o horizonte, logo ela vai chover de volta as águas e ares de racionalidade superficial e percepção cartesiana.
enquanto buscarmos nos nossos objetos de contemplação o que não conseguimos contemplar em nós, nos faltará suficiente honestidade para lidar com a vida. é preciso muita franqueza pra dobrar os olhos pra dentro, muita sensibilidade, somos frágeis, todos, em níveis diversos, e se não levarmos isso em conta nos nossos relacionamentos seremos sempre todo farpas, brutos, os primatas sempre farão melhor... não conseguimos olhar pros nossos monstros escatológicos babões e cheios de dente, nao conseguimos admitir vulgaridade, mesmo que o Amor - nosso deus preferido - muitas vezes o seja (vulgar), e seja tbm coisas muito mais inaceitáveis que isso, mas que por entropia, por incapacidade de enxergar os acontecimentos sem um forte julgo moral, mais uma vez nublamos o olhar conscientemente e fingimos que não vimos o quão doente podemos ser, quando estamos pela metade.
eu receio ser sempre incisiva nas minhas falas quando digo que "é preciso", na maioria das vezes digo porque penso ser verdade, mas o leitor tem que entender que pouquíssimas expressões possuem esse nível magnânimo de impacto e persuasão. e por isso torno a repetí-lo mais de 5 vezes em cada texto.
paciência.
mas voltando, eu vim reiterando ao longo desse texto a urgência de equilibrar essa balança que nossa espécie descaralhou, o equilíbrio dos arquétipos, estamos já soterrados da cultura hierárquica patriarcal, da cultura da carne, da legitimidade, da labuta, do conhecimento, da matéria, da ciência... o reino da racionalidade se extendeu muito mais que deveria, estamos embrutecidos, ou descrentes demais pra enxergar qualquer viés para fora dele.
e é por isso que é preciso prestar atenção aos nossos sinais internos, tão tímidos e quase inconscientes que se escondem; perceber o que nos têm faltado, o que projetamos nos outros, ou em nossa fala...

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então eu pretendia elucidar nesse post o porquê do nome do blog, e meu pensamento é péssimo tentando operar linearmente... aí, digamos que eu creia, ainda dentro dessa noção dos arquétipos complementares, que a leitura é o alimento do escritor, que absorver é tão necessário quanto extravazar, e que eu achava de certa forma que o que eu penso e sobre o quê reflito fosse ser digno em alguma esfera de ser lido...
e nisso tudo eu leio e escrevo horrores, verborragia
e quem curtir um discurso, fagocita.
ENFIM


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"Surrealismo:
Substantivo. Puro automatismo psíquico através do qual se deseja exprimir, verbalmente ou por escrito, a verdadeira função do pensamento. Pensamento ditado na ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda a preocupação estética ou moral"


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link do meu antigo blog: Louie, Louie


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2 comentários:

  1. o surrealismo, a abstração, são as chaves de esperança para a nossa complementação do que falta. O real a que nos subjugamos nos subestima. É preciso mais que o real, esse construto social que a torre de babel, quando em crise, despedaçou.

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  2. o que??? que disseste tu? Não acredito... nessas palavras? vou copiar e colar: "e não me venham dizer que somos animais, porque os não-humanos sabem muito bem o que deles é esperado que sejam, e seu lugar no mundo..."

    Não era... caralho... ah... vc sabe muito bem do que eu estou falando.

    Não tenho nada contra a contradição, mas me incomoda a incoêrencia, subtilmente diferentes, assim como o paradoxo: este ultimo me agrada. Paradoxos são contradições com verdades camufladas. Incoerências são mentiras involuntárias.

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