...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

estradas

quem viaja, veja bem
não deve ser por desgarra ou falta de gosto pelo familiar
quem viaja é porque de certo vislumbra
um Infinito jardim de infinita família
que se estende pra longe do olhar
a vista

quem viaja é porque reconhece na viagem tudo que há de bom
e bonito e valoroso
sobre pertencer à todos os lugares
de arroubo,
e ao final ao retornar ao lar
perceber, com assombro
que o tempo todo não teria
precisado
nem procurar
se é que buscava algo,
certo que este algo podia encontrar
este algo que então o buscava
e este algo próprio que o seguia
não estava nem fora de alcance,
talvez apenas fora
de perspectiva.

a maturidade dá uma volta
completa
pra finalmente se sentar
na quinta ou na quarta curva
da BR, no estradar





"tudo isso eu vi nas mia andança
nos tempo qui eu bascuiava
o trecho alei
tô de volta já faiz tempo
qui dexei o meu lugá
isso se deu cuano moço
qui eu saí a percurá
nas inlusão que hai no mundo
nas bramura qui hai pru lá
saltei pur prefundos pôço
qui o Tioso tem pru lá
Jesus livrô derna d'eu môço
do raivoso me paiá
já passei pur tantas prova
inda tem prova a infrentá
vô cantando mias trova
qui ajuntei no camiá"

CANTIGA DO ESTRADAR

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

NATAL, pra mim

Eu amoodeio ter que contrariar a massa das opiniões. Minha vontade é que MASSA significasse um coro consonante de vozes amigas, satisfeitas e plenas, dialogando. Não um pedaço amorfo de farinha e fermento que juntos são chamados MASSA por sua qualidade de permanecer inerte, e sem expressão.

Mas vai chegando Natal as vozes vão estancando dos boeiros, a insatisfação dos meus companheiros com a Ceia, com a inexpressividade dessa data na vida deles... Muitos narram verdadeiras torturas mentais, cd's de natal da Globo de 20mil anos atrás, as mesmas histórias, sei lá... Sei que me dá sono só de pensar.

O que eu gosto desse blablablá, da revolta dos amigos, é que eu em absoluto preciso me revoltar. Primeiro que não acho Natal uma data de consumo, porque na minha visão o consumo aderiu ao Natal, e não o contrário. A história que conheço do Natal - Solstício de Verão, no Hemisfério Sul - não vem de Jesus, mas confirma-se nele. Para a Antiga Tradição xamânica, o Solstício de Verão, encerramento de um ciclo, era um momento em que todos os sacerdotes e xamãs praticavam um ritual de renovação. Essa prática remontava um sentimento de "volta à Origem ou Paraíso", à Era de Ouro (reconhecida pelos Hindus), e à harmonia.
A crença dizia que à meia-noite o mundo era submetido ao Paraíso.
O Pinheiro, símbolo da Árvore Cósmica, ou Árvore da Vida, representa a Ascenção do homem através da idade, e das dimensões de compreensão. Conforme envelhecia, mais próximo se ligava ao Pai, à estrela que jaz no topo do pinheiro. A chaminé também representa esse eixo de conexão com os Céus.

Isso é só uma curiosidade que me faz lembrar desse dia como sendo efetivamente mágico, e não mais um dia pra se pensar na realidade sociopolítica sociopata universal!

Natal pra mim é tomar cerveja com meu tio, golezinho do whisky já maturado de tanto tempo que foi seu feitio, natal pra mim é gozar da boa-aventurança de ter uma estrutura, iguais, ou pelo menos parecidos. Familiares compartilham mais que sobrenome, o sangue. Compartilham uma visão particular de sentir o mundo. No meu sangue corre sangue de preto, corre sangue de gente que batalha e batalhou para preservar seu caráter e não suas opiniões. Pra mim ISSO representa a minha família: nossos reais valores.

Todos os que entram pela porta da nossa família, sinto como se já os conhecesse. É o caso da Hermínia, da Tutu e dos amigos das duas. Cada membro que entra pela porta é mais como um reencontro. E esse reencontro é um reencontro Alma. E é por isso que AMO o Natal.

Meu Natal é ver os olhinhos da Raimunda brilharem, ver o sorriso ingênuo do Fábio, e os comentários ácidos da Paula e do Rafael. O barulho de todo mundo conversando, as piadas e sacanagens da entidade LUIZ+PAULO, e tudo o mais... Cascadura pra mim tem cheiro de infância, e cheiro de coisas eternas. Passear pela comunidade é passear pela minha própria história, e pela história dos que aqui vivem. Vejo as fotos de mim pequenininha com roupa de carnaval!
Ai ai, minha família, pra mim isso TUDO é o nosso Natal!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

FIM DE ANO (Reflexos)

a mesma consciência que fere "a outros", sacrifica a si própria. sua chance de enxergar com os olhos limpos o que há de Um em tudo e todos. e permanece apegada à aparência de seus atos, enquanto o que clama dentro de si é o desejo de compreensão. ater-se às aparências é, por definição, permanecer fechado pra qualquer percepção mais profunda.

a questão do erro não é uma questão moral, a questão do erro é: ele não existe. e a inexistência do erro trás a questão da responsabilidade. estou sendo verdadeiro, ou estou sendo verdadeiro pra que os outros enxerguem isso?
estou sendo bom pra todo mundo? ser digno é fazer sala pra todo mundo, por dentro estando turvo?
ser bonzinho é algo que gostaríamos muito de ser, mas se estamos em movimento e estamos experimentando, não é possível haver tal coisa.

quando escrevo isso é porque passo por isso, e porque vejo que querer ser bonzinho é o querer ser mais e progredir, no fundo no fundo.
para caminhar é preciso deixar uma perna atrás, e trazê-la pra frente. esse gesto por si só representa o que temos que abandonar para continuar seguindo.


neste Natal, presenteie a si mesmo com boa dose de reflexão, e auto-alento. abandone às limitações dos "valores universais de bom convívio". esteja em Paz, e torna-te a Norma da Consciência.


NAMASTÊ, E EXCELENTE FIM DE ANO A TODOS!

A Morte como conselheira do vivo

empurro a parede do Não até onde me permite a inspiração
espalmo as mãos contra o concreto que me diz Eu sou de ferro
minhas mãos pequenas, menos de 15 centímetros em cada cano de descarga frenético
dizem de volta ao Não e ao perecimento o meu desdém eterno
eu desafio a Morte porque a ela bem conheço
porque a respeito e elegante, ela só chega quando bem lhe convém

por isso enraizo meus pés no Agora
por isso minha vida é cheia de significado maior
porque enraizar quer dizer nutrir-me do que há,
é mostrar pra mim mesma que vivo e que viver é minha única dádiva
que a vida é minha diva no divã, e eu me encontro exatamente de frente pra ela
inquisidora dela, inquisidora da Roda
agulho, ferrôo, provoco dores cáusticas, vejo vomitar as certezas de raiz
vejo transcender o limite dos braços e pernas

e recolho minhas raízes de volta, pra dentro de mim,
e nutro-me então do caos interior, da vastidão do microcosmos que Sou
Eu Sou
e nada mais.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Coroa com Flores

Das coisas que vi e vivi, soube algumas indecifráveis...
Como subir no telhado sem deslizar e quebrar o teto de alguém pra fumar um cigarro,
como descer a escada de madeira encerada de meias e mãos ocupadas,
como gostar de gripe e gostar mais ainda do suor de febre, debaixo das cobertas, porque estou segura. Como se sentir mais em casa fora dela do que nela, com uma família que descobri também ser minha.
Como o número 7 some da porta de alguém e pára na grama do jardim da frente. Como viver sem perguntar se isso de viver é bom, como dizer coisas sem pensar se a idéia é realmente engraçada. Como fazer graça sem querer, e tomar banho de mangueira de primeira!, e o horário ideal para que a mágica aconteça. Como fazer um cabelo ruim virar bom na água de cachoeira, nem te conto...

Soube exatamente como digitar no laptop com um coelho roendo meu dedo e arranhando a pele da minha virilha, como assistir Video Show sem ter uma pontada de dor, ou de alergia. Soube como manter o olhar limpo sobre as coisas, sobre mim, e sobre o olhar pejorativo das pessoas na rua.
Como me manter no centro calmo de mim.
Soube como caminhar reto numa rua de árvores de flores de cores mais vivas sem tropeçar ou deixar escapar qualquer tipo de som. Soube a beleza silenciosa da da quietude de quem observa
os sabiás fazerem festa no quintár. Só pra mim.
Soube ser só-pra-mim quando estava sendo simultaneamente também para-outros.
Soube ser sabiá, levantar vôo e ir roubar comida do pote do lobo; soube ser bezouro e levar o pólen pras florzinhas do maracujá. Aprendi a saber que o verbo Amar tem em si o salmo "Amar a Deus sobre todas as coisas", e que todas as coisas, por mais que sejam muitas, são a mesma quando a gente tá no mato. Deixei, ali, de ser um ser tão drasticamente fragmentário: voltei a mim.

