...No princípio era o Verbo...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Coroa com Flores

Das coisas que vi e vivi, soube algumas indecifráveis...
Como subir no telhado sem deslizar e quebrar o teto de alguém pra fumar um cigarro,
como descer a escada de madeira encerada de meias e mãos ocupadas,
como gostar de gripe e gostar mais ainda do suor de febre, debaixo das cobertas, porque estou segura. Como se sentir mais em casa fora dela do que nela, com uma família que descobri também ser minha.
Como o número 7 some da porta de alguém e pára na grama do jardim da frente. Como viver sem perguntar se isso de viver é bom, como dizer coisas sem pensar se a idéia é realmente engraçada. Como fazer graça sem querer, e tomar banho de mangueira de primeira!, e o horário ideal para que a mágica aconteça. Como fazer um cabelo ruim virar bom na água de cachoeira, nem te conto...

Soube exatamente como digitar no laptop com um coelho roendo meu dedo e arranhando a pele da minha virilha, como assistir Video Show sem ter uma pontada de dor, ou de alergia. Soube como manter o olhar limpo sobre as coisas, sobre mim, e sobre o olhar pejorativo das pessoas na rua.
Como me manter no centro calmo de mim.
Soube como caminhar reto numa rua de árvores de flores de cores mais vivas sem tropeçar ou deixar escapar qualquer tipo de som. Soube a beleza silenciosa da da quietude de quem observa
os sabiás fazerem festa no quintár. Só pra mim.
Soube ser só-pra-mim quando estava sendo simultaneamente também para-outros.
Soube ser sabiá, levantar vôo e ir roubar comida do pote do lobo; soube ser bezouro e levar o pólen pras florzinhas do maracujá. Aprendi a saber que o verbo Amar tem em si o salmo "Amar a Deus sobre todas as coisas", e que todas as coisas, por mais que sejam muitas, são a mesma quando a gente tá no mato. Deixei, ali, de ser um ser tão drasticamente fragmentário: voltei a mim.

Voltei porque tinha cheiro de bosta de cavalo o fim da tarde,
voltei porque a lenha seca ainda queima no fogão de alguém,
voltei porque vi a vida simples acontecer, e cri, pude crer,
que não há benção maior na vida que a alquimia de simplesmente viver.

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