quando o ar toma o corpo e o corpo toma o ar
num vôo (em tom noir)
o corpo toma o ar pra si
na caneca, toma de canudinho
ele toma chá de ar e de pedra
de carbono, do que é feito sua santa matéria
da caneca evaporam fios de ouro que sopram na chama
dourada da vela
o vento o calor carrega
chega abafado no crânio nu do velho, na sua lustrosa careca
sopra palavras de luz e de trevas que na arte são ferramentas gêmeas
o calor leva as idéias todas para iluminar a noite no barraco da favela
chora a chuva,
se esfacela
e o corpo toma a chuva em um berrante
pingo-com-pingo
onde chuva rima com ternura
e com acolhimento,
e chocalho com índio
rima conterrâneo
rima com a terra: barro e gerânio
chuva rima com o choro do povo
precipita como palpitassangue no coração de toda Mãe
o ar entrando, enquanto, toma um pouco a sua consciência
ar retém no corpo
olhar pra dentro, gruta
um alento
raro
essa pena de pássaro são duas-pernas
seu poder é o sonho da cobra
o salto é
um vôo, o corpo no espaço, pluma
pula! e ali vive solto eterno, sem gravidade sem lei
o ato cego vôa porque
está vivo de outros sentidos
a alma lhe perfurou olhos para que pudesse sentir o abismo
palmilhado pelos seus pés
- para que visse o perfume da tarde,
e soubesse as cores do frio
o sopro mora comigo. o sopro divino habito. o sopro é o hálito de tudo o que é vivo.
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