...No princípio era o Verbo...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Considerações pessoais sobre Ego e Auto-importância

"Ele é um exemplo típico de excesso de auto-importância. Lá pelas tantas o peso se tornou demasiado e ele teve que pagar o preço extremo."
(Castañeda sobre Timothy Leary)


O peso de ser algo de domínio público (não necessariamente uma celebridade), é que as pessoas passam a ter controle sobre a (sua) imagem que é projetada no âmbito social. Uma vez que crêem "conhecê-la", e que crêem saber o que esperar, passam a formular espectativas, e sem perceber acabam cobrando determinadas posturas - além de muitas vezes serem incapazes de reconhecer alguma possível nova característica, de tão presos que estão nesse protótipo-de-nós criado por eles.
Em resumo, fantasiam sobre quem somos, interagem com essa fantasia, e em caso de má conduta, enviam a multa para nossa casa.

É possível que se um dia você agir mal com alguém muito querido em seu meio, o suficiente pra que os indivíduos desse meio se sentissem moralmente ofendidos com a sua ação, não espantaria se nunca mais voltassem a te ver como antes. Estariam então, sempre desconfiados da honestidade e da verdade do seu proceder, inferindo à convivência de "vocês", pessoas hipotéticas, um tom de incerteza e descredibilidade.

Uma vez solidificada uma imagem criada sobre uma pessoa, essa pessoa, ou esse personagem, vira como que um sistema bancário, onde as pessoas creditam ou debitam energia (confiam, ou cobram, respectivamente) de acordo com o que acreditam ser "justo", por um esquizofrênico (e moral) senso de apreciação.



"Ele dizia que "cargase a uno mismo" (carregar-se a si mesmo) conduz a pessoa a um senso de "importância personal" que combinados não permitem "acciones" por parte da pessoa. Quanto mais peso as pessoas acumulam, mais importantes elas se sentem, e menos ações elas executam."



Quanto maior for a "quantidade" e a intensidade das características que acrescemos ao que chamamos de "eu", maior a condicionalidade da liberdade dos nossos atos, teríamos de ser "menos nós"! O conforto que o ego nos oferece com "personalidade", é a proposta inaceitável de sermos grandes para os outros e seremos sempre menores do que somos dentro da íntima coesão de nossos reais sentimentos, sonhos, dentro da nossa brincadeira com nós mesmos. Os outros não podem saber das fantásticas conversas sozinhos que travamos em frente ao espelho, os outros não sabem as dádivas dentro de nós. E mesmo assim, insistimos em nos "personalizar", como costumizamos uma bolsa, ou costuramos uma idéia que queiramos vender...
Em um dia em que eu não me sinta tão bem-humorada, digamos assim, ou fragilizada por qualquer motivo, muito me incomoda sair com os amigos, pois não me sinto suprindo as espectativas deles sobre mim (é claro que nesse caso a "culpa" é totalmente minha, afinal, "não seria necessário" cumprir com essas projeções, mas eu estaria desejando cumpri-las porque ganharia em troca a ração de me sentir socialmente aceita). Isso é uma escolha. É melhor que ela seja ao menos consciente.
E quanto maior a minha própria expectativa sobre uma performance social a ser alcançada, menos livremente eu ajo, tendo que me ater somente ao "engraçadinho", "contundente", ou "inovador". E menor também a chance de ser qualquer um desses adjetivos, pois em situação de auto-cobrança excessiva nos saímos inda mais débeis porque não conseguimos ser tão grandes quanto gostaríamos de parecer.

Quando eu falo sobre "desconstrução do ego", ou qualquer expressão que o valha, é porque eu vejo o quanto ele nos mantém prisioneiros de um modo extremamente particular (e limitador) de ver as situações da nossa vida. Ao invés de nos proteger, ele nos intimida, e com "suas" reinivindicações, nos faz reféns dos nossos medos (ou pior, do bloqueio desses medos, que gera verdadeiros Enigmas psicólogicos, desencadeia até sintomas "patológicos" - como sofrer sem saber o motivo, por exemplo - que destilam nosso controle e entendimento sobre nós mesmos). Estão sinceramente enganados os que acreditam que ele nos protege (ele tampouco nos fortalece). Ele, no máximo, cria uma imagem fechada, sólida, de nós mesmos, joga o que "Não interessa" para escanteio (prum "lugar" onde vão se elaborar nossos traumas, nossas paranóias, nossos sentimentos considerados obtusos, etc), e nos faz crer que nós somos Fulano, e que o que nos identifica é um jeito peculiar da fala, ou os programas aparentemente intelectuais que fazemos; trocando em miúdos, tudo o quê para nós nos tornaria únicos, parte do julgamento alheio sobre nós, parte daquilo que os demais consideram bom ou ruim, - sendo assim um conceito totalmente vago, variável e incerto.
Don Juan chamou esse modo específico de nos portar em sociedade de "Modo predador", pois ele conta com o pressuposto de que algo/alguém está tentando nos denegrir, ofender nossa integridade, e que precisamos nos reafirmar perante tal ameaça. Ele nos mantém num sistema simplista (doente?) de convivência, baseado no medo, na competição, e ainda submersos em uma nuvem escura de paranóia e representações.
Acho que existem formas menos miseráveis de se viver, e isso é o que posso chamar sem medo de A minha Verdadeira Busca.

2 comentários:

  1. Luiza,
    Eu sou amiga do Antônio, mas não sou a Gabi, me chamo Tereza.
    Mas, se quiser, ainda pode favoritar meu blog, vou favoritar o seu tb !
    =D

    ResponderExcluir
  2. muito foda esse texto lheeeeeee!!!! (imaginei hj um documentário sobre mim mesmo, depois que eu já tiver morrido de forma trágica, como todo grande artista morre, e vc seria a minha amiga artista famosa bem sucedida que ia ficar falando de mim desde os tempos de escola! hahahahahahahahaha)

    ResponderExcluir

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu