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quarta-feira, 15 de junho de 2011

notas de brincar de notas

tecendo notas em pleno fim dos tempos. teço notas como quem vivencia um cântico ancestral. descubro meu espaço sagrado quando estou tomando notas. vivo minha hora de poder. antigamente a incoerência do fim de tempos me assustaria e entupiria todos os meus sentidos e eu ficaria estática. a voz da sobriedade que se crê razoável assim me diria, o disparate, a infâmia do fato. jornalistaria vivendo essa cena, enfarpada e elétrica.
mas continuo tecendo notas. a vibrar o fim do mundo. isso é quem eu sou agora. tecendo como cada pensamento fosse um fio.
como a sensação também é o fio (da colcha e da navalha) e o ar e o som discreto que faz o ar dando sentido ao fio, animando a mão que tece fios como notas - essa relação ninguém escuta,
e como tudo vem desse mundo invisível antes de ser som e fio, pensamento e palavra escrita ou falada...

tecer notas está me transformando. já não são mais notificações, isso que registro e imprimo na minha pele - papel mais que perene - já não é estatística pura. não é fenomenologia da impressão. não é número impresso no boletim. não é o ridículo tentando professar o infinito. não modela o barro previsível. também não quer espiar dois dedinhos no futuro.
são notas de cheiros, notas de luzes, de presente, feixes brechas e objetos, refletores, vidros, espelhos e estrobos. são imagens antes de serem imagens.

as notas que tomo estão me transfigurando. entorno um balde de histórias sobre meu crânio e do seu interior oco e vascularizado se arvoram caules com flores na ponta, folhas no comprimento. e as notas são o cheiro que inalo dessas flores. o que elas me dão sem saber. minhas notas não são mais cacos, sua emanação não tem poderes de reconstruir a idade de um rosto.
são notas de piano. anedotas de bêbado. passagens grandiosas da bíblia, talvez até um discurso exaltado de crente. não são páginas derrotadas de dicionário, embora que todo poeta dele se farte as vezes, pra sua arte.
são notas que são VÍRGULA mas não são tão, que não foram mesmo feitas pra ser. não nasceram, mas existem, e não tem muito a contar de si mesmas.
pedem olhar vivo olhar crédulo de criança, pernas fortes, joelhos bixados. não contam estórias, é, mas cantam caladas, e se silenciarmos os sinos e a ansiedade, podemos ouvi-las larilarár. é bonito o que dizem sem dizer.
são surdas e seu mundo interior é rico dos sons impossíveis. chegar e morar onde vivem as notas me faz respirar melhor.
cantarolar já tem outro significado, e eu já não sou mais a mesma.
isso é quem eu sou, por ora.

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