...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

No Divã (Esquete)

Analista e paciente. Cadeiras de frente uma pra outra.
Paciente fala sem pausas ou vírgulas.
Fala, fala, fala...
O analista aperta o nariz do paciente e gira para a esquerda.
O paciente retrocede em seus pensamentos, repete sua última frase, e chega à uma conclusão brilhante!
Abraça entusiasticamente o analista, agradecendo sem parar.
Obrigado, doutor! Muito obrigado! Como vivi até então sem saber disso!? E isso... TUDO! é graças ao senhor!
O paciente beija seguidas vezes a mão do analista.
Obrigado viu, valeuzão!
O paciente bate a porta do consultório num suspiro, e o analista continua mórbidamente parado.



por Luiza e Serejo

compreensão à meia-luz

quando olho você dormindo
homem grande, preenchendo a cama
homem perfeito
feito de sonho e de sombra
entendo a idéia sagrada
de Deus.








(um à parte de minha parte: feito de barro uma ova! o homem foi feito é de Luz!)

a rua virou um rio

manobra a nado,
do Largo do Machado
ficou só o Lago

cicloativismo de final de semana

sobre duas rodas
dou a volta ao mundo
ou pelo menos na orla

zelando pela própria imagem


"eu faço música sobre relacionamentos.
e se você reparar "DADO pra você" tem um duplo sentido."

(dado dolabella)

hai kai

obra no andar de cima
manhã de cão e de furadeira

Trânsito

engarrafamento:
no horário-de-pico
a gente injeta

Tirania

Meu trato com as formigas é um barato:
EU SOU O ESTADO
Alimento depois mato.

metatemporal

amanheço nublada.
pré-vejo chover muita água, eu digo,
uma chuva de verão nos braços da primavera aguada,
verter minha água, meus pingos pesados
sobre os guarda-chuvas, os rostos
e sobre ar-condicionados

são 3 da tarde
e eu já bati em retirada
em direção às nove horas,
que é o horário onde minha nuvem mora
parada

e como todo homem que chove
se precipita,
como todo poeta que sofre
o sofrimento lapida
em versos
não estou nunca aqui, presente

é que a chuva que aumenta
só aumenta meu desespero corrente
e ao final
da poesia
- o temporal -
(essa sim!
filha de seu tempo),
encontro-me fina(l)mente
desperto
: a nuvem esvaziada
e o pensamento completo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

milágrimas

a cada mil lágrimas sai um milagre.

(itamar assunção)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

dança das horas

0. o ato antes do primeiro

antes
desprovida,
agora ao dispor
Vida
deporias contra a minha.




I. ato primeiro

arredia.
arreda a rédia
e empurra
o segredo SECRETO da minha,
nossa festa
de volta pra sela.

o que eu quero dela
é que ela seda!
e que queira
e me entenda:
quero dela,
apenas o que sou eu.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"a nalzea"

aquilo que me leva a não encarar meus abismos, e a não cumprir com meus compromissos, contêm a mesma substância: o não querer.
nada.
nem que seja de graça, nem que não custe nada,
falar, assistir ou buscar.
não quero dizer não, nem me impor, muito menos "dar um jeito". meu desejo, e minha prática, tem sido abandonar tudo mal-feito, e depois disso, nem alçar um segundo olhar, abandonar e só.
e deixar pra lá.
espero algo do meu entorno que nunca, nunca vem. e eu não espero dentro de mim, nem espero junto a alguém, espero lá fora, desertora, estrangeira, e tolamente desperdiçada.
dentro, o sujeito contraposto ao seu meio, repousa um vácuo quente e úmido, de sentimento fermentado (de puro desgosto aguado!) acabo que deixo um monte ao acaso, sem ter o mínimo de cuidado - principalmente com o que falo -, e escuto as outras falas tagarelas, verdadeiras epopéias narradas, e no fundo uma certeza seca de que todos tem tanto nada a comunicar quanto eu.

do tédio ao desespero (em duas doses)

corro os olhos desinteressados pelas vitrines, me sinto como se estivesse em são paulo, olhando vazio para o vazio que é refratado nas calçadas. não desejo comprar, nem comer, e passar nessa rua me dá sempre a impressão de estar imersa em um querer abstrato de coisa ainda não inventada.
penso em comer sem querer nem pensar em comida, me pego olhando longamente para dois caras de mochila, de costas para a avenida, em quem nada havia para se reparar. percebo traços da vida enquanto ando, presto atenção em suas veias e vielas que não despertam em mim nenhuma estima; e é dessa falta de interesse que se desvela meu distanciamento - este, do qual falo desde que as palavras me foram apresentadas...
esse tédio que eu sinto, vem de mim, do meu cansaço sem razão, ou o que eu sinto exala do imobiliário dessa cidade, desses tantos espelhos espalhados pra tudo que é lado? não sei pra quê tantos espelhos, tanto vidro transparente pra um monte de gente que não agüenta se ver por dentro. até meus olhos, convenientemente polarizados, andam vestindo-se de fumê pelo simples fato de não querer ver, o que todas essas lojas se esfregam para mostrar. até minha boca que vive a articular, se cala ao sentir o nada, dolorido e complascente, a se retratar.
não sei se é de hoje que sei-me desse jeito, mas caminho sozinho ouvindo as vozes nas ruas escoar feito esgoto para os bueiros, pelos becos
e cruzamentos engarrafados, na minha neuroquímica.
decido, sento no bar.
peço um gim duplo, e recomendo ao garçom, antes que me venha à cobrar, que hoje só quero saber de esquecer, e que nem fale comigo se for para lembrar!

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

estatutos

declaro
a poesia um modo de vida
concreto.

a viabilidade de uma frase:
em ficção ou
em verdade

declaro justo
e legítimo
o direito de nos amplificármos
e o direito de amar quem somos.

declaro válida
uma vida não analisada,
declaro também linda
uma vida que seja tímida!
de quem pede licença
pra existir.

esclareço que também é permitida
uma vida vendida
a fiado,
não tem problema,
não tem nada de errado,
declaro o direito inclusive
de não nos sentirmos inteiros
volta e meio
ou de não acordármos cedo
de tanto em tanto.

declaro plausível
a proferição de mentiras coloridas,
de amigos itinerantes
e de caminhar sozinho.

é liberada a existência
de pessoas estranhas
e de conversas imorais.

é permitido também
amanhecer na lapa
em plena quarta-feira
e ir demanhãzinha pro trabalho .

fica decretado
o direito inalienável
vitalício
de sermos quem quisermos ser
andando,
ou até mesmo parado.



emenda: todos têm o direito intransferível
de reinventar o seu próprio cenário.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

tenho medo que não reste de mim mais que
o nome
que reste em mim
apenas a fome
e mais um punhado de reflexões estéreis

tenho medo que o enredo não veja mais
que apenas tédio
medo de que se vão os sonhos,
de que não reste mais que o sono
que não reste mais
que bocejo.

endagações esmaecidas de domingo

fico me perguntando quanto tempo somos capazes de viver em movimento pendular, entre achar que alguém merece o mundo, e achar que ninguém no mundo te merece; entre se perder nos mistérios de quem a gente gosta, e perder o que a gente gosta nesses mistérios...
por que tudo invariavelmente acaba em silêncio e tédio? não somos tão vastos? o que será que me corrompe a visão, vez em quando? que não vejo em nós essa nobreza de ser incompleto, essa grandeza de nos refazermos e reinventarmos? onde está a beleza da nossa limitação?
aonde eu perdi o glamour do fracasso que eu não consigo achar?
eu às vezes só vejo uma montanha de equívocos e confusões, e tentativas desesperadas (não belas, só honestamente descontroladas) de fingirmos que somos serenos e seguros.
a vida é uma tentativa fracassada de produzir sentido, estando mergulhado na falta dele.

cadê o mundo colorido prometido pela nova era dentro de mim?
acabou o inverno e cadê minha fantasia de primavera?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

mente quem diz que a lua é velha*




plena como a lua cheia, hoje ninguém vai me tirar do prumo!
tenho atrás de mim a certeza do sol
e o rei de ouros sobre meu rumo!
também não há dúvidas, nem sombra, e nem há curvas!
hoje
há só o sol (que aquece as costas) e anuncia
o começo de renovadas lutas!

Jaya mãe Lua!



* "mente quem diz que a lua é velha
a lua, quando ela roda, é nova
crescente ou meia
a Lua!
é cheia!
e quando ela roda, minguante e meia
depois é lua nova(mente)
quem diz que a lua é velha!"

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu