...No princípio era o Verbo...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

adoro essa

a minha língua é mesmo
farpa,
corta até com o lado errado
da faca.

terça-feira, 27 de abril de 2010

In sigh(t)

o Infinito em um suspiro

terça-feira, 13 de abril de 2010

ninguém precisa ler isso, right?

tem um milhão de motivos que levam uma pessoa a agir de uma certa maneira.
naquele dia, um domingo, com Marx espiando sobre meu ombro e meu professor de sociologia me observando do mais alto de minha (in?)consciência (tão alto que eu não conseguia nem enxergar), eu ainda pensando no que tinha feito no dia anterior, pensando que o que tinha feito no dia anterior eu tinha me jurado não fazer nunca mais. e que o que eu tinha me jurado que não ia acontecer mais talvez fosse a quarta vez que estava me oprimindo naquele mesmo ano, que mal havia começado ainda, mal havia dado seu primeiro suspiro, não estávamos nem na metade daquele semestre e eu já estava velando o mesmo assunto de novo. e isso no mérito de uma questão específica, imagine quantas vezes não tenha me sacaneado no mérito de other psychological dots, refurtando minha consciência, refurtando o que vi, o que entendi, dizendo a mim mesma que não, não era bem aquilo que podia ser outra coisa... imagine!

mas naquele dia, naquele domingo já eram 8 da noite, e precisava ainda naquele domingo comprar anticoncepcionais.
notei "em cima da hora", quando cheguei em casa ainda bêbada ou meio de ressaca não se sabe, que só haviam sobrado da cartela os tais comprimidos "inertes" que não servem pra nada, só pra não quebrar a rotina, e estão longe de funcionar como a pílula que eu precisava. pensar em comprimidos inertes que só mantém o condicionamento, bem, isso me lembrou que talvez fosse isso que tinha feito ou sido ontem... tinha sido algum movimento que a gente faça apenas em nome de keep the old habits. por que diabos eu faço isso?, de novo me pergunto, e passo o dia inteiro refazendo e desfazendo e refazendo de novo essa pergunta na minha cabeça horas à fio até que mesmo o sol já estivesse cansado daquela inércia, daquele algo que eu praticava apenas para manter o fluxo das coisas para me manter distraída de fazer o que eu tinha que fazer, apenas para manter as velhas artemanhas do contraeu, aquele que joga contra mim com as minhas próprias armas e que habita sigilosamente dentro de mim de forma que eu mal o percebo, mal noto que ele existe, alguém sempre tem que me avisar, e no momento não disponho no banco o valor que me pague uma boa terapia que conserte minha psiquê mal distribuída. é impossível ganhar de um inimigo tão hábil..

tem um milhão de motivos que levam uma pessoa a agir de uma certa maneira. e raríssimos motivos que levem essa mesma pessoa a agir de outra forma.

e naquele domingo eu precisava fazer mais do que gastar dinheiro com algum comprimido que eu não tome, eu precisava me livrar dos indícios de uma possível burrada. e então fui lá, na drogaria mais próxima e mais barata, ainda pensando que não queria estar gastando dinheiro, que não queria estar precisando de dinheiro, mas um filho definitivamente era a última coisa que eu precisava! e então na fila, com o remédio na mão sem conseguir descansar repousar minha mente em algum lugar qualquer que fizesse sentido, pensando em comprar o exame lá que testa se você tem um "presentinho" sendo fabricado dentro do seu útero, sem conseguir pensar com clareza e sem tbm pensar em dividir aquilo com ninguém, olhando as camisinhas enquanto o caixa atenciosamente me observava do jeito que nenhum caixa de farmácia deve fazer, como nenhum caixa de nenhum lugar deve fazer ao formular algum pensamento qualquer sobre o cliente, que pelo menos disfarce, mas ele continuava me olhando, e sua mente parecia tão inquieta quanto a minha, e eu achando que era a coisa mais comum do mundo comprar anticoncepcional em qualquer dia e em qualquer horário, quanto mais num domingo - ressaca de sábado... e por algum motivo, meu olhar antes sem sentido percebeu que talvez quisesse me dizer alguma coisa sobre estar olhando camisinhas e comprando o algoz de um feto mal-intencionado (fruto de um ato pessimamente planejado) num mesmo instante. e me veio como que de fora de mim, como que de fora da turbulência caótica de possibilidades incidindo sobre um mesmo fato, como se Algo tivesse uma intenção muito explícita de chamar minha atenção pras camisinhas, e esse é o momento em que todos os leitores me chamam de louca por essa mania que muitos consideram admirável outros julgam simplesmente disparatado que é minha estranha fé ao enxergar os fotogramas que se passam quando penso minha vida, uma cadeia intrincada de eventos "aleatórios" que levam a uma percepção muito consistente de estar agora no lugar onde eu estou, e a percepção inadiável de que agora, tudo o que veio antes faz sentido.
eu precisava mudar minha forma de agir, para que pudesse ver outra coisa em mim se não a repetição desastrada que é óbvia nas minhas últimas escolhas, para não ser escrava delas como minha mãe foi, pra não estar inconsciente delas como a maioria dos homens está. e eu comprei as tais camisinhas. numa promoção louca da Pacheco que dizia nas entrelinhas "esteja duplamente seguro" com uma morena de dentes brancos segurando uma caixa de pílulas e um pacote de uvas em formato de camisinhas.
eu estava olhando para os seus dentes quando o caixa que me atendia pareceu de súbito ignorar o que vinha chamando a atenção dele a mim até então. e então talvez não estivesse interessado no que eu estava fazendo, talvez fosse algo no meu rosto, uma espinha...
ele provavelmente estava só me olhando e lembrando de todas as outras mulheres que compram suas promoções naquele dia, eu era como todas as outras, queria estar duplamente protegida e não pagar uma consulta no ginecologista (coisa que eu devia ter feito todas as outras vezes), antes que tivesse de fugir de novo de uma dúvida infátigavel, pela quarta vez naquele ano embrionário...

e neste domingo, como em outros domingos ou sábados, ou sextas ou dias de feira, fugindo de tudo o que tenho de fazer, e todas as responsabilidades que estar em 3D nos "obriga" a ter, para seguirmos nosso caminho, para aprender com o que nos aparece para viver, cuidar da sua família embora você sinta que não consiga, cuidar dos seus amigos, enquanto eles queiram, e cuidar de si mesmo principalmente quando outra parte de você não quiser, assuma os riscos, eu digo pros outros, pois é desse jeito que digo pra mim, não fuja do seu quarto, do seu Estado, dos compromissos acertados sobre os seus projetos, stick to it, e faça com intenção! fugir não arruma as coisas, as mantém bagunçadas dentro ou por fora, e por fora pouco importa, pois como limpamos nossa casa acaba que nos mostra o que viemos buscando nos outros... e viemos buscando muito mais que apenas nos auto-desculpar caso algo dê errado!
e apesar dessa busca obstinada para saber de nós e dos nossos desejos, pelo eternamente descontente anseio de nos conhecer totalmente, apesar disto, sabotamos o plano-mestre para que não haja chance de que ele se sabote sozinho, nos livramos do peso de não fazer agora o que devíamos estar fazendo e deslizamos estrategicamente nossa atenção a um ponto outro qualquer que não precisa da nossa atenção, como nossos compromissos, para que quando a tragédia se abata possamos nos perdoar nos eximir de culpa pois somos dispersos, pois somos livres para fazermos o que quisermos, pular de grupo em grupo, se ater ao colar e não às miçangas, pois somos livres para não fazermos o que precisamos fazer. isso é tudo uma farsa. um escape pra que nos sintamos menos covardes quando encararmos o nosso fracasso, pra que não pareçamos mais levianos do que fomos, para parecermos ao invés disso soberanos de nossas próprias personalidades, nós não estamos enlouquecendo, só estamos conscientemente optando pela loucura a cada dia que nos recusamos a olhar para o que viemos fazendo.


ps: e eu só jogo isso tudo pra vocês para não ter a sensação de estar lidando com tudo sozinha...

sábado, 10 de abril de 2010

som

o silêncio amplifica
e dá o tom

quarta-feira, 7 de abril de 2010

karma em dharma

auschwitz

sobre o campo
brotam do orgânico
orquídeas e gerânios

para Alguém

como pode alguém tão santo.....
alguém que mereceria as maiúsculas iniciais, que nem deus tem no meu léxico vulgar...
Alguém que não poderia nem ser desnudado reduzido a um pronome indefinido tão vago... alguém pode ser qualquer um, mas ele não é ninguém... ele não é humano, não poderia ser nada deste universo tão mundano. ele é santo!
mas se fosse santo haveria de ser homem, falar como homem, caminhar entre os homens, haveria de ser amargo como o bicho homem, e isso ele não é! ele tem o sexo ambígüo de um anjo. e se te parece sandice o que escrevo, se pareço pouco lúcida, ou muito fraca, apaixonada, saiba de antemão que não estou! não estou não! e te digo por que... não se pode se apaixonar por anjos, sabes disso. não nos apaixonamos por um rosto inumano, alienígena. não vemos beleza... não nos apaixonamos por algo que superou as emoções da carne, que superou as ilusões do ego, da diferença, alguém que enxerga o paradoxo de tudo o que é, da semente potencial de tudo o que nos cerca no mundo externo, da inexistência óbvia de um mundo externo, sabe do sono de BRAHMA, sabe que quando este piscar tudo estará acabado. como discutir com um homem destes?! como então amá-lo?! como amar um homem de quem não posso duvidar, simplesmente porque não consigo ver onde poderia ele haver de errar!?
e como pode ele que seria tão santo se fosse de carbono - da mesma matéria impura que todos nós somos - como pode ele ver beleza em algo tão pequeno,... em mim? me pergunto e logo me surpreendo com a resposta ABSURDA implícita na dúvida que me perturba!
só pode ser ele, só pode ser deus! nessa humildade tão incompreensível, de ver beleza em suas projeções, em sua criação... só pode ser!
mas esse Algúem de que falo, ah, ele jamais se projetaria nos outros, é tão auto-consciente quanto a Mãe Terra, quanto a natureza, quanto os biomas de Fernando de Noronha! ele não poderia muito menos ser um visionário, Alguém que consegue ir contra a correnteza, pois já transcendeu e tornou-se também correnteza antes mesmo do final da sentença! fundiu os seus fios úmidos de viço com a corrente, já é água em seu sangue e essência etérica, em espírito! e jamais poderia ser qualquer coisa outra! pois ele não está no tempo, é infinito, é eterno, é éter e por isso não se mede. eu não sei o que ele é, isso me destrói! isso estanca minha racionalidade, penso este homem porque não o entendo, porque não cabe no raiociocínico e porque dele tenho nervoso, tenho nojo! não o quero por perto, não quero pensar que exista algo sempre tão encoberto de serenidade irritante...! se ele está me ouvindo agora quero que saiba que entenda que eu não sou pra ele, que concebê-lo é um parto, é um saco! pois que vejo na minha castidade o beato, sacana, que maltrato os outros, a segunda vozinha na minha cabeça, eu escuto! percebo que a escuto antes de cometer um ato qualquer contra a criação! eu não quero mais ver o diabo antes de deitar minha fronte ao travesseiro, ao acordar e olhar meus olhos tristes no retrato, ao encarar meu marido ensebado, eu não quero, não quero! preciso que você morra!
e preciso muito que você não exista, antes da passagem estreita, ou que exista como pessoa direita, com defeitos, mesmo que eu não os veja. que você exista, apenas, sem efeitos especiais.

como pode esse homem-deus, deus meu, sem cara e sem forma simpatizar e paradoxalmente consciente até admirar essa máscara
imaculada
mas que não esconde Nada
por trás?


esse homem que não chove, só passeia e vaga sem enlamear seus pés nas preocupações.... eu não quero pensar que existe um só deste homem... e é por isso que me viro, que me enrolo na minha colcha de pólen, e volto a sonhar.

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu