...No princípio era o Verbo...

sábado, 22 de outubro de 2011

Texto sem nome do dia 17 de Abril de 2011

o mistério é sério e faz cócegas quando bate
arregaça as memórias e faz graça da pequena represa que se formou em torno delas
e vielas
não sou evoluído, sou um rugido, um rugido
minha veia pulsa quase estoura, avulsa
minha mente asserena quando sinto amor com veemência,
carinho com astúcia

Textos sem nome do dia 4 de Março de 2011

o Vento abre a porta. devagar em um primeiro momento, como quem pede licença mas já abrindo espaço-tempo pra sua presença chegar, sua chegança revela a luz do banheiro acesa, e ele entra então,
um segundo momento - um impulso.
permanece durante 5 segundos - o tempo que acha que merece - como que pra vigiar suas atividades, verificar se você realmente está estudando como deveria ou como achava que deveria estar, e bate a porta atrás de si fazendo um estrondo que te OBRIGA, num meio meio sem modos, a se perguntar se você está realmente fazendo o que devia fazer, ou que você pelo menos achava que devia estar fazendo. realmente.


*


para quem fica, a vida discorre desperdiça, seu discurso vence o fluxo, com eloquência torna vivas palavras caídas em desuso. o fluxo vencido pela impossibilidade de parar, o rio segue por si próprio como a torneira aberta em frente aos olhos, e o tédio escancarado em contemplá-la aberta, desejando sê-la, a água, assim tão natural essa água corrida, tão ida, tão pressa... seu presente criando novos passados a todo instante! frenético! a vida do que passa arrepia e causa inveja ao próprio tempo!

desipnotiza o olhar, quem fica, e agora encara os próprios pés pousados descansando sobre os ladrilhos do banheiro, emoldurando a latrina no domingo, às 6 e meia na tarde. no seu lado uma pilha de jornais-de-segunda desatualizados dizendo que o tempo de fato não faz ponto aqui, onde a vida acontece desapercebida, desacordada e desasistida.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Jardim de Infância Éden

começo como uma brincadeira. mas mesmo quando o difícil é brinquedo tem sempre um eu preocupado, esgueirando-se por entre os galhos que foram ali deixados pra dar algum referencial.
brincadeira é coisa séria. precisa de um monte de coisas que quem brinca não sabe que está ali.
é por isso que deus me fez engenheiro desse mundo em que os outros apenas vivem, e nesse mesmo mundo eu penso e invento soluções, as desenho, conheço cada polegada do terreno onde os pés das crianças pisam descalços, os formigueiros, as 3 cáries na boca do menino mais gordinho à esquerda, as 2 obturações e 5 tratamentos de canal da tia que os observa. acho que a vida pode ser medida pelo número de intervenções cirúrgicas, ou de operações dentárias que um alguém fez. digo o tempo de cada um pelo estado de seus dentes.
ou pela situação de seus joelhos. e por esse critério descobrimos que as crianças e meninos são seres tão velhos quanto o tempo, quanto o criador de todos os critérios.
eu sou o contador do grande Arquiteto do Universo. calculo os fluxos. conheço as entradas e os bolsões onde se acumulam os pensamentos e saberes dos homens. sei onde guardam suas idades quando vão conversar com um outro ser humano que parece estar sempre feliz. sei onde guardam seus ânus quando pegos em situação de constrangimento. sei como aplicam suas vulnerabilidades em argumentos robustos. sei como se parece uma verdade em que foi injetada alguma medida de peruagem.
reconheço uma baixa auto-estima inflacionária a quilômetros de distância, a danada! identifico fácil o HIV da alma, o vírus que se retroalimenta das experiências pra medir cada vez mais força contra nada, investe cada vez mais vontade sobre o vazio estagnado.
deus me desenhou para ser porteiro de suas criações, pra observá-las de tão perto, de dentro, sem interferir. o rebanho avança semfim, sem saber quantas pestes quantas dores-de-cabeça estão por vir naquele segundo em que atravessam a porteira, e eles parecem tão satisfeitos...

vernissage

sinto o mundo no meu palato,
simbolizo o teatro no meu clitóris,
na ponta das minhas unhas

falo tanto que já não sei quandoeporquê comecei eu a falar.
falo cítrico
falo até corroer o membro da fala
falo tanto falo
que não escuto as palavras

falei.
e nada se concluiu do que foi dito.
estou cansada. sem conclusões.

Me precipito e sofro.
tento permaneço neutro
retardo e empaco,
cristalizo.

domingo, 18 de setembro de 2011

...

Tão vazia. Tão pálida. Tão sem vida.

Tão distante. Tão partida (ao ½)

Tão espalhada (por aí). Tão desmedida. Tão sem noção.

Tão cada um dos 6 mil pedaços seus esquecidos pelo chão.

Tão desmotivada. Tão deixada (de lado e de 4)

Tão crítica. Tão perversa. Luiza, cobrindo os rastros de sua insatisfação. Pra lá e pra cá puxando em um carrinho uma pilha de razões e adjetivos que nem ela sabia mais que ali estavam. Luiza com setas de fluxograma, marcação de mudança. Luiza trazendo e/ou destruindo móveis. Luiza e um piano antigo que ninguém sabe como toca. E um monte de objetos sem sentido povoando o ambiente. Luiza e índios conversando. Luiza também sem sentido algum. Sem sentido de direção algum.

Luiza e um território mental cheio de troços e florestas temperadas, e coordenadas geográficas abstratas,

se orgulha tanto do seu caos – não consegue encará-lo

reclama tanto da indisciplina – não consegue não viver esse pânico de artista, de ser vivente, auto-consciente e auto-projetista

- não consegue apagar essa brasa queima viva no peito, perene também sob seus pés.

Quanto mais assopra mais arde mais ela cora, a brasa, mais esgarça o tecido da sola, dos seus pés.

Queria ela ter nascido com uma casca mais dura. Um interior menos mula. Queria acordar descobrir-se outra, trocada por alguém de vida boa. Luiza. Não sabe onde bota todas as coisas que tira de dentro de si. Luiza que quer tirar os órgãos inclusive, quer se retirar inteira de dentro, quer tirar a cavidade torácica, onde ela respira mas onde também acontece a falta de ar. Deseja matar o desejo. Luiza estranha-se a cada olhar. Não admite que é, sim, outra, estranhando-se, mas continua procurando uma máscara pra se identificar. Uma máscara que sirva bem no seu desconforto, que o deixe dormir (um pouco). Está cansada de mostrar como está cansada, e todos terem que lidar com isso.

Luiza é um desenho que se apaga ao final do traço,

É um frio chato que dá por debaixo do casaco

- o frio que não perdoa nem o rosto – que está aberto, escancarado e exposto ao vento frio, ao seu descaso – Luiza.

Uma tentativa de não ser clichê e uma mania de querer ser sempre óbvia.

Um paradoxo que não se resolve nem mesmo desce bem pra prosa.

Luiza termina não rimando.

