...No princípio era o Verbo...
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Do texto à taça e de volta ao texto
a produção nos últimos meses anda menos caudalosa, menos palavrífera, menos querente
eu estava lendo...
o texto mais preciso, mais pleno, mais sentido
vivo tempos de estranho alinhamento
implícito cetro no ordenamento dos astros e constelações de arquétipos
meu céu se move cada vez mais povoado de múltiplo e conciso
significado
os sinais prolixos que a vida me enviava
hoje são códigos instantaneamente compreendidos,
logo que são gerados
crescer também é isso, quero dizer a vocês
capturar com destreza a essência das coisas
querê-las menos óbvias, aceitar-lhes nos seus contornos próprios
ver a beleza que não vem do ideal, mas daquilo que é
crescer também é
uma situação que não rima, e a delícia do simples que não gosta de ser dita
nem muito menos nomeada
menos glamour e mais alegria,
são os votos que meu coração faria
Feliz Natal, mundo!
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
PINA
Uma obra em que o silêncio e o tempo viram elementos cênicos,
os personagens são peões das pulsões, que representam
A voz é vestida de gesto, corpos nus sob transparências
Busca pelo conforto, a crise na aparência
Consciência do contexto, que nega o desejo e o delírio
a pequena, e notável,
necessidade de ordem, e norma
perante o abismo inominável
Descontinuidade, balanço, suspensão, convulsões, magnetismo,
força, intensidade, paralisia
(Cultura) Alguém que corrige os homens; espectadores e produtores do delírio "felissíssimo", sem leveza. o Jogo.
Estudo delicado de fotografia e cenografia.
Amparo, sustentação, equilíbrio,
coalisão, compensação
(Externas) Dançam enquanto a vida acontece...
Bailarinas corrigem a direção ingênua de sua fisiologia, de seus desejos, inadequados
Gestos que abrem espaço, inauguram o vazio e a saída
dão idéias, ventilam, expurgam, apalpam, escavam e poupam
Velocidade
Anseio que aceita as condições impostas para continuar buscando o impossível; e o desejo de descanso, concorrendo para tentar garantir a paz.
sábado, 18 de agosto de 2012
sentir
câmara oculta, no peito, desarticulada dos braços
não impede a luz de entrar, nem convida
côncava, apenas está
máquina de transformar
a miragem das maneiras mentais de dizer
dança sem mover-se, sentir
é um jeito de permanecer
o felino farejando o vento
fecha os olhos para crer melhor
buscando conhecer o ar
e saber, o sabor do instante, salivar
não se endaga e não se engana
o felino, traga a existência num sopro
e num sopro,
sentindo...
faz toda a Terra vibrar
sentir, a flecha certeira
cortando o espaço em fiapos
arqueia mesmo o mais rígido sentido
sentir, a corda estendida
vira laço
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
povoar.me
Quero afirmar meu tempo à revelia
e dentro
e independentemente de
/do tempo do mundo
e dizer a verdade + que sincera
e ser verdadeira à todo mistério
ser coerente à minha maneira
singela
de ser nada sério e
poço fundo
s/ perder o critério
mistério no espaço
um lugar no pensamento vago
longe no hotel presente, com endereço e tudo mais
cadastrado no gps
alugar um imóvel que ainda não foi construído pra um casal de
turistas,
ou um imóvel que está sendo sonhado agora, neste instante, um
imóvel que já foi vendido (polêmico (e ilegal!))
estar, mas não querer estar, e simplesmente sentir como se não estivesse
mas sofrendo os abalos sísmicos conscienciais de quem está, pronta e definidamente,
cercada daquilo que não estaria nem ali - caso tivesse escolha - mas não tinha.
quando eu saio de mim, o que fica em mim?
o que sai de mim e chega em você, quando eu falo, é o mesmo que estava dentro de mim antes de abrir a boca? ou ao abrir a boca, estrago?
o risco de extravio é a razão do anonimato. engulo as idéias todas de volta, antes que saltem mundo à fora, e devoro-las-todas. digo-las que o mundo aí fora vai degolá-las antes mesmo que dêem seu primeiro
suspiro. e respiro. e acalmo-las todas, pra que sintam que dentro de mim existe um lugar pra elas, pra que eu saiba que existe um lugar pra mim aonde vivo, um lugar invisível, com endereço e cep, cadastrado em lugar nenhum.