Voltei porque tinha cheiro de bosta de cavalo o fim da tarde,
voltei porque a lenha seca ainda queima no fogão de alguém,
voltei porque vi a vida simples acontecer, e cri, pude crer,
que não há benção maior na vida que a alquimia de simplesmente viver.

O que eu quero (3)

Quero água

O que eu quero (2)

Mas daí eu olho pro céu de Minas, pro topo do Globo, pro mais alto alcançável pelos olhos-de-véu, quando olho recordo de meu tamanho mesmo, geométrico.
Sou, talvez assim, uma quinta parte de uma dobrinha na quina da nuvem branca gigante que está boiando por lá...
Sou talvez um breve respirar na hiperventilação compulsiva do Criador; sou talvez Sua cara de criança, sou Seu disfarce multi-espelhado, Sua graça não me atrevo a dizer, mas sinto-me como algumas de suas fantasias, sou sua indumentária vasta, seu infinito, seus hectáres de repertório pra piadas e estórias e causos e absurdos. Minha fantasia, como qualquer outra, é a Verdade que reside naquilo que é belo.

O que eu quero (1)

O que eu quero não começa com O que eu quero?, é sem interrogação mesmo.
O que eu quero não importa se o destino está afim de dar ou não; vou atrás percorro o objetivo no escuro muitas vezes, não importa vou seguindo sem saber, e não sabendo vou, profundamente...
Se ando pra frente é certo que é só porque Amo com firmeza, e porque vivo a Vontade do Guerreiro.

Se estou pra querer, quero Prana quero Som de Luz e Sinestesia à toa; riso de criança também
entra na jogada, crianças que jogando só querem esconder a graça
entre si,... entre as pernas, onde sabem que a maldade não pega,...

Se disponho-me a querer, me canso do Nada, minha segunda casa, quero então resgatar minha pureza, minhas penas de pássaro raro, meu olhar
infinitamente compassionado, minha gargalhada de bobeira, meu rito encantado de bruja
E também meu peito laço também
meu seio lança,
minha partilha materna, minha ufanista experiência de esperança
meu compartir eterno, meu maço meio-a-meio

Sinto Ares de mim e os passarinhos cessam o pio, e é em Silêncio que me encontro e desperto pro fato, meu cio, percebo a graciosidade com que eu mesma me guio quando silencio e me despetalo. É macio de ver, sobra só Sombra e Pólen. E o ar que respiro não é meu, e a força que venho sentindo não é de Eu, é do tudo de belo, misterioso e atroz, de tudo tudo de Nós que cabe
em um MIM, incipiente.

.

Caminhar dissolve kharma
dinamiza a carne
aplica a calma,
as portas da percepção abre
Caminhar é abrir-se à Sorte e à ilusão do Revés,
pagar pra ver o preço, alto ou baixo, da aposta dos Céus
Os chinelos dizem: estou pronto pra tropeços, saltos e acertos, e não cedo o solado,
preservo a superfície insólita da sola dos pés que guardo,
e se arrebento, fortaleço os pés que já não me calçam, calejados

Encaminhe-se, encantado!



NÃO EXPECTAR ALGO DE FORA,
PREENCHER TUDO AGORA,
E MOVER-SE ATRAVÉS DA VONTADE SEMPRE

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ao Ar que me deu as asas

mais poético que morrer pela humanidade nada seria
voltar à Terra que prometi não voltar nunca mais um dia
me deram de novo uma vida, espero fazer uso com esmero
espero
chegar ao final das contas débito 0


mas me deram
o rosto de todos os rostos de todos os homens
do Grande Espectro, me deram
me deram os olhos ávidos e introspectos
me deram um coração de vidro
e um decreto,
apenas um prospecto do Amor de Deus em Nós
me deram também mãos de veludo,
mas me prepararam para uma Guerra contra tudo


eu que carrego a Morte no meu selo
que desapego mas nunca cedo
eu, o Elo Maior do erro em Concerto
não aceito a Morte
qualquer que seja seu Segredo, Meu Pai


disseram a mim: vai em Paz,
esteja em Si


como posso estar eu em mim? não sabem do meu tamanho?
oscilo entre ver a pérola e ver o marfim do elefante
em ver a garra minha, e acalentar com Alma o ser errante
me deram olhos pra aprender quando tirá-los
tirei meus olhos pra não dares conta
e perdestes de mim a minha Realidade,
minha íntima realeza de vista
meu Pai, como cumprir o encargo Real de teu projeto maior, o homem?
como consertar aos outros quando me ofusco pequena perto da grandeza de todos?
como consertar obras sagradas?


minhas mãos, meus punhos alados bélicos
já mencionados em outros critérios,
minhas mãos
não conseguem dizer não
me deram, esconderam meu enorme coração pra repousar na brasa
por toda a eternidade anunciada


o Fogo que Deus me deu,
que sou Eu
o Fogo que Sou consome à tudo em volta
e geralmente não resta nada
pedra sobre pedra, a face sobre a lua,
eu sou a força no Escuro


Como manejar a espada vermelha, meu coração sendo pequena centelha
que testemunha o fenecer das minhas auroras compartilhadas?
como posso ser feliz, e estar sempre deixando ir o que trouxe a mim a felicidade de outrora?


Olho pra dentro e não vejo
Nada.
Olho pra fora e me perco na aventura armada
de todos
do jogo social
do lodo
da sujeira a que se sujeita o meu eu Enorme no jogo


Descansar?
A vontade que eu tenho é mandar de volta
tudo pro Ar
que me soprou...

no hay banda

Não há um homem branco sequer sob chuva
é que homens brancos só existem quando enxutos
é que homens brancos vaporizam com a água que lava
homens brancos se aterrorizam com o balanço das trovoadas
as flores que apreciam precisam estar devidamente enxagüadas
para que mirá-las não ofenda
a lente óptica imaculada
do homem

a terra pro homem branco deve ser devassada pra que ele possa viver em paz, em sua casa
há outra coisa sobre o homem branco que não se pode deixar passar
tudo que este toca, o toque ameaça a desgraçar
e é por isso que com o toque-espada bruto
tem da Mãe o temporal-lança,
anuncia o fim dos tempos da bonança
- com delay
é o fim da festa anunciada
pelos homens brancos escuros
esperando na marquise
o desespero suprimir a Lei

estou explicando para que não se lamentem por tudo o que foi perdido
olhem pra dentro e confiem:
o homem branco perece com um mundo mais brando,
mais poético
e a única solução pro homem branco é morrer em vida,
trancar-se num beco sem saída
perguntar-se como chegou lá um dia, de baliza
chegou de ré no beco e engoliu a seco
sem saliva

Não há um Homem Branco sequer sob chuva,
não há homens brancos sob sol.
homens brancos desenvolvem protetores solares de última
geração, e carros motores remotos para se mover mais rápidos dentro de suas solidões
compram colchas, lanchonetes, marcas, cangas, e colchões
palinetes, cotonetes, sorvetes
compram também desilusões e sua cabeça à prêmio rola
a identidade jamais se desenrola, a identidade abraça as coisas e permanece pedindo esmola
pega emprestado elogios, mas críticas não me amolam!, e quando olham pra si
,
cínicos
molhados,
enxarcados,
bêbados na Avenida Central Maior do Ser que vaga
percebe-se um Ser que vaga na Avenida sem destino
se apercebe que esqueceu
o coração
em algum trem de trilho
e seguiu simplesmente
como se não estivesse esquecido.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Imperatriz

eu vou escolher separar desmedir, vou destrinchar
esmiuçar
vou desdobrar o Amor que não quero, digo que não me dedique,
pode ficar!
eu fico com meu querer,
meu copo vazio,
meus tiques
meu templo minhas portas sempre abertas
eu prefiro
meu corpo frio, inflamado
minha mente fria, de espírito
meus punhos abertos ou fechados, são punhos de aço
e o Amor que peço é o Amor que não faço
é o Amor que já foi feito
pelas mãos Daquele que é Maior que o Maior
e mais extenso e mais complexo
e mais que humano amor
ou que idéia de amor divino
é Maior que o estrondo das tempestades,
é maior que meus cataclismas pessoais

Paira voa e colhe de cima o Santíssimo, se me acolhe ele
tudo que é de baixo permanece embaixo,
permito a Morte, e Selo a entrada no Paraíso da Sorte,
esgotada, intensa
sem nada nos pés
sem nada muito menos nas mãos!
as flores que colhi no caminho compõem meu rosto, meu corpo
meu fruto maduro é duro,
é duro!
minha solidez não é fácil,
ou macio
minha avidez é meu sopro - é meu oco,
é meu ócio criativo que invoco!
e o meu Amor, que disse, eu desemboco
em alguma paixão de última hora,
ou me desfaço
e jogo tudo pra fora
deixo que tudo se exploda!
em cores, em tinta, em todas
as manifestações que me permite
a varinha mágica da consciência

se me retiro é porque me encontro no meu espaço e me desembaraço
me espreguiço me estiro e descompasso
fico em casa sozinha fora da linha, fora da área ou desligado

quero a Mim,
e à Presença Divina Eu Sou, e suas doces e firmes palavras de Luz e de Som e de Cheiro
e de EuiEu,
é cheiro de terra prometida, consagração das metas ambicionadas,
conseqüência métrica das trilhas desmilingüidas que eu vim fazendo trilhando essa estrada

se me retiro, quero que saiba que é porque Fico.
e se também finco o pé no chão e falo que tudo bem, que é pra vazar!
quero que saiba que esse é o meu jeito
de deixar passar.

