...No princípio era o Verbo...

segunda-feira, 14 de julho de 2014

moleskine

os pedaços os fiapos e os quases, os cacos contam histórias melhores

a haste de um óculos solta da armação, ilhada por zilhares de pedacinhos de vidro sem cor espatifados
cobrindo não mais que um décimo de nada da calçada
trazem a pergunta pronta, na lata: o que aconteceu aqui?
intempestiva, cruza como um relâmpago perdido em dia de céu claro, quase desapercebido
no terreno mal trabalhado das coisas que pensamos sem ter toda consciência do fato

que tipo de arrebatamento teve o homem - porque sim, a haste foi capaz de dizê-lo, mesmo sem vir com a identidade e o gênero do sujeito anexados
na sarjeta -
o homem que caminhava pela rua calma, quase desértica?
a logo da grife na lateral tenta ostentar uma certa superioridade frente aos desconfortos e à própria deficiência,
como se dissesse estar ali para embelezar os olhos diferenciados que os vestem
por estética, e não (nunca) por urgente necessidade

que fim levou o homem dos óculos gucci, enfim e então, tão mortal e suscetível a imprevistos,
tão na mão da miséria surpreendente da vida quanto um João ou um Zé de vista ruim igual
e não era porque não tinha conseguido enxergar o imprevisível vindo, rindo, prque afinal
com óculos de marca, há pouco o quê um homem possa ser privado de ver
ou não?

nem a armação ele tentou salvar. será que ele saía varado da cena imaginária? foi um soco que partiu a lente em mil pedaços? Será que correu pra fora da história e deixou os óculos e sabe-se lá o quê mais
para trás?

não são mistérios que valham a pena serem investigados, mas quem vê arte nos ocasos, no fim de festa, percebe
e toma notas
se não inteiramente precisas e valiosas, pelo menos dignas da tinta
até pq tanto a caneta de dez centavos quanto o pensamento são, os dois somados, quase 0800

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