...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

indo

que conforto
saber que às vezes posso ser na vida
a criança
que nunca cresceu
e abrir meu peito lança
- mas não tão bélico -
aberto ao inesperado, espero
e meu amor é cheio de esperança
repleto
de carisma carinho, de muito quero
e de medo, de medinho
de criança
o cheiro
do seu cabelo, sua Essência, do vinho
menino
eu me perco só de pensar você
na rotina
e parece que nem dobrei a rua
que nem deixei de ser
menina
eu te amo quando dobro cada esquina
quando dobro a minha língua e
meu orgulho
num deslizar fácil de dedos
emoções e origamis parecem tão simples, e eu
te amo quando o ônibus passa
e ele passa e eu nem sei qual é



para um leonino de barba (19/09/2011)


sábado, 9 de junho de 2012

feliz aniversário/inferno astral


começou a escrever
mas escrever chora, o ato em si, chora
deixa a lágrima rolar... solta o ar...
um choro com solucinho embaixo do edredon
o rosto quente
a chuva chora também
mansinho,
no outono
escrever, um cataclisma
inferno astral

"ai que idiota que eu sou!
ai que idiota que eu posso e pude ser!"
como ser diferente? como ser de outro jeito que não seja
esse meu sem-jeito de ser!

mas escrevia sobre escrever
porque a gente chora, mais uma hora passa
e a gente senta na cama de novo, e enxuga os olhos
e diz pra si mesmo. pra si mesma, no caso
que se é uma nova mulher
sim, eu sou uma nova mulher
cada vez que digo pra mim mesma que não posso ser a mulher que desejo ser
digo que sou uma nova, porque daquele jeito não dava mesmo pra continuar sendo!

pois sou uma nova mulher!
e meu brado é verdadeiro e transparente como a chateação de uma criança
uma nova mulher com dúvidas renovadas
e um certo cansaço de velha

seria mais fresca se tivesse em posse de alguns ditados
uns provérbios chineses
alguma coisa que enchesse meus lábios de consensos
e fizesse sentidos mais populares
seria talvez mais querida, se ainda pendurasse meus gostos exóticos à tira colo
seria talvez, se fizessem bottons com as abstrações que pintam minhas idéias malucas

estou sem idéias. mas escrevo mesmo sem tê-las porque descubro a genialidade no vazio que fica no meio entre as frases,
quando respiro na hora da vírgula, é genial
acho que só respiro aí mesmo. engulo os pontos, e salto os parágrafos. não tenho jeito.
não sei me comportar usando vestidos.
principalmente os antigos.
simplesmente não sei.

aquela menina


quero explodir pela epiderme do meu corpo
explodir em direção à lua
a minha cara, explodir pelo buraquinho da agulha
sabe aquele, onde a gente passa o fio
meu sentimento que explode no impossível
minha identidade sem cura

eu quero explodir primeiro pelos capilares mais miúdos
e depois deixar pros últimos
os vasculares
mais graúdos

eu quero explodir o verbo
espremer o sentido, tirar seu sebo
rancar o vício

quero descomprimir toda a pele que me reveste
quero partir ao meio
e ainda olhar o dentro

quero ficar quieta. quero gritar e pular e pulsar e correr. e sacudir e balançar até esquecer que eu existo. até esquecer essa loucura sem nome que as pessoas chamam vida.
quero fingir que não vi, que não li, que não sei que não senti
que não, na verdade eu nunca senti
que sempre vivi assim, que sei ser eu
como ninguém!
que sei ser assim, sempre atrás de mim
sempre oculta, atrás de alguma revista
de algumas palavras bonitas
de alguma sabedoria densa e melada presa grudada no fundo do pote
alguma sabedoria inesperada e sempre fora de hora

queria me comportar sob a aparência que me foi dada
queria poder vestir alguma máscara
queria que fingir não fosse me incomodar
eu faria isso pra sempre
eu fugiria pra sempre, eu disse
eu sou o tipo de pessoa que vive a procura de lugar nenhum
pra morar
e que não descansa até encontrar
esse canto

eu acho que vivo uma espécie de marcha eterna para o descanso
com muitas curvas no percurso, curvas longas
e pernas curtas
e muito gogó muita palavra solta muita letrinha de mão-dada
muita filosofia
muita roupa apertada
muito calçado furado
mil remendos, pouco talento
e uma infinita capacidade de gerar novos jeitinhos
novos cambalachos
pra poder dar jeito
no que não pode ser consertado

queria que a minha angústia não fosse tão visitada
quero me esconder e implodir sem alarde
já passou das 3 horas e eu preciso dormir

Quem sou eu