Mirra

eu não sou suave, trato suave porque suave é o que não sou e nunca poderei ser
meu turbilhão não conhece paciência ou delicadeza algumas horas
meu interior é "Senta e chora"
que alguma hora vai passar. Exorciso, chamo a força, chamo os Reis
fico em paz, acendo a Luz, levo uma página de um livro qualquer que eu goste por acaso
e leio ela, e levo ela pra dentro de mim e meu mundo não precisa da força dos homens
meu mundo se nutre de si próprio, de suas próprias mortes

Meu nome é Luiza, mas me chamo Regeneração.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu Sou

Se não entro de sola, a porta dos fundos é minha
É meu o elevador de serviço, e a preta que volta das compras Entram por mim
as criancinhas
É minha a bancada da burocracia, os papéis que legitimam a vida
dos que passam
Passo Eu, levo o perfume dos anjos

Sou estátua branca, recauchutada dos tempos da Ágora
minha cor já foi lavada pelo passar dos meus anos na batalha,
e no lodo
Eu Sei de onde eu vim, sei com o quê me fiz
presente dos três Reis, a erva que permite a passagem
pro 6
Como é embaixo, assim é emcima

Desbotada, as cores todas dos sete Arashas refratada
minha arma
é uma espada de fogo vermelho
cor de sangue, do líquido que corre por todo o corpo
Santo, O meu invólucro
escolhe e opera, tem vontade
mas espera e não guarda em si nada
não toma algo
que não seja
Água, Amor, e
a bendita Palavra armada

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

murro

eu mudo muito pra que as pessoas vejam que não há nenhum problema com o outro lado do muro

inflammable

nunca me esgoto por ver esgoto e ver céu por todo lado que me encosto
em viés a perspectiva sempre se sustenta
pois é enviezada que a verdade de cada um está,
perfilada com a Vida Viva.

no Facebook

Lôuis Caldeira Lu, esse é o desespero pela prática, por qualquer coisa, pela vaidade. CUTUCAR ME CURA E CONFIRMA!


Luiza Luz umhum... eu desespero pela vida! e cutucar me fura, mas costura, logo em seguida

terça-feira, 16 de novembro de 2010

dedicado aos espíritos da natureza

S...O...P...R...O


todas as minhas calças tem furos na bunda
deve ser pra facilitar o acesso
do que sai de dentro de mim
do que entra dentro de mim
em excesso


me vejo fazendo coisas que não vejo
ninguém fazendo
sentada, fumando um cigarro na
porta de casa
não sabem que acabei de
encontrar a chave,
por exemplo


me identifico com a formiga,
veja só
ela anda, meio errante,
segue
por um lado, percebe o outro
que é o que chama
em seus caminhos tortos você,
de
cima,
reconhece a dualidade de si
em outro
não dá pra saber exatamente o Oculto
O Oculto é meu Pai, e por isso
tremo no escuro

O Oculto tem rédeas firmes de pelúcia
é difícil não sucumbir ao conhecimento que
sabes indicar a verdadeira astúcia

tem gente que só consegue dormir
de luz apagada, blackout puxado,
janela fechada, respiração
controlada
eu, veja bem, só durmo se for
acompanhada
tenho medo de escuro, porém
sei que o escuro me contém também

tem gente que eu conheço que só
consegue cagar de botas
eu, já, tenho métodos
meditativos pra cagar
tem gente que eu conheço que diz
que é impossível ser feliz
sozinho
e eu que digo que o encargo de atriz
é fazer feliz um público
e eu que digo que
o encargo do homem
é fazer a felicidade,
junto?

sábado, 6 de novembro de 2010

ESCLARECIMENTOS SOBRE ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

(e como isso está relacionado à Violência, Criminalidade e ELEIÇÃO)




Como o nome sugere, Especulação Imobiliária se refere a uma previsão de quanto determinado imóvel "valoriza" um bairro.

Chegamos ao 1o ponto: o que significa "valorizar" um bairro?

Quando valoriza-se uma região de uma cidade, isso significa que o capital ali circula com mais intensidade, ou seja, existe um imposto mais alto, maior disponibilidade de serviços, e o que "SE PODERIA PRESUMIR": maior qualidade de vida.

Isso, para quem tem um nível de renda entre as esferas B e A, não é quase sentido. Se abre uma boate, ou um boteco chique na sua rua você praticamente não sente. Porque a arrecadação daquele bairro/região já tem uma faixa estabelecida, que inclui o cálculo referente ao nome "Especulação Imobiliária", isto é, especula-se que nessa região consiga-se X de impostos.

Eu sei que seria bem mais cool postar um link com alguma desgraça que acontece diariamente na nossa cidade, mas eu resolvi ser CHATA mesmo, se ser chata significa expandir conhecimento... Política pessoal, não se incomodem.

Então, porque o nome ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA evoca tanto receio? Isso eu falo praqueles que tem o olhar MINIMAMENTE integrado para sua cidade (não precisa ser ativista, amiguinhos de face, basta olhar pro lado)...
Pq seus colegas engajados, ou módicamente informados falam dessa expressão com tanto medo?

Chegamos ao 2o ponto.
Favelas, e comunidades não assentadas pelo governo, em geral, não dão o tanto de arrecadação que o Estado precisa pra TEORICAMENTE "dar uma mãozinha" nos serviços básicos.
Até aí nada demais, certo? Pq se estamos em um sistema "democrático" capitalista, a proporção de direitos humanos efetivados pra uma população equivale à renda produzida pelos cidadãos dessa região... REGISTRANDO AQUI QUE ISSO NÃO ERA PRA SER NOVIDADE, ok?

O problema é quando você pega uma região delicadíssima em termos de "QUALIDADE DE VIDA" como a Central do Brasil, Pavuna, e São Gonçalo, e numa política INTERESSEIRA, MARGINAL E ANTI-ÉTICA o governo libera verbas para VALORIZAR OS IMÓVEIS, o que se está fazendo EFETIVAMENTE é: impedir que pessoas das esferas sociais mais fudidas possam viver onde estão vivendo. Nós já vimos no 1o tópico de questionamento que VALORIZAR significa, diretamente, "ENCARECER" o custo de vida, e que nós só não sentimos isso porque somos agraciados pela Mãe Capital.

Vou falar de uma situação que eu vivi enquanto moradora da Ocupação Machado de Assis do pouco tempo em que estive lá.
No início desse ano, na maravilhosa e supercoerente gestão Eduardo Paes foi lançada no astral a idéia de que ia rolar uma REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO PORTO.

Algo me diz que vocês em maioria não devem ter ouvido falar, o que não é nada mais que natural tendo consciência do que são os Meios de Comunicação de Massa hoje em dia - veículos agonizantes e um tanto delirantes tbm... Mas o ponto é:

O QUE SIGNIFICA "REVITALIZAR", cara pálida, A REGIÃO DO RIO DE JANEIRO QUE CONCENTRA O MAIOR NÚMERO DE OCUPAÇÕES URBANAS DA CIDADE?

Etimologicamente, vc veja, não precisa ir muito longe... REVITALIZAR significa dar VIDA NOVAMENTE. Então quer dizer, senhor prefeito, que VIDA é quando o senhor bota uma boate no Armazém x da Gamboa, e BOTA FORA CENTENAS DE PESSOAS? Quando joga elas na rua sob a mira das metralhadoras? - sei lá qual o nome da arma dos policiais, a arma que eu conheço não é dos policiais, a arma que eu conheço é dos Senhores de Terra, é dos Senhores da Política, e todos esses senhores baixam a cabeça pros SENHORES DO DISCURSO, their LORDS.

Ah! Eu grifei o "maior número de ocupações urbanas na cidade", pelo seguinte motivo:
Ocupação é diferente de favela em seu princípio organizacional. Ocupação é um processo pensado, avaliado juridicamente, respaldado por advogados especializados, SE BAIXA ÔNUS REAL para saber a condição do imóvel, e já adianto pra quem possivelmente acha que ocupação é baderna: a maioria dos imóveis ocupados são tombados pelo patrimônio histórico para HABITAÇÃO POPULAR.
Ficou chocado? Não fique.
Há MAMATA LEGAL dentro da política para garantir que os Senhores do Estado tenham domínio sobre imóveis bacanas, que seriam melhor como centros culturais com ar condicionado do que são sendo "SIMPLES" centros de cultura afro - no caso da Gamboa.

Se depois as ocupações viram favela, é uma outra questão. O que eu levantei aqui é que OBVIAMENTE não é por acaso que se propõe um projeto de revitalização numa área onde existe a CONSCIÊNCIA DO DIREITO DE MORAR. POBRE INCOMODA, POBRE QUE SE ORGANIZA MERECE A MORTE PELA INSOLÊNCIA. por isso aproveito aqui pra dizer: CUIDADO com o seu voto.