FIM

domingo, 28 de agosto de 2011

MANI

não saber como se processam os autos mágicos da psiqué, como saem da indefinição da figura toda a um recorte específico à margem. não saber como colhe significados a mente; saber que a construção de si é passado mas se consagrando eternamente no presente. a repetição infinita da grandeza contida numa unidade infinitesimal de medida. o padrão repetindo virando algo novo que vem vindo, o fractal das experiências de vida virando um algo a mais que não se liquida ao fim da linha. deixa a alma, o corpo, pra brincar de ser em outro momento, nos sonhos, nas peças coordenadas de outro engenho, a alma se recria em outros tempos, a jóia da consciência n'est jamais fini.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Precisa-se de uma solução gráfica p/ tudo o que eu ignoro


para minha ignoração


magnânima e ostensiva


opressora


ignorabilidade


duplicando layers, destacando a tensão


dando goles esfomeados no balde de café como isso ofertasse qualquer solução


,qualquer


me embrenhando nos cachos fios condutores de informação


da cabeça encaracolada, do raciocínio plural simultâneo e multifacetado


indeciso


por sua natureza narcísica:


volta-se constantemente para o centro


para-si


confunde-se com o tanto que pensa que sabe e pensa e quanto mais elabora mais sabe


que ignora.


confunde-se e só então se volta para fora:


inconclusivo e poente.


um não saber desespero pondo-se ao contratempo da certeza, batida firme


e certeira.


um não saber de geometria indefinida. o que tem de saúde ali habita porque irrequieta e imprecisa. explica (a si mesma): A Falta de Sentido Busca Em Rondas Organizadas O Sentido Que Se Esconde Debaixo da Cauda ou por Entre os Pêlos dos Cães, entre os Fios do Novelo. Entre os Caixinhos da Lã, Entre as Estacas do Portão. O Fio de Sentido Tece a Escuridão.




saber não é nada perto do que não faz sentido algum.


sábado, 6 de agosto de 2011

sofá vermelho

desde q vc chegou nao durmo mais
tudo ficou por arrumar, por fazer
as coisas do quarto nao tem mais jeitos, nao tenho mais qualquer autoridade sobre os pratos e talheres que se acumulam sobre o gradeado da geladeira
minha casa em obra e vc me acorda pra viver outros cômodos
nao quero dizer que sua presença não seja um tipo diferente de organizar tudo
mas que seu jeito diferente de organizar tudo me alinha com aspectos tão vários de tudo o que é, e tudo o que é declara sua existência agora, sua insanidade declarada de quem é - digo, TODAS AS COISAS VIVAS se declaram pra todas as outras,
como se não fossem esbarrar umas nas outras, como se houvesse espaço para todas, mesmo despertas e francamente emocionadas com a percepção profunda e aguda de se saberem...
Deus é puro espaço, sabe? e eu percebo tudo ao mesmo tempo, são mil brados de coisas cantando suas verdadeiras essências em um coral meio caótico porém amável
o mundo de súbito é uma vaguidão relaxante
as conversas todas pendem ao ponto fundamental de uma certa letargia emocional
de delírio
com todo respeito, digo isso tá?
você nao me atrapalha
você me comove todos os micromúsculos do corpo, até minha expressão no rosto já é outra
o sorriso é mais solto mais louco mais eu
e a minha expressão não só do corpo, mas a expressão do que me invade - pro que sempre faltaram meios de se expor
se encontram um pouco nesse plasma cor de rosa que se sobrepõe às cores embaçadas da rotina
as cores dessa rotina, não é que fossem entediantes ou sem grandes contrastes, antes
tudo já era lindo mesmo antes de você chegar, porque minha busca perseguia a beleza de tudo que nosso Pai criou
mas quando você chegou, elevou à máxima potência tudo, entorpeceu tudo que estava desacordado em latência

você merece um Oscar.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Chat Tudo

Agora começo os textos como se já tivessem começado.
Em um milisegundo, a identificação do atraso ao ver as horas no relógio,
um "já foi" acontecendo ainda
em outro tempo-espaço. Um eterno agora que se apropria de todos os acontecimentos e fatos,
inclusive os passados.

Essa dificuldade de se permitir fundir com os tais fatos. De se tornar eles.
Agora faço o mesmo com parágrafos,
inicio-os já terminados.

A diferença fundamental de antes: que não é falar de algo importante:
é de agir a partir da importância de algo. Algo vivo. Algo vibra.
Algo que não só importa, como ressignifica tudo, à chegada de sua importância.

E nada mais pode parecer pequeno depois; nada nem ninguém corre o risco de fugir a essa estranha glória de tudo, agora. que abraça tudo, agora. nada é capaz de fugir dessa endemia que sua vida instaurou na minha estreita vila. (onde moro).
Todas as bocas dirão o que você me diria - diante das xícaras -, serão seus comentários e não "bom-dia"s. o que eu "vou estar escutando". que eu "vou estar atendendo" ao telefone.
É tão somente isso, registro. Não há nada a dizer. Não tem nada pra dizer, porque já tenho tudo.

Obrigada.

sábado, 30 de julho de 2011

Kaliyuga

ou O Nascimento do Novo Tempo

E quando tudo ruiu. Quando as esposas e seus chefes e seus maridos faliram. Quando a raiva abriu a boca e não encontrou palavras. Quando muitos estavam surdos, quando estavam mudos de quem eram, e já não sabiam mais o que fazer com o que não conseguiam ser. Quando todos, acostumados com vírgulas, não perceberam o ponto.
E continuaram tentando viver ao modo antigo, retilineares, cíclico. Verbo e viço combativo.
E a novidade da Roda já não era mais fantástica, eles ainda não percebiam, era chata. Repetia. Suas vidas pediam Maya e a Vida Maior lhes dava poesia. A Vida Maior lhes dava pontes. Lhes oferecia ofício digno. Suas cabeças davam voltas porque ainda não Viam. Na noite escura da Alma.
Quando o repeteco de Todo Tempo já não resolvia. Quando tudo pára.

E Tudo o que conheciam acaba. Um ponto. Os Bancos agora eram ruínas que os mendigos e mendigas usavam pra trepar. Era o grito de Liberdade dos oprimidos. A verdadeira revolução marxista era na verdade, uma foda bem dada na cara de todos os pudores que ainda puderam resistir. Proletários eram poucos perto dos que eram gente.
O Absurdo era o que alguns haviam esperado toda vida. Não tinham seus corações viciados e aprenderam a fazer o Absurdo de moradia.
Alguns aproveitaram para fazer feirinha. De trocas. Em Tempos de Absurdo a moeda era uma piada sem graça. Uma piada que muitos riam. Porque eles ainda não viam. Porque não acreditavam. Porque não quiseram submeter suas verdades ao brilho insolente da Beleza. Porque quiseram ser represa quando tudo agora era nosso.

sábado, 16 de julho de 2011

acorda a negligência que a hora já passou

quem olha de fora pra gente não vê o quanto custou nossa vida. às vezes chega dar uma dor, uma dor de rebeldia. sinto que muita gente passa um branco na vida, passa voando loonge sobre a miseria dos fatos, encobre a pobreza dos gestos, essas coisas que a gente vê na rua e que não consegue esquecer, pq revolta a nossa alma. e nós, em quem a alma se debela indigesta, inconforme, mas que não cosegue ser rude o suficiente pra desagradar. essa alma de flor, essa lótus na lama.
nossa história que tem essa marca de sola de sapato impressa por sobre, eles não vêem o solo quando pisam, minhas irmãs, eles nâo vêem.
pq se alguém me diz que pelo menos 1 olho desse indivíduo, desses tantos que passam pela nossa vida e massacram e torturam nossa intimidade, se 1 olho deles vê a si próprio e ao mundo, acho que entrego os pontos. me dói saber, contra a permissão de Deus, que a consciência só pode comportar o que viveu. me dói pensar que o que eu vivi fica encadeado dentro de mim, no máximo suavizado pelas palavras, maquiado nas rimas. não vejo problema na arte, aliás é o que na vida mais se aproxima do que não pode ser dito, é ela a grande salvadora. a heroína do esquecimento e da repressão. que trás à tona o peso efetivo das experiências da vida. dentro dos eu's.
meu irmão... meu querido. sei que todos nós temos nossas dores. mas vamos pensar mais de uma vez, uma vez mais, antes de agredir. vamos pensar três vezes três vezes antes de apontar o dedo na cara do seu conhecido. procura te lembrar que a única coisa que você realmente tem pra provar dos outros é a sua experiêcia. uma experiência que é só sua. que aquele corpo bem na sua frente, aquela mente, tão próximo, tem uma vida inteira pro outro lado, uma vida que você não conhece.
voce não sabe quando insulta onde vai cair a sua ofensa. você não sabe. lembre-se disso.