terça-feira, 31 de julho de 2012
declaração
e todas as coisas que são bruscas e diferentes a cada instante
que todos dizem delas sempre foram maravilhosas e sempre brilhantes
a todo instante.
o meu coração não cabe nessa narrativa de bolinhas e barbantes,
em uma linha, tão magra tadinha! uma linha pra mim não é quase nada
uma linha diz de si, silêncio
é bonito, quieto, repousa imperturbável
é ótimo, silêncio pra mim é o mundo dos sonhos, onde tudo existe de uma maneira diferente
e eu não nego, me esforço pra chegar no silêncio e provar do seu néctar iridescente,
não nego mesmo
se pudesse escolher, talvez escolhesse ser filha de outro delírio, e provar da brisa e das tempestades com os mesmos lábios
mas cada hora sou uma, e sinto como uma outra, e sinto tanto que não tem espaço dentro de mim que permaneça intocado
tudo o que vivo se cutuca mutuamente, é uma rede de fios de barbante como cama de gato
como as narrativas de bêbado
onde começo e termino por onde passo, o que envolvo com esse meu fio
o que me atravessa e me domina
sou tudo eu indefinível, tudo eu sem destino.
(não sei de quando é esse texto, mas sei que o tempo é presente)
domingo, 29 de julho de 2012
você tem um acordo
não vou me revoltar
vou ficar quieta e respeitar o ponto, o sinal fechado, o mau humor do motorista
vou ser cordial, e fingida, fingir ser cordial e sincera, bem vivida
fazer um bem social
não vou me revoltar por coisa pouca, coisa miúda
que coisa?
me pergunto, e fujo da resposta
me enrolo (na dúvida)
não vou me revoltar, vou esperar isso fazer sentido
vou esperar o sentido sentada aqui, no ponto
vou esperar o sinal fechado abrir
aqui, bem aqui
vou entender, mesmo estando no epicentro do furacão
o mau humor do meu irmão,
eu vou ir com fé inquebrantável
me vestir com as armas de Jorge
combater o bom combate
vou me voltar pra dentro de mim
e ir de uma vez confortar essa ira
que me revolta
e ir ser feliz, à toda prova
domingo, 1 de julho de 2012
eterno volver
olhar pra fora, pra dentro, pros lados, pra trás, adiante... e fechar os olhos e sentir isso em todas as direções. que se é, e se cabe perfeitamente no que se é e onde se cabe perfeitamente.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
indo
saber que às vezes posso ser na vida
a criança
que nunca cresceu
e abrir meu peito lança
- mas não tão bélico -
aberto ao inesperado, espero
e meu amor é cheio de esperança
repleto
de carisma carinho, de muito quero
e de medo, de medinho
de criança
o cheiro
do seu cabelo, sua Essência, do vinho
menino
eu me perco só de pensar você
na rotina
e parece que nem dobrei a rua
que nem deixei de ser
menina
eu te amo quando dobro cada esquina
quando dobro a minha língua e
meu orgulho
num deslizar fácil de dedos
emoções e origamis parecem tão simples, e eu
te amo quando o ônibus passa
e ele passa e eu nem sei qual é
para um leonino de barba (19/09/2011)
sábado, 9 de junho de 2012
feliz aniversário/inferno astral
começou a escrever
mas escrever chora, o ato em si, chora
deixa a lágrima rolar... solta o ar...
um choro com solucinho embaixo do edredon
o rosto quente
a chuva chora também
mansinho,
no outono
escrever, um cataclisma
inferno astral
"ai que idiota que eu sou!
ai que idiota que eu posso e pude ser!"
como ser diferente? como ser de outro jeito que não seja
esse meu sem-jeito de ser!
mas escrevia sobre escrever
porque a gente chora, mais uma hora passa
e a gente senta na cama de novo, e enxuga os olhos
e diz pra si mesmo. pra si mesma, no caso
que se é uma nova mulher
sim, eu sou uma nova mulher
cada vez que digo pra mim mesma que não posso ser a mulher que desejo ser
digo que sou uma nova, porque daquele jeito não dava mesmo pra continuar sendo!
pois sou uma nova mulher!
e meu brado é verdadeiro e transparente como a chateação de uma criança
uma nova mulher com dúvidas renovadas
e um certo cansaço de velha
seria mais fresca se tivesse em posse de alguns ditados
uns provérbios chineses
alguma coisa que enchesse meus lábios de consensos
e fizesse sentidos mais populares
seria talvez mais querida, se ainda pendurasse meus gostos exóticos à tira colo
seria talvez, se fizessem bottons com as abstrações que pintam minhas idéias malucas
estou sem idéias. mas escrevo mesmo sem tê-las porque descubro a genialidade no vazio que fica no meio entre as frases,
quando respiro na hora da vírgula, é genial
acho que só respiro aí mesmo. engulo os pontos, e salto os parágrafos. não tenho jeito.
não sei me comportar usando vestidos.
principalmente os antigos.
simplesmente não sei.
aquela menina
quero explodir pela epiderme do meu corpo
explodir em direção à lua
a minha cara, explodir pelo buraquinho da agulha
sabe aquele, onde a gente passa o fio
meu sentimento que explode no impossível
minha identidade sem cura
eu quero explodir primeiro pelos capilares mais miúdos
e depois deixar pros últimos
os vasculares
mais graúdos
eu quero explodir o verbo
espremer o sentido, tirar seu sebo
rancar o vício
quero descomprimir toda a pele que me reveste
quero partir ao meio
e ainda olhar o dentro
quero ficar quieta. quero gritar e pular e pulsar e correr. e sacudir e balançar até esquecer que eu existo. até esquecer essa loucura sem nome que as pessoas chamam vida.
quero fingir que não vi, que não li, que não sei que não senti
que não, na verdade eu nunca senti
que sempre vivi assim, que sei ser eu
como ninguém!
que sei ser assim, sempre atrás de mim
sempre oculta, atrás de alguma revista
de algumas palavras bonitas
de alguma sabedoria densa e melada presa grudada no fundo do pote
alguma sabedoria inesperada e sempre fora de hora
queria me comportar sob a aparência que me foi dada
queria poder vestir alguma máscara
queria que fingir não fosse me incomodar
eu faria isso pra sempre
eu fugiria pra sempre, eu disse
eu sou o tipo de pessoa que vive a procura de lugar nenhum
pra morar
e que não descansa até encontrar
esse canto
eu acho que vivo uma espécie de marcha eterna para o descanso
com muitas curvas no percurso, curvas longas
e pernas curtas
e muito gogó muita palavra solta muita letrinha de mão-dada
muita filosofia
muita roupa apertada
muito calçado furado
mil remendos, pouco talento
e uma infinita capacidade de gerar novos jeitinhos
novos cambalachos
pra poder dar jeito
no que não pode ser consertado
queria que a minha angústia não fosse tão visitada
quero me esconder e implodir sem alarde
já passou das 3 horas e eu preciso dormir
segunda-feira, 23 de abril de 2012
pontoar
centenas de calendários e repertórios. cenas próprias em interação eterna. interna, sob as epidermes. externa. ao centro alheio, dentro, a vida pulsa sem recheio. ausência. em consonância sem eco, a ruminância segue sem resultado, guardo. os dias, feriados, experiências, vivencia o tempo, presente e passado. retrato. a memória em luz e sombra, enquadro. tenho au au!cance, dos dedos, o que passou - passou. o que passou, passei. recordo.
sábado, 31 de março de 2012
alfabetizando
quinta-feira, 15 de março de 2012
O Cerno Mundo
Meu G-i-tinho único de ser mtos, meu jeitinho rraro descabelado com tantos traços. Meu jeito de ser algo móvel, pra cima e pra baixo. um ser ou dois seres, não sei quantas veses faço. num firme compasso – o cum passo logo atrás, o atrasado. Pra frente pra sempre o tempo lateja, nu presente. Sinto um aperto: a sola é muito perto do resto do sapato. Sou meio sou cheio sou régua e compasso. Um terço de seres célebres, uma taça pros poetas mal empregados (dividirem). O cenário, um celeiro. Um terceiro quinto mundo lutando pra escapar inteiro; um mundo de igualdades mal medidas, e de muitas sedes verdes, coloridas, todas inventadas. A solução mais pedida, pra um esposo aborrecido, à meia-noite serviços gratuitos (incluídos) que servem sexo igual rodízio. Enquanto com vida o home convida a tristeza à Cia, eles falam da vida com peso de morte, e da morte com mais peso ainda. Ai essa humanidade quase sempre convencida!, prefere confiar na sorte que tecê-la dia-por-dia.
Eu, um sujeito sem bolsos e sem porte legal de soluções na carteira. Eu, a experiência que caminha sem pressa as velocidades da vida na esteira.