Valorizando imóveis, jogando pessoas na rua como sacos de lixo às 18 horas da tarde,... A diferença aqui é que os sacos de lixo a COMLURB mais tarde vem buscar, quem vai buscar famílias que não tem nada mais senão a si mesmas, ao pânico, a roupa do corpo, e a desesperadora FALTA DE PERSPECTIVA PRA LIDAR COM A REPONSABILIDADE QUE É MANTER-SE >VIVO<, RESPIRANDO, NUMA CIDADE COMO A NOSSA? quem?

O resultado prático, econômico, e social da Especulação Imobiliária é:

Polariza-se regiões pobres com imóveis que recolham bastante capital para o governo; com bastante capital o Estado reverte esse capital em novos investimentos; sob desculpas das mais diversas EXPULSAM PESSOAS DOS LUGARES ONDE ELAS FINALMENTE CONSEGUIRAM MORAR para usar os "bons imóveis" pra construir "boas coisas" pra "boas pessoas" - aquelas que comungam a hóstia do sistema capitalista.
Assim, HIGIENIZA-SE a região, mandam os pobres pra mais longe, e a pergunta que fica é:

SE TODOS OS POBRES MORREREM, COMO A CLASSE MÉDIA !_DESINFORMADA_! DESEJA -ATRAVÉS DE SEUS VOTOS DE ARROGÂNCIA -...
QUEM VAI LIMPAR AS SUAS PRIVADAS?

JÁ PAROU PRA PENSAR NISSO?!





* link que, através da revolta, me conduziu à esse post:
(HATERS GONNA HATE, PPL! lovers gonna love till the end of times <3)

* link do blog montado pra divulgar a situação da Machado de Assis: para dúvidas e propostas de arrecadação.



terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cosmic Consciousness

Saber abrir mão do que não é SEU,

saber fechar o punho pelo que É!


A razão bem armada, e o coração na linha de frente.


Não existe outra possibilidade pros que enxergam a vida corrente...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

self commitment to the crime

tem vezes que não quero o que o mundo me dá
o que ele me dá vem servido em bacia de prata
tom de mérito
não quero

não quero mérito,
quero sopro
quero distância
quero recompor-me na satisfação de ser-me sem preocupar-me.

há a luz
mas a complitude ainda falta
há a culpa
mas a compreensão ainda me escapa

quero sentir-me justa no meu mau humor
pois considero justo mesmo o pior dos sentimentos

quero pôr em prática,
amar,
com uma boa dose
de esquecimento.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

como se aquilo que foi vivido fosse tão forte, e cheio de significado que continuasse se repetindo, repetindo, repetindo, eternamente, em alguma dimensão que não alcançamos em nossa pequenez. e isso é o que me conforta, saber que em algum lugar, nas sinapses de algum de nós:no mundo lúcido dos nossos sonhos:em algum dia desses tantos anos, os fotogramas se repetem:fractais, loucos (como nós), intercalares, nunca se calam diante dos ponteiros, enquanto não chegam a um certo cais.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

de cor

uma certa angustia me atravessa agora
sinto meu coração se espremer
antes tão solto, tão breve e tão contínuo
e agora com peso de eterno, bate
mais do que bate, ressoa
está
tem peso de eternidade mas é perecível
tanto quanto nós mesmos, pra fora do nosso coração
meu coração me mostra o quanto não lhe servem os conceitos da mente
q por tanto tempo estiveram confusos nos seus pulsares brutos
não é papel do coração medir, luiza
cabe ao coração ser medida de algo muito maior
é isso que precisas aprender comigo
precisas reaprender o valor das coisas sem medi-las
precisa saber as verdades sem consultar a idéia de valor
a lista de valores que constam no sistema
nem tudo cabe na mente, querida,
e é por isso que há algo tão despretensioso
e de tão despretensioso tÕ GRANDE no nosso corpo
que é nosso
e é inteiro
não está dividido
coração e mente se fundem no Agora, se entregue ao peso dos dedos ao respirar pesado
contente-se com o pai gritando no telefone, não ache bom, só experiencie
não ache opinião ruim
só ao invés de Achar, encontre o que move essas opiniões
o que passas agora tem reverberação cósmica, não é só da luiza
mas luiza, veja o tamanho de sua cruz agora, olhe rapidinho pro passado, sinta-o
sua cruz comporta a cruz do mundo pois seu coração é do tamanho do coração do mundo
e essa pureza não te é POSSIVEL perder
pois já foi conquistada
e é em função dela que seu agora se desabrocha de maneira tão suave
é seu coração, luiza, o que vc busca não é a você mesma - até pq não há como se buscar tal coisa - o que buscas é a consciência interior de que nada existe fora da Consciência

tranqüilidade

tranqüilo é uma palavra tranquila, você veja
tropeça no tranco do tran
relaxa e ameniza na onda do qüila
a trema amaina o som do qui, e o la leva longe
o la acolhe o tranco do começo
o üi, um mergulho razo que volta a respirar no la
-go
um sopro suave que levantou vô
-o
uma brisa fresca
Qui
leva na gaita to
-da a graça do
tranco do começo
Qui
comé
dia!

Ah!

tranqüilidade é um lugar onde você chega
chega difícil
quando chega na tranquilidade está com o corpo todo suado
mutilado
desgraçado pela própria corporalidade do corpo
indestrutível porem fatigável
impenetrável porém intranqüilo
pronto pro ataque e inindescansável

chegas à tranquilidade como que chegas à próxima trincheira
em absoluto há na tranqüilidade
o descanso final da morte
morte é morte, e é descanso
mas tranqüilidade é apenas trégua
é suspensão
tranüilidade é estar suspendo no ar boiando com as moléculas gasosas
boiando com a luz
suave
sobre um campo de extermínio
suave
sobre a dor do mundo cotidiano
suave
sobre a dor que já foi sua
e hoje podes ver quanto engano!
suave, podes ver.

te permites a tranqüilidade mesmo no mais absoluto caos
ser tranqüilo é estar de acordo
com o "mal do mundo", é estar no Todo
seja caos, e flua com o entorno
a dor que existe
existe de estar separado.

domingo, 10 de outubro de 2010

noite escura da alma

tem uma parte escondida de mim que precisa de sombra pra se revelar
se revela à luz apagada, ou luz de vela, na presença desacompanhada
na atitude cretina do que junto caminha
no descompromisso dos outros raia
o meu compromisso comigo.
na incompreensão do mundo nasce
a profunda compreensão de Mim do meu umbigo.
e me atenho a esse elo de auto-alento
onde tudo é Eu, tudo eu aceito, então
e tento amar
porque é meu e ninguém mais pode ver.

o meu amor é meu, amor
e ele é pra-sempre.

e cada beco que passa
estou
bem mais preparada
pro beco que vem em frente

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

aurora da alma

abro os olhos, bom dia!
dia bom este que nasce
e que se abre junto dos meus braços escancarados,
- palmas-janelas, bem abertas -
e destacados pelos dedos
pelo contorno do corpo no quarto
que se encontra também nesse momentum, pobremente iluminado


bom dia, diz-me o sol que também nasce às 6 horas
e sorri ao nascer desde agora
tiro as remelas dos meus faróis,
lavo a minha cara para nascer melhor
pro dia que nasce fazendo-me boa companhia


quando finalmente enxergo
a paisagem encantadora
que desatenta observo
quando olho para esse mundo,
encaro o fruto íntimo do meu eu
mais profundo
e
quando olho nos olhos de outrem
e vejo latejar dos porões
o escuro submundo desse alguém,
latejo clareza e agradeço por poder ver
a beleza
do que os outros
em si não vêem.


 Publicado em
08/10/10 13:17
Horário de luz natural do Pacífico

terça-feira, 5 de outubro de 2010

urbisius poiéticus

um operário da telefonia
sentado, tensiona um cabo de aço
que vem do alto
mas parece mesmo é estar pescando
um glorioso robalo

é mais um dia de sol
em niterói e são gonçalo!

animalidade e transcendência

não dou a cara a tapa,
nem fudendo!
mas ofereço minha outra face
ao vento

maternidade

um ralo sai da parede, parece cansado
é um cano
nitidamente devassado
dele saem 5 bitucas
amarelas
de cigarro

escorre do buraco um líquido claro, que se confunde em rio com o asfalto
é o líquido intersticial do encanamento geral
da loja de bebês

um parto, mesmo sendo porco, é sempre sempre um ato
divinamente maternal

nome das coisas

por que parede é o que fica de pé, e chão é o que fica deitado?
por que mulher é bolsa&luvas e homem cartola&cajado?
por que os banheiros tão nitidamente separados?
por que que o nome das pessoas não podia ser ao contrário?
e quanto aos nomes que ainda não puderam ser inventados?

sei o mundo porque lhe ponho um apelidinho engraçado? não te parece pouco, dizer do quadro
quatro pedaços de pau arrumados em formato de quadrado?

por que que todo verso deve ser todo rimado? A B A B, B A B E I E A G O R A ? T Á _ B A B A D O
quem foi que disse que isso com isso com isso não faz rima? e rima que explana, que também não pode fazer fama?,
ficam aos locassos misturar academia com roupa de cama, e usar palavras para comunicar somente o que à Alma chama

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

estilo foda-se

minha força vem da minha vulva
minha firmeza vem da vulvarhabilidade
meu bambu balança cu vento, não quero nem saber se estou sendo vulgar
a vida é minha e eu enfio em qualquer lugar

expanando os maus espíritos

estou tirando Os Outros de dentro de mim
rascunhos mal-feitos do mundo,
rascunhos, não importando quem

implodindo e explodindo,
dia por dia, caso por caso, telha por telha, maço por maço
no círculo eterno da vida
por que agora me quero de outro jeito que não esse que eu conheço?
me desembaraço, MEU ESPAÇO
ninguém tira mais lasco desse mundo que é meu, eu arraso

Soul

quanto mais eu me mostro
mais eu me gosto
mais me exponho

quanto mais eu me expando
mais eu retraio
mais eu estranho

quanto mais eu me estranho
mais eu relaxo
mais me componho

quanto mais me componho
mais me desfaço
mais Me

catarse, tudo em ordem

eu achava que o mundo era uma bosta, e que eu, sozinha na canoa
eu, tão fragil tão boba
sentindo aquele mundo tão grande e magnanimo em merda boiando
as canoas outras divagando por ai, encontrando vez ou outras umas com as outras
indo embora logo em seguida, banhando
eu e minha canoa, boiando na merda, tentando desesperadamente não me sujar
eu completa de fezes eu mesma, por dentro, sem conseguir enxergar
na fase anal de Freud sem conseguir de nada me livrar, e aquele mar! aquele mar me arrastando como se fosse me capturar a qualquer deslize
eu, a mente ferrenha e conviccta, o coração mole e um tanto triste
um tanto esquecido, há muito tempo ele estava

hoje ele fala comigo e eu me assusto
parece que é outro que comigo conversa, mas não sou eu

eu, mente, eu preparada, eu maior que tudo aquilo

de repente eu, sozinha.
de repente eu, silêncio.
de repente eu, um turbilhão de merda.
eu sou aquele mar




------




o que me faz eu afinal? estive todo esse tempo acreditando nas minhas verdades
puxaram minhas verdades sob os meus pés, me tiraram
me deixaram com esse coração desacelerado
me deixaram sem vontade, sem tesão intelectual
tudo calmo

me deixaram também meus pais, me deixaram nascer
e agora me vejo
nascida
e agora?

e agora me abraço e me amo e me VEJO, e tudo é tão estranho
tão orgânico
tão extraordinariamente natural
tão naturalmente bizarro
e ninguém vendo,
ninguém acordado

só vejo os Homers sentados em frente a TV, se pirando
como eu, antes, me pintando
para enfim rasgar a tela

quem é esse que fala comigo através do espelho?




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eu amo esse mundo
eu amo o mundo que se criou sozinho e agora me criou também
eu amo esse mundo de homens-bomba
eu amo esse mundo onde o suicídio pode ser a arte que faltava
a arte que partiu!
esse mundo de maestria
esse mundo de desastre, é ele que eu amo

eu AMO a sociedade
que tanto nos fez sofrer com ansiedades e ansiolíticos
pra depois nos deixar perceber
que nada que ocorra no mundo aniquila nossa verdade
os políticos estão gritando, quê lindo
as crianças estão chorando, que lindo!
os criminosos continuam matando, QUE LINDO

feio é o óbvio.

e ele não existe.



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de toalha sentada na frente do computador
quem é esse eu de saia que se apresenta com esplendor?
qm eh essa que não repara se as pernas tão abertas ou fechadas
quem é esse eu, que abre as portas e não repara em nada?
de quem são essas mãos que correm no teclado, de quem é esse aperto no peito,
esse morango esmagado?
quem é o outro que estabelece com esse estranho eu, um contato?

como saber o mundo, estando tão acordado?



------


<>

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

.

we're like crystal, baby



pavor de beleza,
aterrorizar-se de tanto amor,
lambuzar o corpo todo de idéias,
roupa suja de criança,
pipa presa nos fios elétricos,
raspa de panela de brigadeiro e de bolo
casa de veraneio no interior do rio de janeiro
,em fevereiro,
palito de sorvete mordido
sabedoria de velho
encantar-se de despertar
entardecer, dourado
saber que estou vivo
cheiro colorido
de planta sorrindo
e de humanos de vidro

- nós somos o que amamos

por Amor ao Quê que nos nutre

corta a corda da cultura. corta na cara da fartura!
pra que aqueles que ainda se enfeitam com usuras, e outras caras jóias, pedirem logo a conta
do Amor merecido pela Própria figura:
Deus é você, meu irmão, e a Casa é sua
- na saúde ou na doença - a Casa é sua, pra cuidar.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

fecho meus olhos, abrem mil

olho pra cima pra me achar lá no alto
olhar é: abrir-se ao contrário
geralmente me encontro esticada sobre o algum tronco desfolhado
estou mais perto do sol
mais a nível de borboletas
sou céu, sou alçar de asas pretas
sou breu
sou vôo longe e pouso árido
sou filha das estrelas, e meus olhos
são também os olhos do universo

sou humana-mulher na alcatéia de lobas-meninas
me completo com um uivo que expurgo para o céu, lua cheia, me acham tão estranha porque são
pessoas impossíveis, filhas de chocadeira,
efeitos tangentes de imaginários partos:
você vê na cara delas que acham todo o resto do mundo tristemente ordinário
não vêem que quem faz o mundo é somente aquele que imagina o cenário

e eu, eu sei - eu sei que sou -
que o único "você" do enredo
sou eu. só.
sob sol.

sábado, 18 de setembro de 2010

inspirare

não fumo nem consumo nenhuma idéia
de nenhum tipo
é a idéia, o conceito,
o roteiro que me consome mesmo,
por inteiro
até que sobre nada de mim na ponta,
jazendo morta no cinzeiro


não se corre atrás da palavra -
donzela -
ela própria se acha
se mostra
e te revela,
por uma nesga calculada de uma parte do seu corpo, como um tornozelo,
aquilo que você acreditava que podia perseguir


o significado-sumo disso tudo
você encontra jogado no mato
amassado
num gramado de faculdade
ou num pedaço de vidro estilhaçado
na janela de um casarão tipo filme de terror
: a poesia é tudo,
mas principalmente insuspeitada

sábado

amanheci em matizes pastéis,
tons borrados
chuva chovendo os pingos nos Is
e os meus pés, bastante molhados
mais as casas floridas de niterói!
das quais podemos encher nossos subconscientes para sentir e capturar
e transpirar ao longo da viagem;
das pedras e das poesias que a gente guarda na bagagem porque
são muito, muito bonitas
fazem a ponte passar breve

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bahia

a flor arrocha
:é rosa roxa
ou forró de padaria?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

be.coming | ou | etimologia

realizar-se significa...
...tornar-se real.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

From me, Two me

splendor solaris (1582)
o sol cósmico purificado pela obscuridade.
ofício da alquimia.
individuação.





Blogger Luiza Schiavo disse...

abra-se ao medo, e abrace-o.
e vá ao que te chama mesmo com medo, mesmo com mil pensamentos te dizendo que você não quer sofrer, mesmo sofrendo, vai indo, vai se deixando, vai permitindo...

não sei onde vai dar isso - porque a sincronicidade permitiu que eu estivesse no mesmo momento que vc, com percepções muito parecidas perante a vida - mas sei que indo a gente tem a força de quem caminha pra frente. e ficando, bem, a gente tem na boca o mesmo gosto de sempre.


beijos de limbo

09/09/10 20:25

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

jornal das pequenas cousas

um casarão abandonado bonito, e restaurado, esperando algum fidalgo ir lá para morar.

*

um executivo fugindo do molhado, o terno sobre a cabeça enxarcado e a chuva comendo seu salário. já pensará na bronca do chefe
quando se perceber atrasado.

*

uma moça de sandália e meia-calça cáqui descobre que foi uma péssima idéia sair tão arrumada. se depara com uma dificuldade
nunca antes experimentada de pular
poça por poça
até acabar a calçada.

*

um guardador de carro pergunta pro outro qual a Boa, mas continuam manobrando automóveis.

*

uma jornalista da nossa equipe abordando uma senhorinha negra de uniforme e um patuá dourado, é jesuzinho no pescoço, dona
comprando peito de frango nas sendas com o seu carrinho lotado. a pergunta é: como a senhora se sente hoje, dona carlina?
ela agradece pela pergunta e pelo dia que já começou e espera que seja um dia desses ótimos para todos. seu olho brilha
que
nem
de criança.

*

abriu uma floricultura gigante na são clemente onde a planta é paga mas o cheirinho que passa é de graça.

*

vigiar um bebê no colo da mãe que passa por você sem despregar os olhos dos seus.

*

tropeçamos num montinho de livros, tem de tudo, lévi strauss, mircea eliade, paulo coelho e maitê proença.
uma carta em cima
falando para todos que façam bom uso, obrigado.
nós é que agradecemos, querido!



CLASSIFICADOS:

contratamos novos jornalistas, devem ser experientes por isso preferimos os infantos e os ancestrais. queremos o olhar
de quem escreve
com os olhos. a proposta do jornal é fazer uma ponte de uma alma,
para outra
e que assim se faça jornalismo de
vontade.
literalmente!

sábado, 4 de setembro de 2010

fáceubook

face boca ou faz de conta
,pelo menos
muito louca! não explana
a verdadeira face dessa toca que cê marca
na marcha pelos sentidos
os consumindo
como se fossem os motivos, em si
findos

mas a verdade é dura
e não é pouca
a vontade, um ronco
explode no peito
desafinado
é ora buraco, ora ato falho
,de fato,
a morte te mata só de encostar ao lado.

não adianta dente de alho e prata
não adianta água com sal
e planta
mandinga nenhuma adianta
mandinga nenhuma
cura cegueira
de alma.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

mais perfis

esse vai ser meu blog para preguiçosos, pelo visto.
lá irei postar só as rapidinhas, mas que não são tão (adoro essa combinação esdruxúla fazendo um mesmo som) rapidinhas que possam caber no twitter.
e nem tão engraçadinhas que caibam no contexto do meu tumblr.



na verdade mesmo eu só criei ele porque tenho essa compulsão incompreensível por criar pra sempre perfis em redes sociais. não importa que eu já tenha um. ou vários.

então é isso! hasta!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

suspiro

respiro este ar
pequenas particulas de oxigênio com a sua cara nelas, elas pairam segundos na minha frente antes de serem sugadas pelas narinas, renomadas acrobatas! e só então invadem pelas vias aéreas, tomam os pulmões, rodopiam pela mucosa, mas precisam sair!
e então passeia pelo peito, você bombeia no meu coração, pega força, e bem forte desce pelas pernas, para os tornozelos, até o dedinho mindinho - um centimetrozinho de mim não pode escapar à sua presença celular, nem que pra isso tenha que se desdobrar em outras pequenas partículas menores com enfim braços e pernas e mãos. você sentiu falta delas, afinal, principalmente quando avistou o ventre úmido passando de relance. você não podia deixar passar essa, claro.
suas partes, seus versos, e versículos, ventrículos, seus subátomos vasculham a intimidade dos meus ovários, flutuando, dançando satisfeito, vários álvaros improvisando gestos na corrente sanguínea vermelha. te acolho assim, dentro de mim, como nunca fiz com ninguém. nem com os que pediram licença, nem com os que ligaram no dia seguinte, nem mesmo com os que eu quis eu fiz assim e deixei que fizesse tão solto. os outros escapuliram, mas você se espalhou. devagar-mas-com-vontade. bem você...
quando eu expiro este ar já não sei mais se você é o que está aqui dentro ou se está nos lugares onde olho.
suspiro.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

fim da linha

e naquele dia ela tentou disfarçar o som que fazia a chave avançando nas voltas da papaiz,
ela disfarçava era claro, pois aquele som, como o som da roleta do revólver rodando, brincando com a vida,
aquele som era o correspondente exato do som da tampa fechando o caixão,
significava que o tempo estava se esgotando, e que o fim se aproximava a galope.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

na pedreira

verter-se pelo abismo
e derramar-se longelíneo, comprido
testo minhas asas sobre o vazio. não tenho medo
não pareço mais pequeno, firmado com os dedos dos pés agarrados à beira
- o vacilo antes do salto final -
sei que pequeno não é o que sou, tenho meu tamanho
não acho o inseto pequeno, por exemplo,
seria um tanto sem cabimento!
acho que toda coisa tem seu Universo brotando, expandindo
sempre pra frente,
sempre comprido...



(foto tirada por Iara Borges)







sábado, 21 de agosto de 2010

re(encontro)

eu não preciso pensar você
para senti-lo
é como se na verdade, você sempre houvesse existido
além dos meus sonhos, no meu pedido
e quando aconteceu,
fez sentir,
e fez sentido.


agora eu como frutas todo dia
até malhar eu malho, na academia
passeio admirando o céu, cabeça erguida
passeio admirando o povo...
passeio alheio ao movimento caótico do Todo,
sou só meditação,
sou só. e somos juntos.

Meditações sobre Depilação

Antes:

* toda aquela preparação emocional, o impulso latente de desistir e ir comer uma fatia de pizza em qualquer lugar, jurando pra si mesma que nada aconteceu.

* o cálculo das finanças, você sofre até mesmo antes, cara amiga, apenas não percebe, pois provavelmente essa rotina excruciante já devorou seu coração. você, mulher moderna, precisa ter correndo nas veias a bravura de uma galinha que, na esteira, vai indo pro abate. Força nessa hora! ser fêmea é resistir, bonita, pense nisso.

* você ajeita a depilação no seu dia de forma que depois dela você se movimente o mínimo possível. quem faz sabe porque, e sendo assim, não precisa dizer mais nada. ninguém marca uma depilação e depois vai correr na Lagoa, é algo que você simplesmente não faz.




Na cabine:

* respiração controlada, pensamento Loading Deus . . ., e a esperança de que dessa vez vá doer menos.

* pensa que no final vai valer a pena, pensa nos bofes e nos bafos, e pensa que isso tudo está sendo feito por um Motivo Maior. o pensamento nessa situação é sua arma mais poderosa!

* pensa-se em conversar com a depiladora e automaticamente veta-se a idéia, voltando a prestar atenção na respiração e tudo o mais - o que pelo menos ao longe garante um momento menos estressante.

* aqui rola o sentimento inalienável de que se você conhecesse o infeliz que inventou a depilação, ele já estaria cortado em pedaços no canil da sua casa.

* hoje, depois de terminado o Massacre da Cera Quente, ouvi uma depiladora pedindo pra outra "passar o uísque".
gelei, pensei, e cheguei a conclusão de que a moçoila tinha dito outra coisa que fazia mais sentido e da qual não consigo lembrar agora.
enfim, pensei comigo, "Podia ser pior", a cera podia ser fria, e a depiladora podia ser alcólatra, pra nós vermos que nem tudo é um canal de esgoto nesse caminho...




Saindo do instituto de depilação:

* aquela sensação infame de que qualquer um que te vê saindo de um instituto de depilação COM CERTEZA imagina você depiladinha. homem ou mulher, não importa, não dá pra fugir disso. o pensamento voa, e quando a pessoa menos espera ela já botou os olhos na sua pélvis e você, nem sentiu.

* você sente a inspiração latejando nas suas sinapses, uma raivinha que faz as palavras aparecerem mais depressa na sua cabeça, você sabe que o processo criativo te aguarda em casa. o tema? alguma coisa entre "Liberdade de Expressão & o Universo Feminino" e "A luta contra o patriarcado em 10 momentos". não varia muito além disso, e nós entendemos demais o porquê.

* por fim, a recompensante e gloriosa sensação de dever cumprido. nos sentimos mais leves, mais contentes, enfim, mais mulheres. agora você pode encarar sua night com naturalidade e sem medo de ser surpreendida caso você acabe a noite acompanhada.




Lição de Moral:

* depilar arrocha, mas compensa.

* a depiladora é nossa amiga, e não o seu boy. tudo bem você se abrir 100% pra ela.

* e, no final, você pode sempre confiar no gelzinho de algas, que afaga a sua intimidade com todo respeito.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Desperte

somos muitos, somos vários...
nem de todo dormindo, nem de todo acordados

sábado, 14 de agosto de 2010

mais macho

acho que conheci alguém interessante. e acho que talvez isso venha a ser importante. para alguém.
quem sabe não é? quem sabe?
alguém, a esse ponto do campeonato, após a surra de um segundo tempo mal aproveitado, alguém?
que é para a gente ver que as coisas dessa vida não tem lógica, não constam no cadastro, e de registro só é recorrer às poesias de um poeta português mal pago. nada mais.
no meio de tanta gente moderna, num retiro insuspeitado em pleno centro da cidade ao meio-dia, quem seria ela? quem seria?

me esforçava sob o sol, o cenho franzido salpicado de gotas ousadíssimas de suor, tentava eu me concentrar naquelas palavras, que talvez fossem as únicas que um dia desejei ouvir das bocas de uma mulher, de qualquer mulher que fosse... como era possível fazer-me crer em amor a primeira vista em míseros segundos, sob um sol tão imundo? quem me faria acreditar em mulheres, eu imaginava... tentando me concentrar, o suor salgado correndo pra dentro do nó da gravata, sob a camisa social encharcada: símbolo da disciplina trabalhista a que eu me mal acostumava...

não tinha nem um puto no banco, imagine... como podia Sheila dizer coisas tão bonitas sem saber de nada disso? nada de mim?
e dizia que me sabia, de cor, coisas que mulher diz, verdades sem fim... e então quando menos percebi, no meio daquilo que só podia ser um delírio, limpei a testa e estiquei meus braços desejando aquele abraço tão ardentemente quanto desejava o esfriamento instantâneo do rio de janeiro, e abraçando, sentindo a misteriosa fragilidade de seus ossos, descobri a mágica insondável que é admirar uma fêmea.
hoje, sou muito mais macho. hoje estou completo.

