...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 29 de março de 2010

eu quero um compositor poeta gostoso e que faça piada de bom gosto, que tenha tique nervoso pra fazer qualquer coisa que faça com tesão, que tenha jeito de artista que me entretenha com seu rosto tranquilo que adormeça entre meus dedos como um menino, até babar na minha mão eu deixo, desde que ele se enrosque todo nos meus cachos que me desfaça mediante um só gesto, que desconfie do meu jeito de olhar assim sério se não for olhado de frente, que me pergunte se Eu não estou fazendo aquilo de novo? alguém que faça tudo ser subitamente lustroso, que seja de alguma forma brilhante e entusiasmado com todas as coisas pequenas que em algum momento eu deixei de lado. um caraammm... desde que tenha uma boa performance assim, como serumano como gente de carne-osso e também tutano, que não me esqueça ao final de semana que me leve aos ensaios da banda e mexa nos meus cabelos como se eles escondessem uma mágica que todos os outros, coitados, não eram sopranos enough pra cantar, só você, só com você, aah sim, com você quero dividir um mundo, com essa pessoa que inventei, dormir ao embalo do sonho que hollywood filmou, à voz do patrick watson que desliza pelos ouvidos e alto-falantes e se dilui na corrente sanguinea no batimento cardíaco, quero um romance terceiro-mundista um amor com jeito de poesia surrealista, a gente não entende só vê, só sente, quero ter alguém que queira minha verborragia de presente, que desembrulhe meu carinho e doçura escondidos que ressucite meu amor leve pelas coisas, minha paixão pelas pessoas, que aceite meu cansaço e que me faça perceber que o caso que tenho comigo é de puro descaso, que ponha sobre meu ombro o casaso e diga MAIS que eu devia me amar demais, quero que me sugira pra não me perder no tanto que penso, que com ele com você eu posso relaxar, eu quero que me pegue no colo pra me fazer ninar e me levar embora da claustrofobia do mundo de 2D. e assopre forte pra que o medo vá embora e assole algum outro mundo mais pobre, alguém que me veja e queira e que não deixe nunca que se mexa nesse mundo meu tão bonito, ele acha, e pega nas mãos pra admirar e nesse momento parece mesmo muito bonito pra quem vê ele olhando com todo cuidado prum pedaço de fantasia descolorida. quero um cara que tenha o dote abastado e a bagagem compacta de quem vive a vida de verdade.

ando

ando tanto
que tenho andado mutante
ando manco, no entanto
ando com o copo vazio, ando santo
ando só à mando, ando tramando
uma vida nova
pra todos nós,
nesse instante
ando no estilo
ando no cio,
enfeito o estande
não ando na pista,
o vento muda e eu
só descarinho
Eu, descarrilho e
eu engatinho

ando pouca
ando oca de mim
me vejo dando
me observo-ando
expondo pra outros
os ecos
dos brilhos
da ceda e do cetim
que já se foram há um tempo,
que já se foram há um tempo, sim
agora
nadando na ágora,
nas águas dessa conveniência assoberbada
na mágoa da inteligência distante e aristocrática,
trançando a seca palha
de quem não admite pra si
a falha, eu não admito em mim a desgraça
pois sempre que começo o olhar pra dentro
- estaca!
e sempre que deslizo pra fora
estanca
o olhar algoz do próximo
companheiro de copo
e a certeza de estar muito a sós
nesse barco.

Quem sou eu