...No princípio era o Verbo...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

para Alguém

como pode alguém tão santo.....
alguém que mereceria as maiúsculas iniciais, que nem deus tem no meu léxico vulgar...
Alguém que não poderia nem ser desnudado reduzido a um pronome indefinido tão vago... alguém pode ser qualquer um, mas ele não é ninguém... ele não é humano, não poderia ser nada deste universo tão mundano. ele é santo!
mas se fosse santo haveria de ser homem, falar como homem, caminhar entre os homens, haveria de ser amargo como o bicho homem, e isso ele não é! ele tem o sexo ambígüo de um anjo. e se te parece sandice o que escrevo, se pareço pouco lúcida, ou muito fraca, apaixonada, saiba de antemão que não estou! não estou não! e te digo por que... não se pode se apaixonar por anjos, sabes disso. não nos apaixonamos por um rosto inumano, alienígena. não vemos beleza... não nos apaixonamos por algo que superou as emoções da carne, que superou as ilusões do ego, da diferença, alguém que enxerga o paradoxo de tudo o que é, da semente potencial de tudo o que nos cerca no mundo externo, da inexistência óbvia de um mundo externo, sabe do sono de BRAHMA, sabe que quando este piscar tudo estará acabado. como discutir com um homem destes?! como então amá-lo?! como amar um homem de quem não posso duvidar, simplesmente porque não consigo ver onde poderia ele haver de errar!?
e como pode ele que seria tão santo se fosse de carbono - da mesma matéria impura que todos nós somos - como pode ele ver beleza em algo tão pequeno,... em mim? me pergunto e logo me surpreendo com a resposta ABSURDA implícita na dúvida que me perturba!
só pode ser ele, só pode ser deus! nessa humildade tão incompreensível, de ver beleza em suas projeções, em sua criação... só pode ser!
mas esse Algúem de que falo, ah, ele jamais se projetaria nos outros, é tão auto-consciente quanto a Mãe Terra, quanto a natureza, quanto os biomas de Fernando de Noronha! ele não poderia muito menos ser um visionário, Alguém que consegue ir contra a correnteza, pois já transcendeu e tornou-se também correnteza antes mesmo do final da sentença! fundiu os seus fios úmidos de viço com a corrente, já é água em seu sangue e essência etérica, em espírito! e jamais poderia ser qualquer coisa outra! pois ele não está no tempo, é infinito, é eterno, é éter e por isso não se mede. eu não sei o que ele é, isso me destrói! isso estanca minha racionalidade, penso este homem porque não o entendo, porque não cabe no raiociocínico e porque dele tenho nervoso, tenho nojo! não o quero por perto, não quero pensar que exista algo sempre tão encoberto de serenidade irritante...! se ele está me ouvindo agora quero que saiba que entenda que eu não sou pra ele, que concebê-lo é um parto, é um saco! pois que vejo na minha castidade o beato, sacana, que maltrato os outros, a segunda vozinha na minha cabeça, eu escuto! percebo que a escuto antes de cometer um ato qualquer contra a criação! eu não quero mais ver o diabo antes de deitar minha fronte ao travesseiro, ao acordar e olhar meus olhos tristes no retrato, ao encarar meu marido ensebado, eu não quero, não quero! preciso que você morra!
e preciso muito que você não exista, antes da passagem estreita, ou que exista como pessoa direita, com defeitos, mesmo que eu não os veja. que você exista, apenas, sem efeitos especiais.

como pode esse homem-deus, deus meu, sem cara e sem forma simpatizar e paradoxalmente consciente até admirar essa máscara
imaculada
mas que não esconde Nada
por trás?


esse homem que não chove, só passeia e vaga sem enlamear seus pés nas preocupações.... eu não quero pensar que existe um só deste homem... e é por isso que me viro, que me enrolo na minha colcha de pólen, e volto a sonhar.

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