em tempo

Tudo eu Sou, mas nada soa meu
Nada é meu aqui onde habito
É tudo um empréstimo rítmico do Infinito
E o ciclo que corro sempre sem pingos de sentido
E o ciclo que mora no meu colo de mãe
ainda não findo
E o ciclo que diz que tempo nenhum começa ou termina
E o círculo que diz que o que sou
a linha não delimita
E o cartório que ilude dizendo solteira ou casada
que não diz se bem vivida, se aflita, ou se bem-aventurada,
E o espelho que engana a verdade
e diz que é bonita, bonita a vaidade
E todos os registros não verídicos dos passos da idade
O tempo não passa
A Alma não morre
Tudo Sou Eu, aqui ou lá na frente
E podem dizer o que for, pra eu, o tempo não corre

sexta-feira, 1 de julho de 2011

buraco no espaço

o espaço que descansa desconhecido no espaço
entre
o então nervo óptico
e a visão

o espaço em que
desconhecido o mundo, o interpreta,
esquecido o impulso elétrico
que o último gerou:
realidade

quanto espaço
para dúvida e incerteza
entre a enzima e o prato
na mesa

quanto de caos comporta o planejamento
para criar certezas

quanto de desconhecido existe e mora
no que já existe e que já conhecemos
uma vez
em um espaço
e em um tempo talvez
quanto?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

desperdicite


me cansa tanto

3 litros de um líquido tão precioso

fora

meu arcano, meu amor de poetisa e de prosa

meu lirismo meu

vinho tinto

quero que o senhor leve de volta

pra lavar

sua palavra suja

seca, presa na garganta

seu galanteio mais que barato

um gemido obediente sem recheio!

e tão de tudo em torno e tão fácil quanto o dia, que nasce para todos

mas ao se pôr não pisca pra ninguém:

és vósmicê uma pausa do discurso,

barato como capim!

não diz nada seu abraço, seu agrado,

não tem nada pra dizer!

seu 'sim' quieu tanto trabalhei pra ouvir

é acontecido no vácuo e ninguém nunca soube mesmo se tinha sido isso

ou se tinha sido o contrário

o que você disse pra mim


a conveniência cartilha pra chegar perto de você me fere os passos

(e o espaço)

me racha

minha euforia infantil

se propondo à triste marcha

de comprar doces fiados na padaria

querendo convencer o padeiro pela doçura

e não pelos atributos disponibilidade e pela persistência

não queria a guerra dos sexos, queria o sexo em franca festa

queria eu, criança, queria eu, a raça de fêmea

atrair pelo cheiro e não pelo jogo


a sorte que suo e que sei do destino

do tempo e dos ciclos

é que vira a noite, e o inverno - a estação das flores vem

e eu vou me arvorar onde o lugar ao Sol

seja mais conforto, e menos custoso

que a clareira estreita que você abriu pra eu crescer


terça-feira, 21 de junho de 2011

uma ode à forma e à delimitação

a impressora sem bandeja cospe folhas desordenadamente
cobre o carpete velho do escritório de folhas escritas cuspidas ainda quentes
a contenção da bandeja não é represa, aqui veja
pode ser seu suporte!
sem essa tal bandeja - que não é a megera embora pareça -
se lançam as palavras ao chão, suicidadas,
presas ao papel que lhes descreve a forma, presas à forma da qual não escapam
: ainda sim sem discernimento
as folhas caem do alto da estante distraídas, distantes, lambem o cimento
algumas acidentalmente voam pela janela, saem descalças por debaixo da porta, outras se desintegram na piscina do edifício ao lado

em tempo: dar apoio não afunda os ombros, não faz corcunda nem estrago,
como também nem espeta - também nem sufoca,
faz crescer, nem aperta nem poda

mãos seguram flores e adoram peles pêlos plumas, selos
não só as oportunidades que seguem seu rumo - mãos nem sempre seguram
bandeiras e bustos não constroem histórias e homens públicos
a fundação de um espaço ou de um monumento não é o pretexto perfeito pra bandeiras e bustos
mas nem por isso se poupa uma praça ou um prédio
do gentil gracejo do pano da bandeira
que dá vida ao vento em bruxuleio,
nem por isso se poupa o sono do bocejo,
nem por isso poupa a franja a visão dos olhos, então,
que seja livre a alma,
que ela possa ser! que possa ser a pureza do conteúdo
e que seja clara e que todos possam provar da clareza que nela possam ler!
edificar é ofício sem desespero, não tem que ser difícil
mas que saber do térreo o andar que se constrói primeiro

quarta-feira, 15 de junho de 2011

notas de brincar de notas

tecendo notas em pleno fim dos tempos. teço notas como quem vivencia um cântico ancestral. descubro meu espaço sagrado quando estou tomando notas. vivo minha hora de poder. antigamente a incoerência do fim de tempos me assustaria e entupiria todos os meus sentidos e eu ficaria estática. a voz da sobriedade que se crê razoável assim me diria, o disparate, a infâmia do fato. jornalistaria vivendo essa cena, enfarpada e elétrica.
mas continuo tecendo notas. a vibrar o fim do mundo. isso é quem eu sou agora. tecendo como cada pensamento fosse um fio.
como a sensação também é o fio (da colcha e da navalha) e o ar e o som discreto que faz o ar dando sentido ao fio, animando a mão que tece fios como notas - essa relação ninguém escuta,
e como tudo vem desse mundo invisível antes de ser som e fio, pensamento e palavra escrita ou falada...

tecer notas está me transformando. já não são mais notificações, isso que registro e imprimo na minha pele - papel mais que perene - já não é estatística pura. não é fenomenologia da impressão. não é número impresso no boletim. não é o ridículo tentando professar o infinito. não modela o barro previsível. também não quer espiar dois dedinhos no futuro.
são notas de cheiros, notas de luzes, de presente, feixes brechas e objetos, refletores, vidros, espelhos e estrobos. são imagens antes de serem imagens.

as notas que tomo estão me transfigurando. entorno um balde de histórias sobre meu crânio e do seu interior oco e vascularizado se arvoram caules com flores na ponta, folhas no comprimento. e as notas são o cheiro que inalo dessas flores. o que elas me dão sem saber. minhas notas não são mais cacos, sua emanação não tem poderes de reconstruir a idade de um rosto.
são notas de piano. anedotas de bêbado. passagens grandiosas da bíblia, talvez até um discurso exaltado de crente. não são páginas derrotadas de dicionário, embora que todo poeta dele se farte as vezes, pra sua arte.
são notas que são VÍRGULA mas não são tão, que não foram mesmo feitas pra ser. não nasceram, mas existem, e não tem muito a contar de si mesmas.
pedem olhar vivo olhar crédulo de criança, pernas fortes, joelhos bixados. não contam estórias, é, mas cantam caladas, e se silenciarmos os sinos e a ansiedade, podemos ouvi-las larilarár. é bonito o que dizem sem dizer.
são surdas e seu mundo interior é rico dos sons impossíveis. chegar e morar onde vivem as notas me faz respirar melhor.
cantarolar já tem outro significado, e eu já não sou mais a mesma.
isso é quem eu sou, por ora.

sábado, 11 de junho de 2011

la sombra

nao quero padecer do mal de fingir que nao há mal dentro de mim pelo qual se possa padecer
quero ver bem onde não estou satisfeita, não pq isso resolve, não pq higieniza, mas pq assim eu entendo todas as coisas que venho buscando desesperadamente fora de mim pra me alimentar,
pq isso me integra, e faz par com a exuberância do belo - que não está a sós nesse Universo.
desse jeito, vejo o que em mim eu preciso tratar, que bico vai pra que boca e que - declaro em letras garrafais para não passa em branco - não posso fugir disso. prefiro essa menina embaixo na terra, segurando a rabiola que sou eu, pra que eu nao voe despreocupadamente pelos céus desligada da menina que vive a vida muitos pés abaixo da pipa. vamos amar essa menina, Luiza, vamos amar!



#subconscience talking

imunohiperatividade

sabendo que essa vontade que arde aqui no peito agora, que ninguem pode dar jeito nela, aplicar-lhe uma sentença, nem melhora-la..., ela que não pertence a ninguém mesmo.. não posso apagá-la, nem pagar pela sua sobrevivência, não posso mostrar pra alguém, como se tira algo do bolso e se revela a outro, OH! é um relógio!?!?! (isso é só um exemplo)
não posso aceitar essa febre de todo, ela não me permite decidir, nem pensar. há algo sobre ela que não me permite puxar o ar, não me permite projetar sobre o mundo, é muito grande. é maior que o que vejo como sendo esse tal de mundo. é maior que o que posso pensar. é maior que o maior buraco no Universo onde ela poderia caber. maior que Tudo o que a raça humana ignora sobre seus céus. não cabe nem no vácuo, nem no infinito, nem em lugar nenhum. quase na imaginação ela não cabe. e se for nas palavras, só se forem muitas!

descobri que essa solidão ninguém pode acompanhar. e só consigo pensar:
e agora, então...? e agora?

esse fogo que quer acordar os pais, as folhas de caderno antiiigas escritas e animar o sono das formigas (afogadas no pires dágua onde descansa o mel)! e mais todos os corpos defuntos que estão desacordados na fila do banco, este fogo que quer convencer da beleza, que quer comover o sorriso da burocrata! quer perceber que faz-se percebido. e não aceita menos vida que isso.
a felicidade de mostrar um ticket prum amigo, de ver os olhos do amigo crescerem e a excitação compartilhada de terem ganhado um ticket que vale pra coleção também compartilhada; presentear e de súbito o presente piscar a quem faz aniversário um de seus olhos.

essa ardência é tudo isso. e por favor, não me venha com um copo d'água. quero aprender a amar isso que pede atenção incondicional. estou disposta a check back my agenda. quero olhar pro seu rosto e decifrar o seu coração com o meu coração de agora, de adulto. quero de repente até lhe pagar um curso de redação pra que aprenda por si só a amar-se também, e a expressar o que tem dentro de si. que arde. eu sei que arde. e entendo o que ninguém entende, e sabendo que alguém pode ao menos olhar para ele, este menino de chinelo arrebentado, olha pra cima, desconfiado. e então sorri, os olhos baixados. e eu sei nesse momento que temos o mesmo fogo queimando os botões da camisa pelo lado de dentro.
e eu amo o que compartilhamos em silêncio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

satya



eu preciso viver a verdade agora
antes que seja tarde, antes que tenha sido a toa
já vi, estou vendo, que são desperdiçadas despedaçadas desesperadas e desprezíveis
desperdissíveis
as máscaras, a toa
são enfeitadas e seus enfeites são sua dor de não serem verdade
o sol que é vestido de verdade, sua beleza é visível
não interpretável
a máscara fixa, é imóvel
não dança, é estável e mentirosa
não quero
não quero dança tbm, quero slêncio
e possibilidade
preciso viver a verdade agora que a vejo a quero e não há nada mais no mundo pra mim
se não a disponibilidade voraz da verdade
se não a disponibilidade: sorriso-sem-palavras: da verdade
sua pura e luminosa mobilidade, seu puro franco e eterno estado de espírito

quinta-feira, 26 de maio de 2011

revisando protocolos

e aí está vc escrevendo 3 textos, indo pro quarto e não consegue parar,
pode estar viciado, é possível! acontecem coisas desse tipo, mesmo na vida real!
e por ser esse seu quarto filho, sem estar descansado e como que insone, ou desavisado (embora pareça mesmo analfabeto) passa por cima pelos erros de portugues digitação , o pé prende num balde de tinta amarela, você não liga continua seguindo as idéias, atropela com sua tropa de palavras umas linhas de verbos mal ordenadas, porque elas existem, também acontecem! como uma onda que quebra errado! a propósito alguém avisa à natureza que ela pesa às vezes sem saber pra quem tá ficando pesado?!
é a vida, é a vida...! - diz a Mãe Natureza e joga o seu relato de lado
analisa o próximo caso:
um poeta de madrugada reclama não estar assim inspirado
as Autoridades replicam: este cidadão não comparece com o dom que lhe é dado
a Justiça equilibra a discussão: também não é sua culpa, não estás vendo que se esforça como um condenado!?
o condenado, em sua defesa reclama se sentir apenas mais um cabo na fila de serventes do Exército da Inspiração
que ele reluta contra seus seios e barriga enormes e reacionários, mas Ela ainda assim o tem maltratado; ela e seu bélico poder de coerção!
ele diz que se trata de uma esposa insolente, que só lhe dá problema. não reconhece o esforço do coitado!, os vizinhos reclamam todos,
Ela geme alto no quarto,
na madrugada em que o pobre poeta mal pago não consegue parar de escrever textos, só pra Ela

ele tem dias tão fartos, e tem dias tão pouco... ele então suspira... limpa o suor da testa, veste a cueca e apaga o fogo. apaga também o cigarro. o trabalho foi bem feito, o dicionário esgotado. até o último verbete o nosso escritor seguiu inspirado.

o sopro mora

quando o ar toma o corpo e o corpo toma o ar
num vôo (em tom noir)
o corpo toma o ar pra si
na caneca, toma de canudinho
ele toma chá de ar e de pedra
de carbono, do que é feito sua santa matéria
da caneca evaporam fios de ouro que sopram na chama
dourada da vela
o vento o calor carrega
chega abafado no crânio nu do velho, na sua lustrosa careca
sopra palavras de luz e de trevas que na arte são ferramentas gêmeas
o calor leva as idéias todas para iluminar a noite no barraco da favela

chora a chuva,
se esfacela
e o corpo toma a chuva em um berrante
pingo-com-pingo
onde chuva rima com ternura
e com acolhimento,
e chocalho com índio
rima conterrâneo
rima com a terra: barro e gerânio
chuva rima com o choro do povo
precipita como palpitassangue no coração de toda Mãe

o ar entrando, enquanto, toma um pouco a sua consciência
ar retém no corpo
olhar pra dentro, gruta
um alento
raro
essa pena de pássaro são duas-pernas
seu poder é o sonho da cobra
o salto é
um vôo, o corpo no espaço, pluma
pula! e ali vive solto eterno, sem gravidade sem lei
o ato cego vôa porque
está vivo de outros sentidos
a alma lhe perfurou olhos para que pudesse sentir o abismo
palmilhado pelos seus pés
- para que visse o perfume da tarde,
e soubesse as cores do frio

o sopro mora comigo. o sopro divino habito. o sopro é o hálito de tudo o que é vivo.

machina: the machines of god

pra mim a palavra serve pra pintar (quadros ou casas) e mão para dizer. pincel prende cabelo e dor liberta o movimento, a dor dança. a catarse é um retiro que eu vivo pra potencializar a voz do vazio. sujeira é palavra filha da ordem, caos consciente é o conceito-mãe do repouso no espírito.
entregação. entregamento.
aguardar vir a inspiração, afundar na luz do esquecimento, a lembrança de um nome de um lugar, a filha da amiga da empregada da sua prima que veio ao brasil aquela vez: o que nos escapa é a metafísica em ação. a função das coisas busca o homem que as faz funcionar. e pra este homem operar o mundo que vive é tão simples tão simples que não percebe, sua intenção verdadeiramente é o que faz ele girar.

colônia nas férias

recordo pedaços da vida,
aporto estrangeira na terra em que fui nascida
os braços que me recebem no porto nenhuma marca sua é conhecida minha
crachás, bonés, abadás
N formas de identificação visual
alguma empresa por certo passou por aqui, uau!
o progresso tocou o chão desse lugar!
a iniciativa privada passou etiquetando memórias
umas jovens, outras senhoras, cheias de histórias!
qualificando imigrantes, distingüindo nativos de turistas
legais e ilegais
cobradores de taxistas
no final também no fundo,
dividindo todo o povo entre os legítimos e os vagamundos
voltar é ver que minhas terras não são minhas
habitam seres nelas
meus terrenos flutuam com a liquidez dos interesses do mercado imobilimaginário
corretores interiores vendem imóveis importantes onde vivem minhas luizas esquecidas
e distantes,
minhas vidas, seus credores
o visitante esquece que a a vida não lhe pertence
e que gulosa,
a vida já lhe possui. integralmente.

indagações inúteis de domingo

texto de 6/9/2009

fico me perguntando quanto tempo somos capazes de viver em movimento pendular, entre achar que alguém merece o mundo, e achar que ninguém no mundo te merece; entre se perder nos mistérios de quem a gente gosta, e perder o que a gente gosta nesses mistérios...
por que tudo invariavelmente acaba em silêncio e tédio? não somos tão vastos? o que será que me corrompe a visão, vez em quando? que não vejo em nós essa nobreza de ser incompleto, essa grandeza de nos refazermos e reinventarmos? onde está a beleza da nossa limitação?
aonde eu perdi o glamour do fracasso que eu não consigo achar?
eu às vezes só vejo uma montanha de equívocos e confusões, e tentativas desesperadas (não belas, só honestamente descontroladas) de fingirmos que somos serenos e seguros.
a vida é uma tentativa fracassada de produzir sentido, estando mergulhado na falta dele.

cadê o mundo colorido prometido pela nova era dentro de mim?
acabou o inverno e cadê minha fantasia de primavera?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A B


tentando conquistar um pouquinho assim de paz
afastando com as mãos e antebraços o mérito e o dever, o livro e a balança
tentando diluir as finas marcantes linhas que dividem uma coisa da outra
a moral do trabalho, um enfado
algumas desconfianças sobre os olhares que minha mente-lança pinça os pensamentos escolhidos numa colagem, que ela jura ter sentido
que ela jura não ser viagem

tentando conquistar o sentido pela candura da paz
conquistar a liberdade não pelo imperativo moral da liberdade, não porque todos tem direito à ela,
não porque todos tem mérito não importa o que façam para merecê-la
e SIM pelo branco,
- ou pelo que não tem cor
SIM pelo que não pode ser dito, e que por isso também não pode ser defendido
argumentado, como se fosse objeto do discurso,
e fosse só isso

tentando vencer máquina e engrenagens com um cotonete
e muita paciência
tentando estabelecer o desmétodo para fazer escolhas que tenham gosto bom
ou que façam um gostoso estalido quando mastigadas de boca fechada
é uma luta silenciosa,
com muito sangue envolvido
o sangue nas veias do combatente, o sanguessuor e o sanguerraça
o arsuspiro na mente alumiando
essa é a guerra justa dos meus quase 21 anos

domingo, 8 de maio de 2011

Ops! There comes Growing!

WOOOW! It strikes up all little details organized around the heart bottom! It's a complete mass destruction!

Eu sei porque quando ele vem vindo meu estômago RUGE,
porque os pedaços de terra em que ocasionalmente acomodo meus pés, ocasionalmente tremem muito,
ocasionalmente tremem tanto que chegam a abrir profundas fendas no chão,
revelando um obscuro nada sem profundidade alguma
por debaixo de todas as camadas concentricamente organizadas,
elas revelam um centro calmo mas potencialmente fervilhante
quando esse centro calmo pode ser visto, ele se assusta e puxa os sulcos de terra onde pousamos nossos pés e construímos nossas casas pra dentro dele numa fome de urso faminto! é incrível!
eventualmente ele engole pequenos animaizinhos que passavam por ali também. ele sente muito, sente vergonha do seu apetite selvagem, mas fazer o quê? acontece...
acontece quando o Crescimento vem. ele destrói algumas coisas mesmo sem querer...

but bitter

Esse amor corrosivo roeu até o último bordado do meu vestido
esse amor que eu quis estancar no bocejo porque era mais do que meus órgãos podiam comportar dentro de mim e ainda assim manter o respeito
por mim, pelo que eu podia comportar
eu sentia que não podia carregar esse recorte do seu passado, esse resto cirúrgico dentro dos meus pedaços, acolhê-los como se de fora não parecessem suficientemente destruídos, mutilados
sei que todos temos pedaços de nós desencontrados, alguns que cubrimos sob montes e montes de ouro, outros sob montes e montes de capachos, mas quando mostramos isso a outros olhos temos que saber que aquilo que não é deles pode ser tão assombroso quanto o maior de seus medos desconhecidos.
não podemos exorcisar nossos demônios e esperar que o outro entre na nossa catarse como se fosse convite pra uma micareta.
e essa minha mania de dizer que você estava fazendo errado, como fiz aqui em cima, que estava vendo errado, apontando errado, mais essa sua mania de dizer que eu estava fazendo errado, e me fechando, e não me permitindo, e que tudo isso era tão errado também. e o seu mundo que a esse ponto parecia pra mim uma floresta arruinada, me convidando para ver o fim dos tempos na cadeira de praia da sua casa.
eu achava que fugindo estaria preservando o resto da minha dignidade.
no final as suas posturas mais as minhas reações, e vice-versa eram duas portas se fechando lentamente, desapercebidas do que significava aquele movimento como se elas nunca fossem bater e fossem continuar seu giro ao longo dos infinitos ciruclares 360 graus, parecidas com as portas dos estabelecimentos nos filmes de bang-bang, era o que elas achavam. ou era o que nós, donos ou sócios do estabelecimento compartilhado achávamos que iria acontecer com o que tínhamos construído.
o final das contas mesmo foi quando eu fechei o bar, quebrei as garrafas uma por uma com o molho de chaves (eu e o meu método particular para a loucura!) e tranquei você pro lado de fora. e não disse mais nada, e também nem fui embora. só disse pelo meu gesto e pelas portas fechadas que agora eram minhas que eu te demito do que nós criamos.
e fiquei eu dançando, esse tempo, sem saber direito o que estava feito, o que eu vinha fazendo. me permiti alargar minha ignorância à medida modesta dos horizontes do litoral. não quis mais saber das minhas grutas secretas, não quis mais saber de florestas, me tranquei na selva de pedra das minhas convicções pré-prontas e voltei a estaca zero.
sem nem uma garrafa de gim seca, nem uminha, mas inteira, que pudesse fazer companhia.

sábado, 7 de maio de 2011

individuação

sua grande tarefa agora era: esquecer de si mesma.

a décima segunda das missões de Hércules, era esta. e era agora.

a dificuldade era grande, pq veja, seu esforço envolvia esquecer, em primeiro lugar, deixar morrer o peixinho dourado da memória de quem era, matá-lo de fome, que fosse! vê-lo boiar sobre as bolhas do respiradouro, era o melhor que podia extrair do esforço que empreendia. significava o sucesso da sua tentativa.
esquecer significava poder observar a face moribunda do que havia morrido sem remorsos, sem culpa, sem lágrimas salgadas. sem também pensamentos absurdos, de de repente oferecer-lhe ração fresca depois de desalimentado seu corpo. se fosse o peixe como os homens estaria ainda impregnando o ar com o mau cheiro de sua partida, e o esquecimento inda assim prevaleceria sobre a dissonância estética do ocorrido.

o esquecimento é implacável. ele não "dá branco" e logo em seguida corre o risco de lembrar-se novamente... o esquecimento é o esforço persistente em preservar o branco, é a autodisciplina dos iogues. o senso de propósito impenetrável das celibatárias. o esquecimento é contínuo, é interessado.
o compromisso assumido com o esquecer é semelhante ao de ter um filho, tem de se cuidar para que seja esquecido, o que quer que seja, para que se conserve morrido, dia após dia após dias...

mas falava de sua dificuldade, sua dificuldade era das maiores, das inconcebíveis!, e ela sabia disso! sua ambição era o impossível! era simultaneamente afastar de si os seus atributos preferidos, e afastar também os detestados. estes últimos que secretamente constituiam os nós infinitos de sua rede de infinitas desculpas e discursos. seus pés na porta, seus absurdos... escondiam a trama íntima de suas desmedidas, também infinitas, dos seus gritos e dos seus versos bregas.

toda vez que voltava da análise olhava para uma parte diferente de sua rede/renda pessoal. quando olhamos algo em nossas mãos temos incontáveis combinações de posições que combinadas nos oferecem visões diferentes sobre o que desejamos ver. tendo dois olhos então!, multiplicamos as possibilidades! naquele dia ela escolhera usar as duas mãos próximas o suficiente do rosto para que se deformasse a concepção ordinária da renda que tinha em mãos, mas não tão próximo que interferisse na nitidez da imagem. queria certificar-se de que naquele trabalho seria a Lucidez, e seria a Proximidade que lhe mostraria a natureza do que buscava conhecer. por isso ousou usar também seus dois olhos, garantindo a Profundidade, dessa forma. e usou eles bem abertos, atenta à percepção periférica. queria que a visão do Todo pudesse inferir ao que veria compreensões inesperadas. sua decisão partia das poucas certezas que tinha certeza que tinha e que certamente eram dela, essa certeza dizia que Tudo significava, senão nada tinha sentido. óbvio que essa certeza era também um preceito antropológico, mas isso não quer dizer nada. ou melhor, o fato de ser um preceito antropológico não faz com que seja uma certeza menos dela do que era no período anterior.

talvez se por trás da renda surgisse o rosto articulado de sua mãe lhe pedindo para fritar um ovo, talvez esse rosto pudesse acrescentar alguma observação conclusiva à forma como se sentia em relação a renda. ou talvez oferecesse à renda uma fala que lhe desse a possibilidade de expressar-se por si mesma. tudo significa, ela repetia repetida...

sabia que o objeto para o qual olhava, ainda estudando cuidadosamente a distância, era o fundamento de sua falta de tato com uns, de sua grandeza de salto com outros. esses nós botavam o nariz de pé, o rabo entre as coxas. era uma parte de si inconveniente, birrenta. seus enredos eram complexíssimos, difíceis de serem acompanhados, como as teorizações de um esquizofrênico. suas insatisfações estavam todas lá, vivas, latejantes, e seus calos lhes davam alguma segurança, uma segurança de escudos e lanças, alguma segurança que ela queria esquecer.

quis parar um pouco de escrever agora...
o que preenche a marcha pelo esquecimento não consola o exílio involuntário do esquecido. tudo o que define a glória progressiva de quem esquece, passa ao largo do sentimento espesso de quem permanece esquecido.
nessa segunda parte, perceber que era a mim que esquecia,.... me tirou todas as noções, planificou todos os relevos. já não sabia se tirar-me de mim era zelo, ou era o erro como todas as minhas fantasias... não tinha conceito, nem palavra perfeita pro vazio que dentro da bravura do esquecer coexistia. só haviam frases curtas. encerradas em si mesmas. não se extendiam além do ponto. não comunicavam com as outras vizinhas. o que quer que fosse eu se desmilingüia como se dizesse "minha última esperança era que você ao menos me fizesse companhia", aquela parte de nós sempre exigindo misericórdia, aquela parte de mim conjugando em nós para se sentir menos envergonhada, aquela parte de mim que não aceitava ceder por coisa alguma, aquela alguma segurança, aquela alguma parte do espelho que precisa sempre de apoio, aquele não foi o suficiente, aquela insatisfação de nunca ser o bastante, e de estar sempre ensaiando performances mais brilhantes, arrancar mais palmas, lugar de barulho, de debates mentais intermináveis.

aquele encarceramento de alma.
aquele falso controle.

queria ver-me na abrangência do Nada, no espírito que colhe livremente seus pecados, sem se importar realmente com quais são eles, e quem poderia ser o possível interessado. a beleza do que me esperava era poder, como meus olhos, como meus olhos combinados com minhas mãos, como meus olhos combinados com a clareza de minha intenção, aprender a usar toda essa articulação sem automatismos. buscar o meu fundo, o meu oco, o erógeno no puroingênuoilibado, ser o livre ato em execução, sentir o êxtase espiritual de um palavrão bem pronunciado, isso tudo só se podia ser sem os óculos, sem os prontuários. fazer uso da consciência do ator precisava vir com a consciência do palco.
ser o salto, a corda, a planta, o arrumado, ser também o caos, o dicionário, o bem-amado, ser sujeito tudo sem se prender à roupa que veste seu predicado.

Eu sou a consciência enquanto as palavras ainda estão sendo buscadas.

domingo, 1 de maio de 2011

_Eu
o pronome me faz crescer
nao sei se foi alguma coisa que comi, me deixou enjoada
me deixou enjoada e eu só consigo pensar o enjoo é tão estranho
antes eu estava olhando Tudo, e só havia Tudo, nem meu olhar existia, meu olhar era uma porta direta pra Tudo
Tudo era muito grande, e nesse ponto eu não era ninguém. nem um ponto. _Eu não existia. entre E e U tinha um mundo inexplorado. um mundo que não tinha palavras. entre E e Tudo não havia nada.
só que eu comi essa coisa que eu não sei o que foi e fiquei enjoada, e então só havia eu. tudo junto. tudo grudado, tudo tão junto que eu não conseguia nem respirar ali.
Uma atenção desconcertante ao centro de mim mesma, aquele bolo, no estômago
eu não comi bolo hoje, no entanto tinha um bolo dentro de mim, um pedaço dos grandes
e eu sentindo cada pedaço do bolo, sentindo cada pedaço de mim do meu corpo, eu e o bolo, juntos, como se fossemos um só, feitos das mesmas células, claro! - feitos da mesma única célula - assim fica melhor..como gêmeos univitelinos.
meu desconforto sumiu quando admiti a nossa hereditariedade comum, nascemos juntos, quase grudados, somos o mesmo, na verdade.
enquanto tentava me livrar dele era tão ruim... eu me sentia desesperada de um lado, com aquele enjôo escroto me assolando, ameaçando chegar mais perto de mim caso eu olhasse pra fora, ou pensasse algo errado, o enjôo quando estávamos separados era o termômetro do quanto eu estava louca pra fugir, ele me dizia quando eu estava apenas refletindo vagamente sobre o que estariam fazendo aqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha, e quando estava a ponto de bolar teorias que pudessem me fazer voar pra fora dali, do bolo, da cidade, do país!
FUGIREI! - eu gritava entre E e U, mas dessas vezes o estômago ouvia e contava pro enjôo que se comprimia ainda mais.
o enjôo se aproximava quando eu queria sair da sala de espera. ele não entendia, eu não tinha mais o que fazer ali, já tinha lido todas as revistas Caras sobre a festa de 15 anos da Sasha, os contratempos da vida agitada do Luciano Zafir, não queria mais saber daqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha e considerava aquilo algo bom, um progresso, mas ele não me ouvia! parece que sabia desde o começo do dia que não haviam aqueles, e que a vida toda seria aquela sala de espera, aquele silêncio, aquela sobriedade e aquela ignorância do que era a vida. eu achava ruim porque só tinha a sala de espera, não conhecia nada além. nem quem tinha construído ela eu sabia o nome...
mas quando adormeci na sala de espera, quando botei as mãos quentes sobre o enjôo, e adormeci nas cadeiras duras e azuis da sala de espera que era a vida, a vida que eu não conhecia me chamou pra conhecê-la. e me explicou que E e U eram juntos, apesar de que houvesse o Mundo entre eles, e que separados estavam EeU do resto do Tudo, mas que _Eu era parte do resto de Tudo não importa o que o pequeno _eu pensasse. era parte, só parecia um pouco deslocado porque tinha a vastidão de tudo dentro de si e isso faz _eu se sentir um pouco confuso, um pouco sozinho por ser único. achava que não conseguia ser único e Uno de uma vez só.
pedi um tempo pra pensar. a vida pediu que nem tentasse, que antes me jogasse na primeira emoção que estivesse vindo ao meu encontro, sem esperar nada da experiência, que entenderia logo, tudo de uma vez, de uma vez só.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

eco

eu que dizia nao saber nada de mim
agora vejo um monte de pessoas, com seus textos, um monte de pessoas com suas partes ensaiadas dentro de mim
acostumadas a mostrar o que lhes propus - eu, a voz da educação e do bem-falar, eu, vinda de fora colonizar, as terras sombrias e selvagens desse mundo inteiro escuro ermo aqui dentro de luiza, eu, eu mesmo, me contagio com o ar puro, bato palminhas, quase quebro as unhas, paro um pouco respiro, escuto
os sons naturais que aqui se permitem, aqui não tem vizinho, é estranho pisar em terra que não tem vizinho pois não precisa se medir a intensidade da pegada (a não ser a ecológica, que essa sim deve ser ponderada), mas a pegada dos pés mesmo não precisa... que diferença faz um lugar onde a gente pode gritar! porque ninguém ao lado vai ligar pra portaria pra reclamar, nem o nosso corpo vai ficar tímido de ostentar toda aquela força aquele vigor, aquela libidoenergia que é proibido e falta de cortesia, nosso corpo pode gritar, se assim ele quiser...
mas ele não quer agora. digo isto por ele, não está com/a vontade. agora estou ocupada pensando, agora estou ocupada resolvendo, resolvendo... me movendo sempre pra frente, sempre desbravando, sempre sem tempo, sempre pouco sendo, sempre muito o movimento pra frente pra frente pra frente, pra cima, subindo a montanha, sendo o esforço, eu canso mas não canso sempre, mas também não sinto a recompensa, não posso parar, tenho que subir, mas paro um pouco mesmo assim...
escuto o som limpo do ar umedecido de mata atlântica, floresta amazônica, eu sempre confundo tudo mesmo, o ar úmido... som úmido, quer dizer...
mas quando estou quase tirando meus pés do chão, estou quase esquecendo quem sou para finalmente ser, esquecida a mente, quando finalmente quase findo a linha de raciocionio que ia me fazer entender Tudo sobre mim e sobre Tudo, quando finalmente Tudo, quando finalmente, fim.

(e nada se esclareceu pra mim. e o pensamento continuou pensando. e ansiedade continuou movendo as peças, e distribuindo papéis, cuidando pra que tudo fosse perfeito, imparável, oco, e eternamente tudo isso; pra que a vida não se ocupasse de desafinar o coro, para que a liberdade não lhe questionasse os papéis e não os queimasse todos numa grande fogueira sem sentido, pra poupar o Amor de dessignificar as ilusões, pra poupar o Amor do seu brilho escarificante, para poupar o Amor do que não preciso, porque eu posso, eu posso, eu posso... tudo isso...)

domingo, 20 de março de 2011

A Grande Sacerdotisa

um vestido branco transparente
dentro uma mulher que dança
dentro de seu próprio largo evasivo aberto delírio
um vestido
explosivo ébrio de giro farto cego
desmedido Ato imanifesto não-regido
autônomo incerto vesgo não-objetivo vivo
giro desvio
sinto suor na testa no umbigo e frio
rodopio rio caio rolo desviro e não acordo nunca







(certo como as coisas que não podem ser ditas, vivo como uma coisa há muito tempo esquecida, objetivo como o mundo em seu umbigo, vadio como arquivo de professor e pasta de empresário curtido, esquivo e covarde como um cavaleiro que abre mão da armadura descobrindo e desarmando o peito que arde, irado como a fúria do vento no rosto dos namorados, terno como um terno Armani sendo passado... com cuidado, previsível como o fato de nada poder ser previsto, transparente como a palma da mão sente o corte lavando na água corrente o chicote, autônomo como um parceiro co-dependente num dia de crise, tudo é tão claro e tão frio que queima e cega, e faz a gente voltar os olhos pro outro lado...)


20/03/2011




domingo, 6 de março de 2011

Meta x Direção

"Você me acalmou com bel-ciência
Disse que a vida é ponte e não o chegar
E que pra se obter a tal da paciência
É deixar o presente respirar
Pra que pôr peso a mais na existência
Se toda pressa só faz demorar?
Você então provou com evidência
Que ter paciência é se dar, se dar"

há uma confusão quando dizem os adultos que devemos ter uma grande meta. uma meta, eles dizem. uma grande. não um sonho, não uma direção. uma meta. um começo meio e fim na vontade infinita que Deus lhe deu. uma fixação.
uma meta é um dardo no alvo. você dá um passo, ou estende o braço buscando a idéia do dardo no alvo, mantendo ela junto do seu corpo ao ponto de que vocês suam juntos. e tudo o mais é compartilhado. sua meta é tão real quanto você. quanto a sua potência. quanto um animal de estimação que você paga à prestação para ter, que você possui porque lhe aquece o coração assim crer. e isso basta.

a meta é um vetor que encontrou quem o detesse. a meta tem fim, como eu disse.
enquanto uma direção é eterna, e seu sentido pode variar, pode encontrar muros, e becos e esquinas e casas de família. isso tudo numa mesma flexa em disparada.
mas ela não acaba, e nem sequer começa em lugar algum. que tédio seria dela, ser eterna e ainda assim ter hora pra voltar.
a direção é adulta já, ora veja...

ela parte de um espaço suspenso, como digamos, o nosso Coração, a nossa Vontade, a nossa Carne, o nosso algo que aspira e transpira e não se cansa nunca. algo que seja distribuído democraticamente por todo o nosso corpo, algo que esteja simultaneamente na nossa alma; como a memória também, por exemplo, que segue viagem; uma direção pode ser concatenada pelas memórias que passaram, e uma direção pode ser sentida pelo Coração e, espontaneamente, passar a ser seguida. sem constrangimentos, sem polidez também.

a Vontade se funde com aquela direção porquanto a trajetória a satisfaz. enquanto a torna plena. a alquimia maior é que a vontade segue o caminho, sem transformar-se nele. sem perder sua Autonomia.
você é a experiência da direção, você não é a seta, nem o dardo, nem a meta, nem o alvo. você é o Intento que move os obstáculos, e transforma as paisagens com o olhar. você é um ser que plasma, e cria o tempo inteiro. você é o núcleo do átomo. as escolhas orbitam no entorno.

a direção é uma corrente de fluxo, uma temperatura. uma pergunta. ela não tem um fim em si, ninguém disse que encontrando a sua direção seu papel no mundo estará cumprido e você se sentirá satisfeito por tê-lo feito. mas você faz escolhas o tempo todo, e experimenta uma direção, cada curva, como prova o sangue nos dedos quando é pequeno
e se machuca.
você vai numa direção porque se encanta, e o encantamento é o seu estradar.


o Homem dentro de seu coração é invencível.
O objeto de sua vida é sua vida e não o objeto.
O objetivo de sua vida não é um caminho reto,
e o alvo de seu amor não é sólido e destrutível
como concreto.
Ele ama o amor, e este vem a ser
o seu trunfo discreto.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Conexão Dial-Up

"Parabéns, Fulano! Você foi desconectado!"

Logo em seguida te entregam um diploma
Dali a cinco anos cê vai encontrar todo amassado
E junto a certeza de ter algo, na vida
concretizado
mofa e perde a cor como a ilusão
do tempo passado.

Religue-se!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Cosmopolítica da Estética Estamental

Depilação nas costas, Coca na mão & Horóscopo no jornal
Ai essa luz do banheiro, deixa o meu botox tão natural!
Estiquei a mão pra pegar o papel, tirei o sutien sem querer
O implante, a cirurgia, parece que trocou o canal na cabeça
por uma antena de tevê
Agora ando na rua, nem sinto a taxa de juros esgarçar o crediário do Tal
O dinheiro do seguro saúde compra panela e avental
Meu marido reclama muito, resolvi economizá-lo, escolher bem
No mundo moderno
É perícia fun-da-men-tal:
Cinescopia, imposto ou sindicato, estou escolhendo pra ver o que fica mais barato
Não entendo muito de política, mas
Tô dando jeito em tudo, seios, mento e braço
Buço e dorso eu passo, mas 1/quartinho de nádega não vai ficar nada mal
Minha life deu um lifting, ficou tudo azul Royal
A verdade é uma mentira que eu inventei pra ficar legal
Na vida a tricotomia é a visada virilha total
na pele que não tem alergia rola com faixa e virilha artística fica
sen-sa-cio-nal
Pelo sim, pelo não, prefiro a sinestesia:
Sarney ou Não-Sarney, ficar bonita me dá mais alegria!

O Quinhão da Velhice

"Os seus conceitos já não servem mais
Pois toda teoria se desfaz
Quem sabe se mudar sua atenção
Tirar da mente e pôr no coração
Destrua tudo o que já aprendeu
Que a vida não se mede por razão
Pois já é tempo de se entregar
E dar ouvidos ao grande mistério

Se você pensa que enxerga fundo
Que todo o seu pensar é total
Tem sempre opinião pra tudo
Mas não entende esse engano fatal"


De todos os versos ordinaríssimos que a memória, em seu tempo, consumiu
do Autor Desconhecido, ou de um tal de Mv Bill,
de todos os paradigmas que a idade relativizou
de todos os preconceitos que o amor maduro abrandou
de todas as verdades que os lábios e ouvidos ousaram provar
de todas as provas factuais, dos discursos convictos e inflamados
que a maturidade irá desdenhar,
sobrou-me um parênteses (aberto:
não há crescimento se não houver rachaduras.
:se elas são largas ou fundas
se o barro secou demais na fornalha
se são poucas ou se são muitas
ranhuras:
pouco importa:
não há crescimento se não houver poda.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

carnavalnoirnaval

somos um casal de carne som e arco-iris testemunhando um mundo cinzento brincando de ser colorido

nós vivemos, e latejamos, como bits de informação mais divertidos. gifs animados. personagens de quadrinhos em live action.

a invenção de nós é carnaval
num desfile de moda noir.


12/09/2010

sábado, 22 de janeiro de 2011

Deixe que a Alma tenha a mesma idade que a idade do Céu

Sempre que lembrar (na verdade não se esqueça), sempre que puder, por Amor, AGRADEÇA!


Somos grandes, mas não somos os únicos. Dentro de nós o Universo está latente, fadado ao sucesso, batendo aqui dentro, na corrente sanguínea corrente.
Estamos vivos, pulsamos no mesmo rítmo! Vocês sabem meus irmãos, que se agradecemos abrimos as portinhas de dentro da nossa mente para perceber o que há de produtivo guiando o nosso caminho íntimo. Contente-se!
Agradece não por auto-piedade, ou por sentir-se pequeno. Mas por saber que não sendo os únicos, não estamos sozinhos mesmo.
Agradecer é despertar o que há de mais rico na evolução: reconhcer cada passo como sendo necessário pra conquista de novos passos, e novos horizontes, e inspiração!
Agradecer é glorificar a existência, e seus insondáveis caminhos de vibração. Agradecer aos encontros que formaram quem somos, e que sem eles não seríamos tanto... E não amaríamos tanto, e não daríamos o tanto que damos pra ver acontecer a realização dos nossos sonhos.
Doar-se abrir-se a magnitude da História do Tempo. Perceba-se como pauta que acompanhou tudo desde o início. Somos matéria, da matéria sutil, da mesma matéria que sufoca se não souber como manejar.
Agradecer é Alquímico!

Agradecer, tão importante quanto respirar. E essa mesma respiração diz que estamos sendo supridos o tempo todo do que precisamos.
Quanto mais agradecemos, mais o tamanho dos eventos se equalizam, mais aspectos contemplamos. Não tem valor o que não tem valor, enquanto todo o resto, tudo que há de belo, vibra.

Sintetizam os passos do homem as palavras que dizem
"Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu..."

Quanto mais despirmos de desejo, quanto mais munidos de graça,
tanto maior é o brilho de tudo, não há gordura nas lentes, as lentes estão claras
não há maldade na cabeça, ou no coração
tudo o que há flui na corrente do Bem, que sopra no nosso ouvido as rimas e os poréns
atendo-se ao centro, e não às bordas
olhando para dentro, e não para fora
nos espantamos
e vemos
não estamos em lugar nenhum do espaço
somos feitos do mesmo vácuo
que as naves e que os pássaros


Quando vir uma foto do Céu
saiba que percebê-lo é integrá-lo à Sua divina essência,
o Céu faz parte da sua história como Alma
e essa vida, uma breve, breve passagem...

Cosmos Somos

como cada coisa cabe dentro de outra perfeitamente
como cada coisa perde a feição quando se funde com tudo
como cada objeto pontiagudo tem duas faces,
uma pra.fora, e uma pro.fundo
como cada coisa recebe o tanto que dá
e recebe tanto mais quanto mais esvazia o recipiente
como cada nota elo
cabe em uma cadência corrente

como cada coisa dita se propõe a um efeito
como cada coisa explícita é medida do que está oculto
como cada culto diz sobre todos os cultos
e como todas as discussões falam sobre a Verdade
e como a verdade mais íntima dos seres é a simples-vacuidade

como cada coisa se completa e se esvai no momento em que nasce

JÁ Consumidos & JÁ Consumados

Quem sou eu