...No princípio era o Verbo...

domingo, 6 de março de 2011

Meta x Direção

"Você me acalmou com bel-ciência
Disse que a vida é ponte e não o chegar
E que pra se obter a tal da paciência
É deixar o presente respirar
Pra que pôr peso a mais na existência
Se toda pressa só faz demorar?
Você então provou com evidência
Que ter paciência é se dar, se dar"

há uma confusão quando dizem os adultos que devemos ter uma grande meta. uma meta, eles dizem. uma grande. não um sonho, não uma direção. uma meta. um começo meio e fim na vontade infinita que Deus lhe deu. uma fixação.
uma meta é um dardo no alvo. você dá um passo, ou estende o braço buscando a idéia do dardo no alvo, mantendo ela junto do seu corpo ao ponto de que vocês suam juntos. e tudo o mais é compartilhado. sua meta é tão real quanto você. quanto a sua potência. quanto um animal de estimação que você paga à prestação para ter, que você possui porque lhe aquece o coração assim crer. e isso basta.

a meta é um vetor que encontrou quem o detesse. a meta tem fim, como eu disse.
enquanto uma direção é eterna, e seu sentido pode variar, pode encontrar muros, e becos e esquinas e casas de família. isso tudo numa mesma flexa em disparada.
mas ela não acaba, e nem sequer começa em lugar algum. que tédio seria dela, ser eterna e ainda assim ter hora pra voltar.
a direção é adulta já, ora veja...

ela parte de um espaço suspenso, como digamos, o nosso Coração, a nossa Vontade, a nossa Carne, o nosso algo que aspira e transpira e não se cansa nunca. algo que seja distribuído democraticamente por todo o nosso corpo, algo que esteja simultaneamente na nossa alma; como a memória também, por exemplo, que segue viagem; uma direção pode ser concatenada pelas memórias que passaram, e uma direção pode ser sentida pelo Coração e, espontaneamente, passar a ser seguida. sem constrangimentos, sem polidez também.

a Vontade se funde com aquela direção porquanto a trajetória a satisfaz. enquanto a torna plena. a alquimia maior é que a vontade segue o caminho, sem transformar-se nele. sem perder sua Autonomia.
você é a experiência da direção, você não é a seta, nem o dardo, nem a meta, nem o alvo. você é o Intento que move os obstáculos, e transforma as paisagens com o olhar. você é um ser que plasma, e cria o tempo inteiro. você é o núcleo do átomo. as escolhas orbitam no entorno.

a direção é uma corrente de fluxo, uma temperatura. uma pergunta. ela não tem um fim em si, ninguém disse que encontrando a sua direção seu papel no mundo estará cumprido e você se sentirá satisfeito por tê-lo feito. mas você faz escolhas o tempo todo, e experimenta uma direção, cada curva, como prova o sangue nos dedos quando é pequeno
e se machuca.
você vai numa direção porque se encanta, e o encantamento é o seu estradar.


o Homem dentro de seu coração é invencível.
O objeto de sua vida é sua vida e não o objeto.
O objetivo de sua vida não é um caminho reto,
e o alvo de seu amor não é sólido e destrutível
como concreto.
Ele ama o amor, e este vem a ser
o seu trunfo discreto.

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