...No princípio era o Verbo...

domingo, 1 de maio de 2011

_Eu
o pronome me faz crescer
nao sei se foi alguma coisa que comi, me deixou enjoada
me deixou enjoada e eu só consigo pensar o enjoo é tão estranho
antes eu estava olhando Tudo, e só havia Tudo, nem meu olhar existia, meu olhar era uma porta direta pra Tudo
Tudo era muito grande, e nesse ponto eu não era ninguém. nem um ponto. _Eu não existia. entre E e U tinha um mundo inexplorado. um mundo que não tinha palavras. entre E e Tudo não havia nada.
só que eu comi essa coisa que eu não sei o que foi e fiquei enjoada, e então só havia eu. tudo junto. tudo grudado, tudo tão junto que eu não conseguia nem respirar ali.
Uma atenção desconcertante ao centro de mim mesma, aquele bolo, no estômago
eu não comi bolo hoje, no entanto tinha um bolo dentro de mim, um pedaço dos grandes
e eu sentindo cada pedaço do bolo, sentindo cada pedaço de mim do meu corpo, eu e o bolo, juntos, como se fossemos um só, feitos das mesmas células, claro! - feitos da mesma única célula - assim fica melhor..como gêmeos univitelinos.
meu desconforto sumiu quando admiti a nossa hereditariedade comum, nascemos juntos, quase grudados, somos o mesmo, na verdade.
enquanto tentava me livrar dele era tão ruim... eu me sentia desesperada de um lado, com aquele enjôo escroto me assolando, ameaçando chegar mais perto de mim caso eu olhasse pra fora, ou pensasse algo errado, o enjôo quando estávamos separados era o termômetro do quanto eu estava louca pra fugir, ele me dizia quando eu estava apenas refletindo vagamente sobre o que estariam fazendo aqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha, e quando estava a ponto de bolar teorias que pudessem me fazer voar pra fora dali, do bolo, da cidade, do país!
FUGIREI! - eu gritava entre E e U, mas dessas vezes o estômago ouvia e contava pro enjôo que se comprimia ainda mais.
o enjôo se aproximava quando eu queria sair da sala de espera. ele não entendia, eu não tinha mais o que fazer ali, já tinha lido todas as revistas Caras sobre a festa de 15 anos da Sasha, os contratempos da vida agitada do Luciano Zafir, não queria mais saber daqueles-que-não-tinham-enjôos-como-eu-tinha e considerava aquilo algo bom, um progresso, mas ele não me ouvia! parece que sabia desde o começo do dia que não haviam aqueles, e que a vida toda seria aquela sala de espera, aquele silêncio, aquela sobriedade e aquela ignorância do que era a vida. eu achava ruim porque só tinha a sala de espera, não conhecia nada além. nem quem tinha construído ela eu sabia o nome...
mas quando adormeci na sala de espera, quando botei as mãos quentes sobre o enjôo, e adormeci nas cadeiras duras e azuis da sala de espera que era a vida, a vida que eu não conhecia me chamou pra conhecê-la. e me explicou que E e U eram juntos, apesar de que houvesse o Mundo entre eles, e que separados estavam EeU do resto do Tudo, mas que _Eu era parte do resto de Tudo não importa o que o pequeno _eu pensasse. era parte, só parecia um pouco deslocado porque tinha a vastidão de tudo dentro de si e isso faz _eu se sentir um pouco confuso, um pouco sozinho por ser único. achava que não conseguia ser único e Uno de uma vez só.
pedi um tempo pra pensar. a vida pediu que nem tentasse, que antes me jogasse na primeira emoção que estivesse vindo ao meu encontro, sem esperar nada da experiência, que entenderia logo, tudo de uma vez, de uma vez só.

Um comentário:

  1. o enjoo vem da diferença entre o que eu sou e o que eu acho que deveria ser. shaman tag: #Grande Espelho de Fumaça.

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