Religare a Si

"Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito todas. Bebo água de todo rio...
Uma só, para mim, é pouca, talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e ora!, cantando hinos belos deles.
Tudo me quieta e me suspende. Qualquer sombrinha me refresca..."
Grande Sertão:Veredas, Guimarães Rosa



"...Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar..."

Se eu quiser falar com Deus, Gilberto Gil



quarta-feira, 11 de agosto de 2010

o silêncio não incomoda mais
nem as vozes
dentro e fora de mim
não são mais ruídos.
Tudo está preenchido do Sagrado
e sendo assim,
não há um milímetro de algo
que possa ser considerado ruim.

domingo, 8 de agosto de 2010

Um brinde à Vida Eterna!

- agora? - ela quis perguntar, de impulso, de costume, e assim o fez.

- sim, agora... - ele coçou a cuca, carinhou a barba e acrescentou, com o carisma e a tranquilidade de quem olha para uma velha situação conhecida. - agora. e antes também...

- agora? agora eu sou um eu que fala um pooouco menos sobre si.
mas você sabe o quanto amoodeio definições, não sabe? claro que sabe!
eu odeio a truculência da nomenclatura, João!!! mas me delicio imensamente ao enovelar-me em seus encantos... como um vício qualquer sabe? como cheiro de cigarro na roupa!
sabes que não posso nem dizer esse sentimento?! não posso! sem que ele me invada a espinha e rasgue o véu do mundo dos pensamentos! deslumbro-me com tantos potes em que podem caber a minha idéia, tantas caixas, entalhadas, abertas, fechadas, de aço, coloridas, de cortiça! tantas palavras, tantos conceitos e ainda assim, tantas sobras...!

...

fez-se um silêncio. um silêncio comum ao cessar das grandes tempestades. observe-o, principalmente em cidades ou vilas, verás quão maior é esta percepção do que mero lapso sonoro. o rosto da menina, iluminado pela chama tremulante da vela, os olhos fechados, tinha a expressão aliviada de quem ostenta em Glória, seu coração aberto. uma Lótus em pétalas, dentro dela via-se germinar um ponto dourado de luz, e à sua volta raios rosados irradiavam de seu Corpo Áurico.

quando o Amor se abate, um corpo torna-se a medida irrisória do que é pouco. o Amor quer também o outro.

a mentira mais mal contada do mundo é que cegos não vêem. bom, em geral até faz sentido, mas este cego aqui, esse tal de João, podia testemunhar algo que nunca antes tinha sido mirado por um ser humano encarnado: um corpo. jovem / se enchendo de Amor, Divino - coisa que enxergantes jamais poderiam ver com suas maquininhas oculares superestimadas! era incrível a cena, vista de cima: descia uma luz tão forte do Reino dos Céus, que os Mestres espirituais que orientavam nosso grupo nos pediram para afastarmo-nos um pouco. algo em minha cabeça dizia que havia de ter algo com a interferência da nossa energia imperfeita na comunicação que se dava entre os Planos Superiores e a jovem menina.

tudo se harmonizava à volta deles. de cima conseguíamos ver as moléculas de Amor, organizando todo o Caos energético vindo do vilarejo que circundava a cabana pobremente iluminada. aos olhos da matéria, a única luz visível pelo lado de fora era encontrada por entre as frestas do eucalipto e no entanto, sob a visão do espírito, o que antes era apenas o usual breu da floresta, transformava-se num carnaval inacreditável de seres - de todas feições e feitios - e Luzes cambiantes, rondando em torno dos dois.

se nos suspendêsse-nos até o topo do globo terrestre, ainda assim veríamos a Luz dourada irradiada por aquela conversa tão insuspeitadamente radiante. e como essa fagulha, muitas muitas outras, espalhadas pelo Planeta. produzidas por situações tão aparentemente ordinárias que vocês ririam de mim caso as descrevesse! essas fagulhas são como rimas, ocasos de harmonia, choques de placas tectônicas humanas cuja fonte pode ser um beijo saudoso, uma peça de arte feita em conjuntos, qualquer coisa. acontece! vocês verão... as almas se impactam, por um momento se aparelham e quando acontece, produzem luz! é difícil de acreditar, e eu também duvidaria, mas os homens mais admiráveis dessa Terra, mesmo os mais sábios, apavoraram-se com a infinidade de mistérios envolvendo o Grande Espírito com que se depararam ao desligarem-se da matéria.

João foi ao quarto, dividido da cozinha por uma simples canga presa ao batente, voltando em pouco tempo com seu atabaque.
Laís sorria, com os olhos semi-cerrados - expressão tão comum ao estado de espírito transcendente! - e com as mãos inconscientemente impostas em Granthi mudrá, aguardava em profunda paz seu companheiro voltar.

ao sentar-se, o senhor, que não era seu avô nem nada mas podia ter sido, tomou uma respiração prolongada e suspirou as seguintes palavras: defina-se agora. não defina a etapa personal da sua vida, pois isto todos podem deduzir.
quando falo de você, falo de uma instância mais especial mais distinta de você. uma parte de você que por acaso te sussurrou todas essas coisas bonitas e tocantes que ouvistes enquanto estavas de olhos fechados...

mais uma pausa se fez, e a menina tornou-se levemente apreensiva pelo que ela considerou, erradamente, um puxão-de-orelha. esperou o velho então prosseguir...

- descreva de alguma forma, não importa qual, o insight que acabou de ter sobre si mesma, Laís. não se esconda! todos nós já passamos pela percepção infâme que é a de sermos menores do que o nosso ego diz que somos! vamos, descontraia-se!

ela sorriu, despertando em si, novamente, a doçura e o abandono que a embalavam instantes antes. respirou fundo, e prendeu a respiração lá dentro dos pulmões, enquanto pensava sobre o que o velho tinha acabado de a incumbir.
enquanto ela tomava seus segundos para refletir, velho João tocava suavemente seu tambor, e este ressoava apenas em torno da cabana, não invadia o sono dos vizinhos, nem a paz dos ainda despertos. era incrível que mãos tão antigas pudessem precisar a intensidade exata que lhes cabia àquela hora da noite!
o velho João era conhecido no vilarejo por ser um daqueles sujeitos que jamais deixam rastros ou zumbidos por onde passam...

- acho que sou... ou somos, ? - encorajando-se, Laís continuou com sua usual riqueza gestual ao descrever a si mesma e aos outros para o velho senhor...
- uma escada! ou uma porta para o Nada, para o Reino do Desconhecido. e cada um de nós, é uma escada ou uma porta bem diferentes uma das outras, sabe? tem umas que são tão largas que 3 obesos poderiam subir nela sem esbarrar seus pneuzinhos! tem outras que são tão estreitas que só comportam a si mesmas e olhe lá! estas são aquelas escadas de plástico que estão sempre rangendo e prestes a desmontar! e uma não é melhor, nem pior que a outra por suas características, cada uma acessa o Poder da forma como lhe cabe, da forma como escolheu pra si, ao longo de tooodas as suas vidas anteriores...
não é assim, João?? - inquiriu o velho com o olhar flamejante tão comum aos filhos e filhas de Iansã. este olhar deu ao senhor o direito de uma gargalhada que sumia gradualmente, uma gargalhada espaçada, tranquila, e limpíssima! como se os pulmões daquele ancião não tivessem nunca sido tocados por qualquer impureza!


- é assim sim, Laís, é assim... - João deu os últimos toques no atabaque, e ao pronunciar as derradeiras palavras, com a mesma maciez que João chegara à Vida, foi com esta que João saíra dela. fechou os olhos pela última vez, e tranquilamente fez a passagem.

domingo, 13 de junho de 2010

pedacinhos de reflexões

* eu tento adotar a postura dele de macheza perante a vida, de não vacilação, totalmente desavisada de que essa postura não é possível em absoluto. a própria existência de uma capa de não-hesitação, não-receio, não-erro revela a raiz dessa postura: o desamor, a decepção, e a promessa de não sofrer mais. mas com pouca idade você não sabe disso, e muito embora tenha bastante autonomia de pensamento, algo muito mais misterioso que um vínculo co-sangüíneo estabelece uma relação profunda entre pai-e-filho, e você admira eles, admira sua experiência. se crianças não considerassem, nem que seja minimamente, a proeminência de seus pais e dos mais velhos, dificilmente recorreriam a seus colos, e às suas respostas. e eu acredito que coloquei as minhas respostas mais subjetivas nas mãos da pessoa que menos conseguia lidar com incertezas e sofrimento:
- daddieeeeee......

e eu admirava o proceder dele pois que tinha um ar firme, cizudo, de quem sempre sabe o que está fazendo, mesmo que esteja profundamente distraído com tudo. tão distraído que talvez fosse necessário que um Boing caísse sobre mim pra que ele pudesse olhar pro meu rosto durante 5 minutos, sem desviá-los gentilmente pro jogo de golfe na televisão.
então foi nas mãos vacilantes, mas extremamente preocupadas, que as minhas preocupações caíam. era nas soluções de meu pai que minhas indagações descansariam (ou não descansariam jamais! - começo a perceber agora).
de toda forma, adotei seu estilo de vida, sua postura física nem tanto, nunca consegui a musculatura disciplinada e aristocrática de papai, e secretamente culpava a genética sentimentalóide e muscularmente insípida de minha mãe. foi deste homem em quem me inspirei pra construir esta mulher que escreve pra ninguém neste exato momento em que essas letras pipocam na tela ao meu comando... e neste jogo que escolhi pra jogar, bem, digamos que eu tenha tido que baixar um aplicativo para rodar esse jogo...... esse aplicativo chama-se "self Denial", e dentro dele posso rodar diversos jogos na verdade, a impecabilidade, a inacessibilidade, a supremacia, uma moça de Qi elevado, um dda, uma criança, uma adulta c/ suas responsabilidades, ou uma pessoa de saúde frágil,... é o jogo de ser quem você quiser ser. a única coisa que você tem que fazer é considerar que não precisa mais das suas "más" qualidades, que elas estão te atravancando, e que elas não te representam, não representam o Novo Você que está a surgir quando você finalmente clica "baixar"!
é preciso Força pra sobreviver a essa aventura, a esse romance que a gente ingressa quando deseja esquecer quem somos! é preciso Força pra viver! eu acreditei demais na força! e hoje digo com total tranquilidade de consciência que acreditar ser forte NUNCA me fez sentir menos fraca. esse personagem que eu escolhi representar tinha tudo aquilo que eu nunca vi em mim. em mim sobrava apenas uma docilidade que não cabia, uma permissividade incompreensível, perturbada, algo simplesmente errado de sentir, porque infringia dor! do alto da minha arrogância, selando a senda da auto-ilusão, via apenas uma ingenuidade a ser aplacada, eu sobreviveria à ela e seria mais forte que todos os fortes à minha volta!
seria distante, nebulosa, e assim, deixaria de sofrer! algo suavemente diferente do que intuí que meu pai vinha fazendo (este cultivar da "força" - ou do auto-engano) e que hoje tenho a graça de ver ser desconstruída em mim e nele também.

quando vejo meu pai hoje, perdoando seus próprios equívocos, suas posturas que estavam enganadas, quando vejo meu pai - bem aos pouquinhos - dar férias ao seu implacável guerreiro interior, eu respiro junto e novo que nem ele! aos poucos Luiz vai acalmando esse guerreiro dizendo que ele foi muito útil enquanto ainda morava em cascadura, ou em pernambuco, o guerreiro brigão replica dizendo que pode vencer mais uma batalha sem esforço! esses pedaços da gente tem vida própria, meu povo, e eles não querem morrer não, eles querem te defender do mundo injusto! mas é preciso que você os deixe ir... porque você já viu que não há nada do que se defender, e não há nada que você não deseje saber sobre quem você é, ou sobre quem pode ser... e é preciso que não deseje brigar mais afinal, em total e sóbria consciência de alma. porque já nos machucamos sem lutar contra as coisas, e o ódio envenena nossa paz de espírito que era pra ser inviolável. não queremos mais porque podemos não querer mais, porque somos autores e não vítimas de quem nós somos.

enquanto meu pai se opera, vejo que no Hall de mim, começo a abandonar a armadura mais e mais, e me permito à moleza do corpo, me conforto na vulnerabilidade da carne que vibra com os sons e com o vento, me acostumo a sinuosidade e franqueza do corpo cru com curvas e deslizes e retas e prolongamentos pontilhados, sutis, energéticos. ninguém precisa entender que não estou mais lutando contra a vida, eu mesma estou entendendo isso, e assim consigo concluir, tranquila, que estar em paz é a verdadeira salvação prometida.
se redimir é amar (e não crucificar) nossos pequenos pecados; enquanto se tornar pacífico é aprender amar os pecados também nos outros.

ps intertextual: o tal nazareno viveu sua vida em respeito e auto-abandono, em amor e em devoção cega ao Amor. mas tudo o quê o mundo conseguiu apreender de sua vida-obra foi sua Morte e sua cruz, seu sangue e seu corpo. nada mais.
as religiões que criamos, os deuses que criamos, são formas-pensamento que usamos para aplacar nossas dores. a religião deveria servir a te reconectar com Si, te fazer crescer em júbilo e em Sabedoria. não em crença, em dúvida, em endagação, em ódio, em ritual, em auto-punição, etc, etc


* quando admiramos algo que não vemos em nós, mas nos identificamos com aquilo mesmo assim, essa admiração é um indício, uma pista-alerta, uma ligação aos Bombeiros para que aquela nossa característica de alma nos seja novamente apresentada. notei que há uns anos, conforme secretamente ia azedando e envelhecendo meus conceitos, era crescente minha admiração pelos meus amigos-criança, pelos indivíduos que simplesmente eram a despeito do julgamento dos outros, que simplesmente não ligavam pra violência das pessoas e suas opiniões, eles simplesmente desviavam suas atenções das minhas críticas e tornavam a coisa toda de viver parecendo uma brincadeira de novo. esse povo do circo sem muita auto-crítica, sempre me impressionou. e eu, me vendo apenas como construção e não como construtora, reparei que admirava tanto aquilo porque aquela qualidade certamente não constava na minha escassa lista. e pus-me a admirar agora, com certa dose de melancolia, como quem finalmente reconhece que "nunca será diferente disso que está sendo entediantemente agora".
hoje, chafurdando em todo o lixo de self-missunderstanding, coisas que eu quis entulhar sem discriminar o que aquilo dizia sobre mim, e ENFINS, percebi que o que eu admirava nos outros, eu realmente havia PERDIDO, e isso significava dizer objetivamente que aquilo já HAVIA EXISTIDO em mim de maneira muito latente. daí depois de concluir isso me vêm a cabeça que essa ingenuidade linda que eu vejo hoje foi a "docilidade idiótica" da infância, que eu passei todo esse tempo tentando negar.
a alma grita quando se depara com um pedaço seu. ela quase rasga nosso corpo, chama atenção através do nosso pessimismo (nós e essa inclinação à auto-piedade) à característica que precisa ser resgatada! e você fica como "escravo" de você mesmo, masoquista, medindo o tamanho da dor que é não ser mais assim... ao invés de escutar a voz tímida que existe meio castrada dentro de você que diz que talvez você tenha deixado algumas decepções ao relento, descuidadamente. e que sem cuidado consigo é impossível cultivar auto-amor.

* engraçado como a construção do que chamamos de personalidade costuma ser uma série desenfreada de cagadas oculta(da)s.

* perceba o movimento soufofa e sofro por isso se transformar em sou fria e admiro quem é fofo. perceba o quanto é PURO e demente massacre acreditar que somos limitados pelo que vivemos. o que vivemos nos limita/define na medida que desconhecemos o Quê de fato vivemos, o quê sentíamos enquanto estávamos vivendo, o que queríamos na época estar vivendo, o que gostaríamos de mudar em nós mesmos, etc etc etc nós somos definidos pelos nossos traumas (karmas?) na medida em que tememos não olhar para a causa deles.
uma vez dissolvidos, podemos escolher abrir outras portas, conjugar outros verbos, brincar de ser bobo, escolher diferente. fazer escolhas que revelem outro padrão de comportamento e interesses.
viver passa a ser escolha consciente, não existem vítimas, nem algozes, só consciências vivendo a confusão em dízima periódica, consciências como eu fui, que apenas observam as ações automáticas e repetidas do ator lá ao longe... consciências que percebem tudo do backstage, mas que não são requisitadas pras funções personais do day-by-day.

queira conhecer-te. sem receios. e conhecerás aos Deuses e ao Universo =)

CD: meditação sons da natureza (urbana)

ouço um som alto de cigarras,
tardo,
um pouco escuto, no escuro do meu quarto,
cessa o barulho e quieto,
descubro
não era bicho, era a sirene do carro!

domingo, 30 de maio de 2010

to remember

i shall not perform, but experience
i shall not own, but belong
i shall not speak, but watch close and silent
i shall not walk, but rise
i shall not hear but listen here and beyond
i shall look above and around
i shall be in Love and breath understanding
i shall see all men as consciousness entities,
learning men
and i shall see them
as i See my own holy being.



ps: não porque é mais bonito ser assim, mas porque é menos despendioso e mais rico.

sábado, 29 de maio de 2010

maravilidades

...the Greatest Artist...





still, there are those who get to experience the most terrific fabulous and undeveloped events by the Self experience on psychedelic plants or by entering unwary in altered states of consciousness fallin asleep; and yet they go undisturbed by the mad beauty inehent in every sacred piece of Existence, It has all been made of.
there are those who realize the comprehensible, over the unspeakable, thrills in especulation but not in perceiving, takes the described for the description, etc, etc...



deserto de Utah, estados unidos. foto tirada por Wally Patcholka com uma lente 50mm e 30 segundos de exposição. a iluminação de dentro da caverna provém da lua cheia.


chamada "O Olho de Deus", nebulosa Helix, apenas a 650 anos-luz daqui. ;)


nebulosa da Mariposa




nebulosa trífida. ps: se liga na lesminha de antenas, verde, no canto inferior esquerdo.

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu